Há alguns meses, falamos do andar da Segunda Divisão da Espanha, da ânsia pelo retorno à elite protagonizada pelos tradicionais Sporting Gijón e Real Sociedad. Pois este fim de semana foi para a disputa da 42ª e última rodada daquele campeonato, sem muita relevância para fora daquele país, embora responsável por revelar as equipes que, no próximo ano, tentarão surpreender os conhecidos de sempre. A rodada começou com o Numancia tendo o título e acesso garantidos (fechou o campeonato com 77 pontos, após empate no sábado), Málaga e Sporting tendo 69 pontos e a Real Sociedad atrás, como em março, no quarto lugar, com 67 unidades. O empate do time de San Sebastián somado às vitórias dos concorrentes diretos condenou o quadro donostiarra a mais um ano na liga inferior. Também tirou o foco da briga pelo acesso, que destacamos no outro post. As atenções hoje são para a partida disputada em Alicante.
Por lá, o Hércules, honrado 6º colocado, sem chances de acesso, recebia um Cádiz ameaçado de rebaixamento, a quem os resultados paralelos obrigariam a vitória. Cair para a terceira divisão, nomeada Segunda B, seria uma tragédia – se a segundona é um longo caminho para voltar aos dias de brilho, o que dizer de uma divisão abaixo, que tem quatro grupos de 20 equipes e, depois da grande temporada regular, ainda força os times a jogar em playoffs que dão vaga a apenas quatro times dentre os oitenta iniciais? Seria duro confrontar essa realidade, e por isso dezessete ônibus e dezenas de carros particulares levaram os torcedores do clube amarelo para Alicante, para alentar a equipe na tentativa de não se distanciar ainda mais da primeira divisão – disputada pelo Cádiz recentemente, na temporada 2005/06.
Tudo parecia ir bem, no princípio. Uma partida equilibrada com os adversários e 0-1 aos 25 minutos, com Gustavo López. O sofrimento começaria dez minutos depois, no empate feito por Sendoa. Os resultados paralelos, bons a outros ameaçados, faziam a vitória necessária. Diante do adversário desinteressado mas ainda assim digno, o Cádiz tentou de todas as formas chegar ao segundo tento. Um suplício. A bola que não queria entrar parecia dizer que sua única vontade era dar à temporada ruim a triste coroação de um rebaixamento. Corria o quinto minuto de acréscimo do segundo tempo quando a esperança ressurgiu, as cabeças dos torcedores, algumas voltadas para o chão, tornaram a olhar para o gramado e as cantorias retomaram intensidade: o árbitro marcava um pênalti em favor do Cádiz. O milagre! A salvação da temporada em onze metros!
O que teria passado pela cabeça do pobre Abraham Paz, designado para a cobrança, por aqueles instantes? O filme de uma temporada de insucessos, ruim, mas não tão ruim a ponto de terminar daquela forma; a expectativa de ajudar o clube que defendia; o temor de não ser recordado como o vilão que desperdiçou a chance de ouro, a última chance? Talvez tudo isso. Talvez nada, estivesse ele apenas entorpecido diante daquele momento, pensando no vazio, alheio a tudo. O que passou pela cabeça dele depois da cobrança, sim, é fácil de saber: desespero. Pois aos 90+6 minutos, Paz mandou a cobrança na trave, sem tempo para qualquer tentativa posterior, unindo jogadores, dirigentes e torcedores pelas lágrimas.
O Cádiz se juntava ao Racing Ferrol, ao Granada 74 e ao Poli Ejido como um dos quatro rebaixados de 2007/08. Da maneira mais dolorosa, uma temporada que todos os aficionados gostariam de esquecer ficará na memória pela lenta trajetória de agonia nas rodadas finais – o time esteve a poucos pontos de evitar matematicamente o descenso há mais de mês, e então emparelhou uma série de sete (depois de hoje, oito) jogos sem vitória – concluída num episódio que resumiu todos os quases desse período. Na década de 1980, o clube amarelo mereceu a alcunha de matagigantes, após uma temporada em que derrubou, em seu estádio, Real Madrid, Barcelona, Zaragoza, Real Sociedad, Sevilla, Atlético Madrid e Athletic Bilbao. Para os próximos anos, o gigante a ser morto é o fantasma do ostracismo.
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