“Magnífica desolação!” A frase é de Buzz Aldrin, dita quando este se tornou o segundo homem a pisar na lua. Impressionante, porém vazio e morto, assim é o satélite natural da Terra. E também é um gramado de futebol da Europa Nórdica no período de inverno. Um campo endurecido, mal colorido por um amarelo pálido da relva castigada pelo gelo. Magnífico. Desolador. E quase impraticável.
Por isso, nos países de inverno mais rigoroso, somando alguns da Europa Oriental aos nórdicos, o calendário futebolístico é anual. A temporada não deve, sob qualquer hipótese sã, ter datas nos frios meses de dezembro a março. Há todo o resto do ano para jogar – de dezembro a março, hibernem! Com efeito, entram em sono profundo muitas ligas, clubes e jogadores dessas nações durante o período, até a bola poder voltar a rolar numa graminha verde sob um sol primaveril.
Não na Finlândia.
Por fanatismo, vontade de dar caráter oficial a jogos de pré-temporada, loucura ou um pouco de cada coisa, os finlandeses mantêm a pelota rolando nos meses glaciais. O leitor entusiasmado pensando em como são raçudos os finlandeses por encarar a neve e temperaturas de dezenas de graus negativos certamente ficaria decepcionado vendo que a maior parte das partidas é disputada dentro de ginásios, mas não deveria: apesar do pequeno detalhe, todo o resto é futebol normal. O gramado, sintético, tem dimensões oficiais para estádios, as equipes contam com onze jogadores e os clubes inscritos para os torneios são os da primeira divisão nacional, a Veikkausliiga, com seus elencos profissionais.
Uma mera extensão da temporada regular, portanto, ou, considerando as datas, uma pré-temporada que rende taça no armário, pois os jogos indoor compõem parte da Copa da Liga (Liigacup) finlandesa. Neste ano, de 25 de janeiro a 12 de abril, por diferentes ginásios às vezes fora de suas cidades (a partir das quartas-de-final, todos os confrontos foram disputados na capital Helsinque) e nos dias mais quentes em campos abertos mesmo, os catorze clubes da elite nacional vararam, primeiro em dois heptagonais, depois em mata-matas, o inverno escandinavo em jornadas futebolísticas como a do vídeo abaixo:
TPS 3-2 Haka, quartas-de-final de 2008
A edição deste ano, seguindo o que vem ocorrendo desde 2005, teve sua final no estádio Finnair, da capital, que é livre das coberturas ginasiais mas não escapa de ter grama artificial. O jogo decisivo foi um clássico entre dois times de Turku, cidade de 175 mil habitantes localizada no sudoeste finlandês: o FC Inter (ao lado, o escudo) e o TPS (sigla de Turun Palloseura), com vitória e título para os primeiros, num magro 1-0 (no topo, o time exibe a taça). Nada de muito glorioso além de vencer um derby, já que a Liigacup é vista com desprezo pelos torcedores e agremiações: o prêmio é de irrelevantes 20 mil euros e os públicos, pequenos e desinteressados, especialmente nos apertados ginásios, dão ao torneio a desolação que os sempre verdes gramados sintéticos roubariam.
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Foto: Blog Football in Finland
Post feito por uma sugestão do Josiel.
Um comentário:
Josiel não contente em atuar na Gávea colabora com o futebesteirol.
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