O turno

Um olhar míope sobre os vinte times da Série A ao final das 19 jornadas iniciais da temporada 2008.

1º Grêmio – 41 pontos
12 vitórias, 5 empates, 2 derrotas, 35 gols feitos, 12 gols sofridos

Você já jogou Hattrick? Hattrick é um jogo online de gestão de clubes de futebol, criado na Suécia há onze anos, que conta no dia de hoje com exatos 940.739 usuários espalhados por ligas em 124 países. No Brasil, existem oito divisões, com um grupo único para a primeira e, a partir dela, progressões geométricas de razão 4 (com algumas interrupções em determinados níveis), até chegar a 2048 grupos na oitava – cada chave tem oito equipes. Meu time, popularmente chamado de Futebolístico, joga no grupo 401 da sexta divisão, e tem no seu elenco jogadores de qualidade apenas mediana. Após metade da temporada, no entanto, brigava ponto a ponto pela liderança com dois oponentes mais fortes. Chegou lá graças a um bom planejamento de treinos e táticas.
O Campeonato Brasileiro real é bem maior que a VI.401 do Hattrick e a disparidade técnica entre as equipes também supera a do jogo. Mas o que acontece com o meu Futebolístico e com o Grêmio é parecido: times entrando para fazer campanhas dentro de um nível de decência (o tricolor gaúcho começou imaginando a busca de vaga na Copa Sul-Americana como meta sensata, talvez almejando uma luta pela Libertadores se tudo desse certo), que agora tentam ir além, tentam o título, porque conseguiram se encaixar, porque tiveram seu trabalho bem feito e, claro, porque contaram com doses indispensáveis de sorte. E o Grêmio, melhor que o Futebolístico que tem pontuação igual à da concorrência, chegou ao final do turno mantendo cinco pontos de vantagem sobre o segundo colocado. Tem números impressionantes, do maior aproveitamento da história num primeiro turno ao maior número de faltas cometidas entre todos os vinte da Série A, passando pelos melhores ataque, defesa, maior número de vitórias e menor de derrotas. É um fenômeno, esse Grêmio, e continua surpreendendo. Resta descobrir se o prazo de validade expira antes do fim da competição.

2º Cruzeiro – 36
11 vitórias, 3 empates, 5 derrotas, 32 gols feitos, 19 gols sofridos

Campeão mineiro com os memoráveis 5-0 sobre o rival Atlético na final e de boa campanha na Libertadores – o consenso sempre foi de que poderia ter ido muito longe se não houvesse um Boca Juniors pelo caminho –, o Cruzeiro esteve, desde o princípio, cotado para as posições do topo – e, desde o princípio, esteve nas posições do topo.
Nas cinco primeiras rodadas, venceu quatro jogos e empatou um, levando apenas um gol, numa série quebrada em traumática derrota por 5-2 para o Palmeiras – os tropeços contra São Paulo (empate em casa) e Grêmio (derrota fora), outros dos concorrentes ao título, além de fracassos contra equipes sem grandes aspirações (derrota para o Sport fora) ou simplesmente fracas (empate com o Ipatinga, derrota para o Goiás...), foram determinantes para impedir que aquela sensacional campanha desenhada no início culminasse em liderança ao final do turno. O Cruzeiro vai bem, é o segundo time com mais vitórias até aqui, mas parece lhe faltar uma atuação e um placar daqueles que provocam terremoto emocional entre os adversários.

3º Palmeiras – 34
10 vitórias, 4 empates, 5 derrotas, 32 gols feitos, 21 gols sofridos

Elenco mais caro do Brasileirão 2008, o Palmeiras não conseguiu decolar à primeira posição por um simples motivo: fortíssimo dentro de casa, é facilmente batido longe dela. Num campeonato desses, quem briga pelo título fatalmente faz a maioria dos pontos em seu próprio estádio, de modo que a disputa pende para o lado de quem vence mais fora – aí está o Grêmio, com cinco triunfos e dois empates em nove jogos como visitante, para provar. Pois o Palmeiras, em nove rodadas disputadas em casa, venceu oito jogos e empatou um. Fora... venceu dois em dez, perdendo metade desses confrontos longe do Palestra Itália – suas cinco derrotas na competição. Uma instabilidade que não o impede de brigar por uma das vagas na Libertadores mas que, se mantida, o banirá, sim, da luta pelo troféu.

4º São Paulo – 33
9 vitórias, 6 empates, 4 derrotas, 33 gols feitos, 21 gols sofridos

O São Paulo demorou para entrar no Campeonato Brasileiro, priorizou a Libertadores, e isso custou grande parte da sua corrida para tentar um inédito tricampeonato nacional consecutivo. O time não venceu nas quatro primeiras rodadas – quando enfim acordou, na quinta, meteu 5-1 no Atlético Mineiro, e começou uma reação que ainda teve tropeços, como o empate em casa com o Ipatinga. Mesmo assim, a constância de outros anos se manteve, o tricolor não foi superado facilmente (é o segundo clube que menos perdeu neste campeonato) e pôde ver seu nome entre os quatro primeiros ao fim do turno. O título? Ainda é um objetivo distante, e a abertura do segundo turno será decisiva para entender se ele ainda poderá vir – o São Paulo vai a Porto Alegre enfrentar o Grêmio.

5º Vitória – 32
10 vitórias, 2 empates, 7 derrotas, 30 gols feitos, 21 gols sofridos

Se a campanha do Grêmio impressiona pela liderança, a campanha do Vitória impressiona por ser o Vitória. Não que o rubro-negro baiano seja pouco tradicional ou não possa estar naturalmente aí, mas jamais seria cogitado que, ao final das dezenove primeiras rodadas, um time vindo da Série B (e com a última vaga de acesso!) pudesse estar com a cabeça voltada para uma ida à Libertadores da América – e não para tentar evitar novo descenso. A inconstância do time (dos oito primeiros colocados, foi o que mais vezes perdeu) é o maior empecilho para ter uma vida mais amena na busca pelo G4 e a causa de grandes questionamentos sobre suas reais capacidades – os 5-0 aplicados no Vasco da Gama, na última rodada do primeiro turno, calaram, por ora, as vozes secadoras.

6º Coritiba – 32
9 vitórias, 5 empates, 5 derrotas, 29 gols feitos, 19 gols sofridos

Também vindo da Série B, só que como campeão, o Coritiba não causou tanto furor quanto o Vitória, embora tenha a mesma pontuação – e não foi por ter subido em melhores condições que o time de Salvador. O que impediu maiores destaques para os paranaenses foi a sua longa estadia nas posições mediano-baixas da tabela, longe do G4 libertador. Sempre vista como promissora, capaz de brigar por coisas maiores, a equipe do Coxa sofreu com seqüências difíceis que a impediram de ir mais longe no início do campeonato – uma realidade modificada com as três vitórias obtidas nas três últimas rodadas do turno, duas delas fora de casa, que confirmaram a diferença de um mísero ponto em relação ao São Paulo.

7º Flamengo – 31
9 vitórias, 4 empates, 6 derrotas, 30 gols feitos, 19 gols sofridos

Somente dois pontos atrás da zona da Libertadores está o Flamengo. Mas ouve vaias por isso. Nada mais justo para um time que esteve liderando o campeonato, mantendo bons resultados e superando crises, e entrou numa série decadente tão braba que o deixou nesse medíocre sétimo lugar de hoje. Depois dos 3-1 feitos sobre o Vasco, em 13 de julho, no clássico local, o Fla enfileirou resultados terríveis, com sete rodadas consecutivas sem vencer. Quebrou o jejum na rodada passada, a última, no magérrimo 1-0 sobre o fraco Atlético Paranaense. Perdeu tempo demais até se reencontrar com os triunfos, e precisará fazer uma série da mesma magnitude, porém positiva, para voltar ao topo. Marcelinho Paraíba é o trunfo do segundo turno.

8º Botafogo – 31
9 vitórias, 4 empates, 6 derrotas, 29 gols feitos, 19 gols sofridos

Caminho inverso ao do Flamengo. O Botafogo iniciou o campeonato sem grande brilho, e demorou até a metade do primeiro turno para começar a engrenar. Ali, começou a conseguir uns empates, umas vitórias e, desde a oitava rodada, quando se igualou por 0-0 com o Fluminense, já leva doze jogos e apenas duas derrotas – para Vitória (5-2) e São Paulo (2-1), ambas fora de casa. Subiu, subiu na tabela e, quando a rodada 19 foi devidamente encerrada, via seu nome uma posição abaixo do outrora líder Fla, e com o mesmo número de pontos. Como o rival, também está apenas dois pontos atrás da zona da Libertadores – mas, diferentemente dos rubro-negros, recebe aplausos por isso.

9º Sport – 27
8 vitórias, 3 empates, 8 derrotas, 21 gols feitos, 24 gols sofridos

A história do Sport neste Campeonato Brasileiro não existe. O ano do Sport terminou na mágica noite de 11 de junho, com os 2-0 sobre o Corinthians que valeram o título da Copa do Brasil. A partir dali, o time está brincando na Série A – jamais disse que ia fazer isso, ao contrário do Fluminense na Libertadores, mas pode e merece fazer, ao contrário do Fluminense pós-Libertadores. Joga apenas pela honra e tem, a cada rodada, um novo amistoso de luxo na sua preparação para voltar às jornadas continentais em 2009. Vem fazendo seu papel dignamente, chegando até aqui na metade de cima da classificação e à frente de uns pares de clubes grandes.

10º Internacional – 26
7 vitórias, 5 empates, 7 derrotas, 21 gols feitos, 20 gols sofridos

É time para brigar pelo título, o Inter. Conhecemos essa frase. Desde 2005, invariavelmente, ela é repetida, e com razão não perdida nesta temporada. Mas o Internacional deste ano, às vésperas do centenário que sonha em coroar com glórias de Libertadores (para a qual precisa se classificar em 2008), desempenha uma campanha quase tão ruim quanto a do ano passado (encerrada no 11º lugar). O quadro colorado mostrou deficiências como visitante, nada convenientes a um postulante ao título, vencendo apenas uma vez fora de casa e, embora tenha dado uma compensada dentro do Beira-Rio, chegou ao final do primeiro turno tropeçando também às margens do Guaíba – perdeu e empatou nos dois últimos jogos em casa. Em condições normais, já estaria fora de qualquer cogitação de taça e a vaga na Libertadores seria só possibilidade remota. As estréias iminentes de Daniel Carvalho (este jogou domingo, mas foi tão pouco que, por piedade, muitos fazem de conta que não esteve em campo) e D’Alessandro, além dos feitos alvirrubros dos últimos anos, mantêm as curtas esperanças vivas.

11º Figueirense – 25
6 vitórias, 7 empates, 6 derrotas, 24 gols feitos, 35 gols sofridos

Um time médio-fraco fazendo uma campanha médio-fraca. Nada de grandioso a destacar na trajetória do Figueirense, que ocorre dentro do esperado, a não ser, negativamente, a vulnerabilidade da sua defesa, exemplificada no empate por 5-5 com a Portuguesa (1ª rodada), e nas derrotas por 0-4 para o Vitória (3ª), 0-5 para o Flamengo (5ª) e 1-7 para o Grêmio (14ª).

12º Atlético Mineiro – 24
6 vitórias, 6 empates, 7 derrotas, 25 gols feitos, 37 gols sofridos

Falam os supersticiosos sobre uma maldição do centenário. Dizem que clubes vivem temporadas terríveis quando fazem 100 anos e a alegria da festa é substituída por raiva e desespero trazidos pelos maus resultados. Apenas superstição, e o Vasco campeão da Libertadores no centenário, em 1998, é um exemplo nacional disso, mas vá convencer os atleticanos que tal maldição não existe. Nada de bom pode ser tirado da temporada do Atlético até aqui e, depois dos 5-0 sofridos para o Cruzeiro no clássico decisivo do estadual, muitas outras goleadas também vieram pelo Campeonato Brasileiro: 5-1 para o São Paulo (5ª rodada), 4-0 para o Botafogo (14ª), 6-1 para o Vasco (16ª) e 0-4 para o Grêmio, em casa, na última. Felizmente para seus aficionados, o Galo pôde encerrar o turno com algumas posições de distância para a real ameaça de rebaixamento.

13º Goiás – 23
6 vitórias, 5 empates, 8 derrotas, 23 gols feitos, 28 gols sofridos

No ano passado, a salvação esmeraldina do rebaixamento veio na última rodada. Espera-se um filme diferente em 2008 e a posição alcançada ao término do primeiro turno dá alguma esperança de maiores tranqüilidades. O temor, entretanto, ainda é real e os quatro pontos que o time leva de vantagem sobre o primeiro na zona da morte podem ser facilmente revertidos. Por ora, ainda que esteja à beira da última vaga da Copa Sul-Americana, o quadro de Goiânia deve tentar fugir o mais rápido possível da parte de baixo de classificação. Pena que, parece, a gravidade atrai.

14º Portuguesa – 22
6 vitórias, 4 empates, 9 derrotas, 26 gols feitos, 39 gols sofridos

Dos times que subiram da Série B e traziam expectativa geral de campanhas acima da zona de descenso (o Ipatinga não está entre eles, portanto), a Portuguesa é o pior. Tem um time mediano, poderia ir um pouco mais acima, mas a fraqueza acaba pesando na hora do resultado final. Os lusitanos têm uma instabilidade que fica mais evidente ao se analisar os adversários: enquanto o time ostenta bons resultados contra adversários fortes como Palmeiras (com o qual empatou por 1-1), Inter (venceu por 3-1) e Cruzeiro (triunfo por 2-1 no fim de semana), também lembra das goleadas sofridas para os fracos Ipatinga (4-1) e Goiás (4-0).

15º Náutico – 21
6 vitórias, 3 empates, 10 derrotas, 20 gols feitos, 29 gols sofridos

Triste, a decadência do Timbu. Os pernambucanos iniciaram o campeonato na liderança, perderam apenas um jogo nas sete primeiras rodadas, e tinham algum sonho de ir à Libertadores. Mas aí o Náutico perdeu o clássico para o Sport na jornada 11 (0-2, nos Aflitos) e desandou: iniciou ali um jejum de oito rodadas consecutivas sem vitória. Na do fim de semana, reestreou o salvador técnico Roberto Fernandes, que salvara o time do rebaixamento em 2007 e, neste, o deixou em 1º lugar, quando saiu, na segunda rodada. E os alvirrubros venceram o Santos por 1-0. Com Roberto Fernandes, há esperança de ir à América – não à Libertadores, como no início do ano, mas ao menos à Copa Sul-Americana.

16º Atlético Paranaense – 20
5 vitórias, 5 empates, 9 derrotas, 17 gols feitos, 21 gols sofridos

Hay crisis, diriam os espanhóis. O Furacão, soprando a força de brisa, venceu dois dos últimos dez jogos e decaiu dramaticamente na tabela, beirando o rebaixamento. O momento é tão ruim que o Atlético vai à estréia da Copa Sul-Americana, nesse meio de semana, com força total, contrariando a lógica brasileira de desprezo à competição, para tentar amenizar as coisas.

17º Vasco da Gama – 19
5 vitórias, 4 empates, 10 derrotas, 30 gols feitos, 39 gols sofridos

Ao lado da Portuguesa, eis a pior defesa do campeonato. Abrindo o rebaixamento, um Vasco da Gama que sofreu três goleadas nas últimas cinco rodadas (5-2 para o Santos, 4-0 para o São Paulo, 5-0 para o Vitória). Não existia grande esperança antes do início do Brasileirão para uma boa campanha do time de São Januário e, embora a chegada de Roberto Dinamite ao poder tenha trazido novos ares políticos ao clube, os resultados de campo seguiram os mesmos, ruins. Do primeiro turno vascaíno, pouco se salva, além da memória de ser, ao lado do Botafogo, um dos que derrotou o líder Grêmio: 2-1, de virada, na quarta rodada.

18º Santos – 17
4 vitórias, 5 empates, 10 derrotas, 21 gols feitos, 33 gols sofridos

Todos os jogos – dois, ambos contra os gaúchos – que eu vi do Santos neste campeonato foram terrivelmente ruins, o que não evitou uma vitória (sobre o Inter) e um empate (com o Grêmio) do Peixe. A julgar pela posição da tabela, é óbvio que jogar mal não vem dando tanto resultado como pareceu diante da Dupla e mesmo os demais confrontos ao longo da campanha evidenciam a ruindade dos da Vila Belmiro. Depois de uma década muito boa, com retornos aos títulos nacionais e às finais continentais, o Santos de 2008 relembra aqueles fracos times de algum tempo atrás, que não metiam medo em adversário algum – e tem o rebaixamento como possibilidade real.

19º Fluminense – 16
4 vitórias, 4 empates, 11 derrotas, 21 gols feitos, 29 gols sofridos

Os resultados ruins no Campeonato Brasileiro eram coisa passageira, dizíamos quase todos durante a Libertadores – quando a farra sul-americana acabar, o Flu deve entrar sério na competição e não se concebe que um finalista continental possa ser ameaçado de rebaixamento. Pois erramos. A única coisa que mudou no Fluminense do Brasileirão antes do fim da Libertadores (que, em oito rodadas, empatou três e perdeu cinco) foi a conquista de algumas vitórias pelas bandas tricolores, pois a realidade de rebaixável permaneceu. Uma derrota para o Ipatinga por 2-1, com remontada sofrida nos dez minutos finais do primeiro turno, foi a gota d’água para derrubar Renato Gaúcho, o treinador que, à beira de se tornar o primeiro brasileiro a vencer uma Libertadores como jogador e depois como técnico, ousou dizer que sua equipe não faria mais que brincar na Série A. Vem Cuca para tentar salvar o clube do quarto rebaixamento de sua história.

20º Ipatinga – 16
4 vitórias, 4 empates, 11 derrotas, 20 gols feitos, 34 gols sofridos

Rebaixado no campeonato estadual, o Ipatinga sempre foi e sempre será o candidato número um ao descenso no nacional – de preferência, na lanterna. Faz o que se espera dele. É verdade, obteve algumas derrotas honrosas, alguns empates honrosos, algumas vitórias honrosas, mas as derrotas vêm em maior número que o resto e, no fim, será tão-somente um rebaixamento honroso.