Todos os sintomas da maldição estavam lá, no estádio Ernst Happel da capital austríaca. Era um dia 22 de junho, era um jogo de quartas-de-final. Ocorreu um empate no tempo normal, haveria uma decisão por pênaltis. Três vezes na história a Espanha se vira nesta situação em dias como o de hoje. Três vezes caíra. Era preciso alterar isso. E então despertou Casillas.
Durante o tempo em que a bola rolou, a Itália abusou do seu defensivismo consagrado ao longo de décadas, e a Espanha monopolizou o controle da pelota: nos 12 primeiros minutos de partida, 70% do tempo passou com a bola nos pés dos de vermelho. As chances, no entanto, eram esporádicas, e uma bem armada defesa da azzurra sob a liderança de Chiellini tornava complicado criar algo. Somente no fim veio a iniciativa de chutar de longe e, numa delas, Marcos Senna quase comete o crime em Buffon: aos 80 minutos, o goleiro deixou a bola escapar depois de defender o chute forte, salvando-se de um frango por conta da trave.
Até o melhor do mundo na posição falha miseravelmente, pensavam alguns. Mas que melhor do mundo é esse? Não seria na realidade o tal de Iker que, do outro lado, sem uma retranca para ajudar, mantinha-se insuperável? Nos minutos que se seguiram, o duelo dos dois supostos melhores goleiros do mundo continuou com o placar em zero a zero. A Itália cresceu um pouco na prorrogação, o jogo se pôs parelho também nas chances criadas, mas as redes permaneceram esvaziadas de qualquer gol. A desgraça da Fúria se repetia, e o empate prometia uma situação curiosa: apesar de toda a badalação, Casillas e Buffon estão entre os goleiros com pior média de defesas em cobranças de pênalti nos últimos tempos, segundo números trazidos pelo blog parceiro Café Fútbol. A espécie de tira-teima entre os dois ocorreria pelo ponto fraco de ambos.
E viria mais uma classificação improvável da Itália ou então a quebra de longas décadas de fracassos da Espanha. A partir da marca dos onze metros, Iker Casillas deu um baile em Gianluigi Buffon: o arqueiro do Real Madrid acertou o canto em todas as cobranças e parou duas, enquanto o italiano passou longe da bola nos cinco tiros, com exceção de um, justamente o que defendeu. Depois de onze copas continentais e mundiais sem ir além das quartas-de-final, a Espanha avançava, com seus 4-2 nas penalidades máximas – e também dava fim a 88 anos sem triunfar sobre a Itália em partidas oficiais (embora tenha vencido sem vencer, pois o que vale para as estatísticas é o placar do tempo normal).
A capa do Marca deste domingo estampou fotos dos pés de dez jogadores de linha do time, e das mãos do treinador Aragonés: a esperada mudança de sorte estaria a cargo desses personagens. Faltou lembrar de Casillas. Hoje, em Viena, escreveu-se uma nova história – pelas mãos dele.
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