Desde os tempos em que o Uzbequistão fazia parte da União Soviética, o Pakhtakor é o principal clube de lá. Em 1960, o quadro de Tashkent fez sua estréia na Primeira Divisão Soviética, tornando-se o único uzbeque a jogar na elite do antigo país e, na temporada 1967/68, atingiu uma improvável decisão da Copa da URSS – a qual perdeu para o Torpedo Moscou, por 1-0 –, feito nunca igualado por qualquer outra equipe da Ásia Central.
Com a fragmentação da União Soviética, foi aberto um portal gigantesco aproximando o Pakhtakor de recordes de títulos nacionais – e o time aproveitou: no Campeonato Uzbeque e na Copa do Uzbequistão, os auri-anis lideram o ranking de títulos após a independência do país, em 1992, com oito e nove troféus, respectivamente. Antes, as ligas uzbeques eram torneios regionais jogados pelas equipes que não estivessem no sistema de ligas soviético, o que excluía o Pakhtakor e outras das principais agremiações locais.
Os primeiros anos de campeonatos independentes deram algum brilho ao Neftchi Ferghana, mas logo o domínio passou às mãos do time que veste amarelo e azul. Notavelmente após a virada do século: o Pakhtakor é simplesmente o atual hexacampeão da Liga (seqüência desde 2002) e heptacampeão da Copa do Uzbequistão (desde 2001). Orgulha-se também do título da Copa da Comunidade de Estados Independentes, taça internacional envolvendo equipes de ex-repúblicas soviéticas e iugoslavas, que os de Tashkent venceram em 2007 ao derrotar o Ventspils da Letônia numa dramática decisão por pênaltis (9-8, após 0-0 no tempo normal).
Obviamente, isso é bastante desconhecido por aqui. O leitor médio, como este redator antes de iniciar suas leituras em fontes especializadas no futebol uzbeque, não devia saber das glórias do Paxtakor (outra grafia válida para o nome do time cujo significado é coletor de algodão - o país é o sexto maior produtor da fibra no mundo) e, se ouvira algo a respeito deles, provavelmente estava relacionado à tragédia aérea de 1979, quando uma colisão de dois aviões em vôo sobre a Ucrânia matou 150 pessoas, dentre elas 17 membros da delegação centro-asiática.
Alienados, tampouco seríamos capazes de saber que o Pakhtakor não perde um jogo de campeonato desde 12 de novembro de 2006, na última rodada daquela liga: foi campeão invicto do Uzbequistão em 2007 e permanece invicto nesta temporada (após dezoito rodadas de trinta), mantendo impressionantes 48 jogos seguidos sem derrota. Diferentemente do que pode parecer, a seqüência não renderá um título fácil: acontece que, em 2005, surgiu, cheio de dinheiro e vazio de tradição, um certo Kuruvchi. Com um investimento atípico para os padrões nacionais, o time saltou da divisão regional de Tashkent para a elite num período curtíssimo, terminando 2007 vice-campeão da Copa e da Liga e, neste ano, já lidera o campeonato. Está imbatido como o Pakhtakor, com a vantagem de ter empatado uma partida a menos: antes da rodada deste fim de semana, eram 48 pontos contra 46 (hoje os líderes venceram e chegaram a 51 unidades).
Numa prova de como o dinheiro e o marketing pesam no futebol, o Kuruvchi conseguiu nesse pequeníssimo período de glória muito mais destaque internacional que o maior clube do país: ganhou manchetes mundiais ao anunciar interesse no camaronês Eto’o e reapareceu nos noticiários segunda-feira, ao levar o ex-melhor-do-mundo Rivaldo, reforço importante para a realização do sonho de vencer a Liga dos Campeões da Ásia, oferecendo 14 milhões de dólares por dois anos de contrato. Nesse meio-tempo, até arrogante ficou, mudando o nome de Kuruvchi (construtor, em uzbeque) para Bunyodkor (criador) e alterando o escudo para convenientemente lembrar o do Barcelona. É nesse grande destaque efêmero recebido pelo Uzbequistão que reside a oportunidade de o Pakhtakor, após tantos troféus erguidos na surdina, fazer algo visto pelos olhos do mundo: botar a camisa a pesar, remontando a liga atual sobre o estrelado adversário.
Nessa missão, não poderá mais contar com os confrontos diretos: o equilíbrio da classificação foi reeditado em campo e os dois jogos entre Pakhtakor e Bunyodkor terminaram empatados em 1-1.
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A classificação atual do Campeonato Uzbeque, já com os resultados de hoje, segundo o site do Bunyodkor:
2 comentários:
Resta torcer pelo Pakhtakor, clube que eu já conhecia, mas não sabia que tinha TANTA superioridade assim historicamente, apesar de já ter visto antes sobre o Hexa...e que consiga manter sua invencibilidade, apesar de ainda estar muito longe das maiores da história em ligas, até porque a Liga Uzbeque só foi batida invicta duas vezes na história.
Que esse recorde continue!
E não é que o Rivaldo marcou dois logo de cara??
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