sábado, 4 de outubro de 2008

Domínio brargentino

Quando se lembra dos anos gloriosos dos clubes uruguaios, do Peñarol pentacampeão da América e do Nacional tri, costuma-se cometer o erro de dizer que naqueles tempos o domínio de brasileiros e argentinos na Libertadores (e, por conseqüência, no futebol sul-americano) era menor. Não era. Entre 1960 e 1988, anos em que o Uruguai ganhava títulos, 20 das 29 Libertadores disputadas, um 69%, foram conquistadas por Brasil ou Argentina. Desde então, mudaram as outras forças, mas permaneceram os representantes dos dois países como os mais fortes do continente: sem títulos uruguaios, conquistas do Paraguai, Colômbia, Chile e, em 2008, Equador, mantiveram a velha proporção – das 20 Libertadores jogadas a partir de 1989, 14 terminaram em mãos brasileiras ou argentinas; porcentagem de 70%, praticamente igual à antiga.

Não foi equilíbrio que perdemos com o ocaso oriental. Foram símbolos. Excetuando-se apenas o Olimpia paraguaio, um constante com títulos em épocas muito distintas (1979, 1990 e 2002), nenhum dos vencedores não-argentinos-nem-brasileiros-nem-uruguaios do maior troféu continental repetiu a façanha – e a maioria sequer chegou a outras finais (foge à regra o Atlético Nacional de Medellín, campeão em 1989 e vice em 1995). Os uruguaios davam uma noção de potência e, desse modo, transmitiam um sentimento de temor, que Ligas de Quito, Once Caldas ou mesmo grifes maiores como os Colo Colos da vida não são capazes. Apesar desse importante fator anímico, os times de Montevidéu nunca deram ao continente como um todo uma maior importância quantitativa que a atual em relação aos clubes brasileiros e argentinos.Esse estágio superior em que se encontram as equipes dos dois países causa estranheza em torneios como a Copa Sul-Americana que, afogados no desprezo geral, acabam revelando algumas zebras – Cienciano campeão em 2003 e Bolívar (céus!) vice em 2004 são os exemplos mais vivos. Em 2008, por coincidência (ou não) na mesma temporada em que a Libertadores teve um inédito equatoriano como campeão, os times de Brasil e Argentina deram à concorrência internacional um fim patético na competição do segundo semestre: dos oito classificados às quartas-de-final da Sul-Americana, sete vêm do Campeonato Argentino (Argentinos Juniors, Boca Juniors, Estudiantes e River Plate) ou da nossa Série A (Botafogo, Inter e Palmeiras). E a oitava é mexicana (Guadalajara)...

À primeira vista, pode-se dizer que é lamentável a fraqueza técnica do resto da América do Sul, especialmente por brasileiros e argentinos escalarem, muitas vezes, reservas, e nem assim serem derrotados. A total inexistência de equipes das outras nações no que falta a ser disputado do certame depõe a favor dessa análise superficial, turvando a verdade de que a ocorrência não é diferente do velho filme de sempre - apenas mais enfática. A tendência histórica não se muda assim tão facilmente. Peñarol, Nacional e Olimpia fizeram-se enormes e decaíram com esse agora renovado pano de fundo brargentino intacto.

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