
Roth armou um time com três zagueiros e seis homens na linha de meio de campo. Disposto a resistir à pressão. Em quatro segundos, sua equipe atingiu o ápice da incompetência futebolística, iniciando o ato de levar um gol numa saída de bola que é sua, ao errar um passe pouco atrás do meio de campo. Dez segundos depois, Wagner já havia superado o cada-dia-mais-lento-e-pesado zagueiro Léo e fuzilado o arqueiro Victor para fazer um a zero em favor do Cruzeiro (foto). Aí todo o planejamento ruiu. Os gaúchos precisavam, então, buscar o resultado e só tinham um atacante em campo. A falta de um companheiro para Reinaldo foi das maiores dificuldades para o Grêmio na primeira meia hora de confronto.
Mas não foi a única. Depois entrou Perea, no lugar do eternamente lesionado Pereira, e a incapacidade ofensiva tricolor permaneceu. Não era que a equipe jogasse mal. Até havia decência no futebol apresentado sobre o gramado do Mineirão, e a meta cruzeirense vezporoutra era posta sob ameaças. A pelota voava por todos os lados à frente do gol, e esse era o verdadeiro problema do Grêmio: chutes diretos inexistiam. Quem perdoa, no futebol, não costuma ser perdoado. Ontem foi assim com o Atlético Paranaense, que dominou boa parte da sua partida em São Januário contra o Vasco e cedeu um empate por 2-2 com gol aos 89 minutos, e anteontem foi da mesma forma com o time gaúcho contra o Cruzeiro. Suas pressõezinhas incertas e seu jogo falsamente aceitável foram soterrados por mais dois tentos. Jonathan, aos 53 minutos, sem ângulo, e Guilherme, aos 66, numa grotesca falha da marcação gremista, que deixou o atacante cair, levantar, dominar, virar e chutar, sempre livre, fizeram do triunfo necessário uma goleada de consagração.
O três a zero terminou como outro capítulo da lástima em que se transformou o Grêmio. Especialmente fora de casa, onde tem lembrado o time de Mano, em 2007, que entrava em campo já derrotado em cada partida longe do Olímpico. No primeiro turno, quando chegou ao topo inquestionavelmente, o sucesso tricolor era devido muito às constantes vitórias fora de Porto Alegre. No returno, o time não venceu nem uma partida no exterior. Vem há tempos cambaleando na sua primeira posição – “ainda somos líderes” –, e volta a ser ameaçado com grande seriedade por um concorrente. Tantos tropeços escrevem uma história cujo fim foi o fracasso certo, na maioria dos casos semelhantes. Afeito ao drama, porém, o Grêmio parece querer o desastre grande, a desilusão mais dolorosa e tardia, e continua em primeiro a seis rodadas do fim. Assim, garante que, se entregar, como dá indícios, só o fará na antevéspera da última rodada.

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