Quando o Atlético de Madrid foi a Valencia enfrentar o Espanyol na final da Copa do Rei de 1999/2000, sabia estar diante daquela que seria, provavelmente, sua última oportunidade de conquistar um título nacional importante pelos longos próximos anos. Uma semana antes daquele dia 27 de maio, disputara-se a última rodada da Liga espanhola – a última jornada colchonera como equipe da primeira divisão. Em 19º lugar, com miseráveis nove vitórias em trinta e oito jogos, o Atlético foi condenado a perder a categoria. Havia desespero para amenizar o drama naquele 27 de maio. Mas só veio outra derrota. Tamudo aos 2, Sergio aos 85, com Hasselbaink a descontar nos acréscimos, assim foi o 2-1 do título do Espanyol.
Não seriam mais belos os anos seguintes, os de abertura da primeira década do século vinteum. Em 2000/01, o Atlético encerrou a segundona atrás do Sevilla e do Betis, empatado em 74 pontos com o Tenerife na briga pela última vaga de acesso. Igualou-se também no primeiro critério de desempate, o confronto direto (derrota por 1-2 em casa, vitória pelo mesmo placar fora), sendo definitivamente superado no saldo de gols – o dos madrilenhos era de 20, o do Tenerife, de 26. Mais um ano de agonia para ser encerrado sem qualquer destaque: por fins de 2001/02, o alívio dado pelo título da Segunda coincidia com o desânimo causado pelas glórias do rival Real Madrid que, no ano de seu centenário, enfileirou as taças da Champions League, da Supercopa da Europa e, em dezembro, do Mundial de Clubes.
O resto da década manteve o mesmo passo. O Atlético, depois daquele 27 de maio de 2000, nunca mais chegou perto de taça alguma (além da Copa Intertoto...) e, embora assistisse à diminuição do ritmo de conquistas dos oponentes citadinos, ainda tinha que aturar, voltemeia, a torcida merengue indo à Cibeles. Aos colchoneros sobrou apenas vibrar por jogadores, como Fernando Torres e Kun Agüero, nunca por resultados. Nem nos derbies houve oportunidade de desforra: conta-se, hoje, uma série de treze partidas de invencibilidade favorável ao Real Madrid, que não é derrotado num clássico da capital espanhola desde 30 de outubro de 1999.
Como o Brasil, o Atlético em reconstrução está ligado à idéia de que dará certo no futuro. Por tudo isso os últimos dias têm sido tão importantes. O silêncio da frustração vem sendo pouco a pouco substituído. Tardes e noites de emoção e leves acalentos por sonhos copeiros ou ligueiros tomam conta da parte comanche da Espanha. A temporada mal começou, a Liga nacional teve uma única rodada e as taças continentais sequer tiveram jornadas além das preliminares, porém os dois jogos disputados no espaço da última semana já garantiram esses dias como os mais dourados (até o momento) de toda a década do Atleti:
Quarta-feira, 27/08: perto de cinqüenta e cinco mil almas lotam o estádio Vicente Calderón. É a noite do jogo de volta contra o Schalke-04, pela terceira e última fase preliminar da Champions League. O Atlético terá que, na marra, transparecer grandeza para remontar o 1-0 sofrido em Gelsenkirchen. Na véspera, um Agüero recém-chegado das Olimpíadas de Pequim, com o ouro no peito, sentencia: el jueves seremos equipo de Champions. Na quinta, eles são. Tentos do próprio Kun, aos 18 minutos e Forlán, Luis García e Maxi, na etapa complementar, fulminam os germânicos. Quatro a zero a colocar o Atlético na maior competição do continente após doze anos.
Domingo, 31/08: em Soria, no magnificamente nomeado estádio de Los Pajaritos, o Barcelona começa a temporada sob a náusea dos fracassos últimos e cai por 1-0 para o Numancia, equipe vinda da segunda divisão. A sorte de outros favoritos não é muito diferente: o Real Madrid, que não vence o Deportivo em La Coruña desde 1991, sustentou a tradição perdendo por 2-1, e o Villarreal, vice-campeão da temporada passada, logrou somente um empate por 1-1 com o Osasuna, fora de casa.
O Atlético, diferentemente, atropelou. Esmagou o recém-ascendido Málaga com o resultado mais contundente da abertura da Liga, um 4-0 como o imposto ao Schalke, e encerrou o final de semana na liderança do campeonato – o time jamais ponteara a Liga depois da segunda rodada de quatro anos atrás.
Dois dias perfeitos numa semana de orgulho. Quem se importa que um nada do 2008/09 tenha sido disputado? Os comanches espanhóis sorriem como há tempos não faziam.
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