segunda-feira, 23 de junho de 2008

Futebol irônico e a luta de Galatto

Galatto entrou para a galeria de heróis eternos do Grêmio graças a um pênalti. Não um pênalti qualquer, claro: o mais importante da história do clube, aquele que definiria se o tricolor permaneceria mais um ano na Série B, fadado a um longo ciclo fracassado e retorno futuro incerto (vide Bahia), ou se subiria à elite e poderia voltar aos tempos de grandeza (como se confirmaria plenamente em 2007, com a campanha vice-campeã da América). Foi na Batalha dos Aflitos, contra o Náutico, com o Grêmio tendo sete homens em campo e dois pênaltis contra (o primeiro havia sido morto pela trave), que Galatto fez, com as pernas, a defesa imortal. 71 segundos depois, Anderson converteria o inacreditável 0-1, dando ao time gaúcho o acesso – e o título.

Galatto nunca mais pegaria um pênalti pelo Grêmio.

Em 2006, as constantes lesões acabariam com sua melhor seqüência. Nos retornos, falhas que fizeram a fila de goleiros do Olímpico voltar a andar, numa constante interminável da era pós-Danrlei. Naquele ano, Marcelo Grohe e Cássio (este, em raríssimas ocasiões) concorreriam pela camisa 1. Na temporada seguinte, Sebastian Saja tomou a idolatria na posição, até gol fez e só não renovou pela soma de sua lesão no fim do ano com os obstáculos impostos pelo San Lorenzo para a sua contratação. Sairia o argentino, sairia também Galatto.

Reduzido a esquenta-banco, ele foi liberado para que pudesse tentar a sorte em outras bandas. Despediu-se com reconhecimento interminável e promessas de portas sempre abertas no clube. Goleiro hoje com 25 anos, tinha toda a carreira pela frente – e já havia feito história. Segue, porém, tentando “não ser lembrado por apenas uma defesa”, como repetiu várias vezes. Nessa busca, assinou com o Atlético Paranaense para a temporada atual.

Ontem, Galatto, o herói de uma defesa, de um pênalti numa jornada épica, fez a primeira partida da sua carreira profissional como adversário do Grêmio. Conhecendo a ironia do futebol, teve três pênaltis contra. E não pegou nem um tiro. Roger fez hat-trick, os gaúchos fizeram 3-0 no Atlético, e o goleiro recebeu homenagens. Parabenizou a torcida que tanto o ovacionou, questionou as marcações do árbitro, fez uma atuação segura com a bola rolando.

Mas a imagem mais simbólica do domingo foi a do terceiro gol. Sobre a linha, Galatto se desmanchava diante da paradinha fatal do camisa 10 gremista. Ele, louvado no passado pela frieza e capacidade em lances desde os onze metros, estava agora impotente frente a uma cobrança de pênalti. Uma evocação da luta inglória para não mais viver do passado.

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Toda a rodada:

Coritiba 2-1 Fluminense: após sete rodadas, o finalista brasileiro da Libertadores é o único time da Série A sem vitória, ocupando uma chata lanterna. O triunfo do Coxa demorou, veio somente com um gol de pênalti aos 85 minutos, mas representou um salto para sete posições acima na tabela, indo ao 9º lugar.

São Paulo 1-0 Sport Recife: da zona de rebaixamento às proximidades do G4 da Libertadores em poucas rodadas, e continua a ascensão do tricolor paulista, hoje 6º colocado, após três vitórias consecutivas no campeonato. No sábado, um digno Sport só cedeu os pontos aos 90 minutos, quando Hugo fez o solitário gol do duelo.

Cruzeiro 3-0 Figueirense: mais um massacre na conta do Figueira, dono da pior defesa isolada do campeonato, com 19 gols sofridos em sete rodadas. Ao Cruzeiro, a manutenção no topo da classificação, somando no sábado os 16 pontos que, ontem, Flamengo e Grêmio igualariam.

Botafogo 0-1 Portuguesa: atacando pouco, mas com eficiência, a Lusa transformou cedo em gol uma das suas únicas investidas em toda a partida. Manteve-se num saudável meio de tabela, em 8º lugar, e deixou os cariocas na beira do rebaixamento, em 16º.

Vasco da Gama 0-2 Palmeiras: quarta vitória de um Palmeiras na busca por resultados condizentes com a anunciada força do time. Por ora, 13 pontos e um 5º lugar que permite sonhar. Cotado para a disputa de quase nada antes do Brasileirão começar, o Vasco não é surpresa negativa com sua 12ª posição.

Ipatinga 1-3 Flamengo: Kléberson fez um gol aos 90+1 minutos de partida, fechando o placar e, mesmo sem saber, acabou dando a liderança provisória do campeonato ao Fla. O rubro-negro tem os mesmos 16 pontos de Grêmio e Cruzeiro, empata com os gaúchos num saldo positivo de 9 tentos (os mineiros têm 8) e leva vantagem nos gols marcados: 16 a 12. Do outro lado, o Ipatinga volta a aparecer onde deve – no rebaixamento.

Vitória 2-1 Internacional: Erros, erros, erros defensivos e novo insucesso Colorado longe de casa na competição. Se os baianos entraram na Série A desacreditados e estão atualmente no 7º lugar, o Inter não corresponde às capacidades do elenco, e está numa amarga 15ª colocação. A esperança é arrumar a casa no Gre-Nal.

Santos 0-4 Goiás: antes parecia apenas uma hipótese improvável. Depois de levar quatro do Goiás, que não havia vencido time algum, em plena Vila Belmiro, é melhor o Santos repensar sobre suas possibilidades de rebaixamento. O Peixe ficou no 18º lugar, empatado com o Ipatinga em tudo, e o Goiás não subiu muito: é apenas 17º.

Náutico 2-1 Atlético Mineiro: quatro vitórias e uma mísera derrota em sete rodadas dizem tudo sobre o formidável começo de campeonato do alvirrubro pernambucano. O 4º lugar alcançado pelo Timbu dá um ânimo para o clube sonhar com coisas grandes – bem diferente do Galo e sua insossa campanha de 10º colocado.

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