Fechou ontem oficialmente todas as suas operações o histórico Aeroporto Internacional Tempelhof, em Berlim. Palco de uma das maiores movimentações de abastecimento de uma cidade isolada já realizadas, Tempelhof centraliza debates sobre sua demolição ou preservação como museu. Trata-se de valorizar uma história de sessenta anos.
1948. Uma Alemanha dividida entre britânicos, franceses, estadunidenses e soviéticos no pós-Segunda Guerra Mundial passa a ser o símbolo do novo conflito internacional que causará as preocupações nas décadas seguintes – a Guerra Fria. Berlim também ficou fragmentada em porções sob domínio capitalista e socialista, sendo um exemplo reduzido do estado do país – mais fortemente marcada depois da construção do Muro, em 1961. Berlim, porém, estava no meio da Alemanha Oriental.
E dependente, para se manter, da boa vontade dos soviéticos. Dentre todos os tratados de divisão, as potências capitalistas esqueceram-se de estabelecer o mais básico dos acordos: a garantia sobre as vias terrestres que ligavam a sua porção de país à sua parte da cidade. Em junho de 1948, a União Soviética tirou proveito disso. No dia 12, declarou “fechada para reparos” a auto-estrada entre Berlim Ocidental e a Alemanha Ocidental; no dia 15, interrompeu o tráfego entre os setores oeste e leste da capital; no dia 21, impediu o acesso por água; no dia 24, alegando “dificuldades técnicas”, cessou todo o tráfego ferroviário na direção da cidade ou partindo dela. Estava constituído o Bloqueio de Berlim. Isolada e inacessível pelas potências que a controlavam, Berlim Ocidental terminou o dia 25 com a confirmação de que não, não receberia fornecimento de mantimentos por parte dos soviéticos.
A cidade tinha, àquela altura, estoques de alimentos e combustível para no máximo um mês e meio. O futuro, depois do esgotamento, era incerto. Enquanto a União Soviética tentava aproveitar o desespero causado para pôr seu plano em ação, oferecendo livre acesso à Berlim Oriental aos ocidentais que temessem a fome, estadunidenses e britânicos (os franceses entrariam depois) traçavam uma estratégia absurda para não ceder o controle da cidade, utilizando a única alternativa que tinham em mãos: graças a um acordo de 1945, possuíam o direito sobre três corredores aéreos de quarenta quilômetros de largura. Seria por ar que tentariam suprir a capital em todas as suas necessidades por tempo indefinido.
As chances de sucesso eram mínimas. Havia o exemplo recente da Batalha de Stalingrado, quando as tropas alemãs precisaram que sua força aérea enviasse 300 toneladas de suprimentos por dia e raramente receberam isso. Em Berlim, esses números foram ampliados várias vezes: 5 mil toneladas diárias de alimentos, carvão e gasolina eram demandadas pela cidade. Lucius D. Clay, general estadunidense e um dos mentores da operação, dizia ser certo que, mesmo nas melhores hipóteses, os berlinenses passariam frio e fome. Como era isso ou perder a cidade, a tática desesperada foi levada a cabo.
E funcionou. O abastecimento baixíssimo das primeiras semanas, ridicularizado pelos socialistas como “fúteis tentativas americanas de manter sua insustentável posição”, cresceu com o tempo. Em setembro os aliados capitalistas já contrariavam as expectativas e conseguiam enviar a cota de mantimentos estimada a princípio. Mesmo o inverno não freou a operação: os aeroportos de Tegel e Tempelhof tiveram as suas pistas de pouso ampliadas e receberam novíssimos sistemas de radar para manter seu funcionamento em condições climáticas adversas, permitindo que as 6 mil toneladas extras de carvão por dia também chegassem à cidade. Humilhados, os soviéticos retiraram o bloqueio no primeiro minuto do dia 12 de maio de 1949. O suprimento aéreo continuou por mais três meses para criar um estoque confortável para uma eventual repetição do caso. No total, foram quase 280 mil vôos levando cerca de 2,3 milhões de toneladas de mantimentos para a população sitiada.A ponte aérea feita para sustentar Berlim é um pouco como um time da terceira divisão vencer outro da primeira. Fazer as coisas chegarem, ou vencer, é até possível. Por isso, pela Copa do Rei da Espanha, a Ponferradina fez 1-0 no Sevilla e o Real Unión de Irún derrotou o Real Madrid por 3-2, nas suas partidas de ida. O que ninguém julga provável é que a ambição de números superlativos, milhares de toneladas diárias ou uma goleada contundente, seja alcançada. Na quarta-feira, com hat-trick de Jorge Molina, o Poli Ejido fez 5-0 no Villarreal, time invicto no Campeonato Espanhol. Causou furor, conquistou adeptos instantâneos e alçou um vôo de glória que, por sua realização improvável, merecia ser, metaforicamente, a última aterrissagem no agora inativo Tempelhof.
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