A Euro 1992 tinha dado, em suas eliminatórias, uma pequena mostra da segunda grande onda de crescimento do torneio. Coube à edição de 1996 arcar com as conseqüências: a União Soviética (quatro anos antes como CEI, agora definitivamente dividida no esporte) e a Tchecoslováquia se fragmentavam, gerando novas nações com suas respectivas seleções de futebol, a Iugoslávia ia pelo mesmo caminho, e a UEFA ainda ganhava novos filiados em velhos países – casos, por exemplo, de San Marino, Liechtenstein e Ilhas Faroe. O sistema de oito finalistas parecia demasiado estreito para uma gama tão ampla de concorrentes, fazendo surgir a opção de uma completa reformulação no torneio: copiando o regulamento usado nas Copas do Mundo entre 1958 e 1970, a fase final da competição teria 16 equipes, divididas em quatro quadrangulares dos quais se classificariam, aos mata-matas, os dois primeiros colocados – a fórmula se mantém atualmente. Outra mudança seria o aumento da pontuação por vitória, de dois para três pontos.
A maior Eurocopa da história até ali elegeu o berço do futebol para recebê-la: com o slogan Football Comes Home, a Inglaterra ganhava o posto de sede, e uma vaga direta para tentar o título inédito. O resto da Europa teve que suar para atingir as finais: 47 seleções se inscreveram para a fase de eliminatórias. O sistema dividiu os times em sete hexagonais e um pentagonal, em que se classificavam os vencedores de cada grupo mais os seis melhores segundos colocados no geral – os dois piores segundos colocados, Holanda e Irlanda, jogaram um playoff em Liverpool para definir o último país a atingir a fase final, com os laranjas triunfando por 2-0. Tidos os classificados, os grupos da etapa britânica foram assim divididos: A – Escócia, Holanda, Inglaterra, Suíça; B – Bulgária, Espanha, França, Romênia; C – Alemanha, Itália, República Tcheca, Rússia; D – Croácia, Dinamarca, Portugal, Turquia.
As expectativas para uma disputa tão grandiosa eram as maiores, mas o inchaço repentino da Euro acabou por levar muitas equipes pouco competitivas ao torneio final naquele 1996. Caso clássico foi o Grupo D, em que a estimada Dinamarca foi para defender o título jogando um futebol fraco; somando 4 unidades no fim das contas, permitiu que Portugal (7 pontos) e Croácia (6) garantissem a passagem de fase antes da derradeira rodada. O Grupo A, dos anfitriões, cuja primeira rodada se acabou com duas partidas ruins, pareceu ir pelo mesmo caminho: na estréia, Inglaterra 1-1 Suíça, Holanda 0-0 Escócia. Com ingleses e holandeses fazendo valer o favoritismo na jornada seguinte (2-0 sobre Escócia e Suíça, respectivamente), a última rodada traria um confronto direto entre eles com cara de jogo de compadres. Não foi. A Inglaterra se jogou ao ataque, massacrou e, com dois gols de Shearer e outros dois de Sheringham, abriu 4-0 sobre os neerlandeses. No outro jogo, a Escócia vencia os suíços por 1-0 e conquistava a improvável classificação: atingia os mesmos 4 pontos dos laranjas, também empatava no critério do confronto direto, mas levava vantagem no saldo por -1 a -2 gols. A Holanda salvou sua passagem de fase com um gol de Kluivert aos 78 minutos do embate de Wembley: perdia por 4-1, mas igualava o saldo e pontuação dos escoceses, sendo superior no número de gols marcados (3 contra 1). Raras vezes uma derrota por goleada foi tão comemorada.
Sediado em Leeds e Newcastle, o Grupo B era outro do qual se esperava muito. Nele, havia uma França de promissora nova geração (que seria campeã mundial dois anos depois), a Espanha na sua constante de entrar com times bons, além de Bulgária e Romênia, sensações da Copa do Mundo de 1994. Os romenos acabaram decepcionando com a desgraça de perder nas duas primeiras rodadas por 0-1 (para franceses e búlgaros), mas a jornada final trouxe a emoção que faltava: França e Bulgária chegavam com 4 pontos, e a Espanha com apenas 2. No confronto direto com os búlgaros, os franceses fizeram 3-1, avivando as esperanças da Fúria, que empatava por 1-1 e ainda era eliminada. Um gol de Guillermo Amor aos 84 minutos do jogo contra a Romênia fez o 2-1 da classificação espanhola. Encerrando a primeira fase com 7 e 5 pontos, les bleus e la roja avançavam invictos.
Guerra, realmente, viu-se no Grupo C, reservado para Liverpool e Manchester. Na última rodada, a Alemanha chegava praticamente classificada (6 pontos, 5 gols feitos, nenhum sofridos), mas Itália, República Tcheca e Rússia tinham questões pendentes a resolver, somando respectivamente 3, 3 e 0 ponto. Em Old Trafford, alemães e italianos se equipararam até o fim num insosso 0-0, enquanto a loucura deu os tons no duelo de Anfield: Suchopárek e Kuka fizeram 0-2 para classificar os tchecos em vinte minutos. A indefinição retornou quando Mostovoi e Tetradze empataram para os russos com gols aos 49 e 54 minutos. Naquele momento, a República Tcheca e a Itália alcançavam os 4 pontos, e os tchecos passavam de fase pelo confronto direto (haviam feito 2-1 nos italianos). Aos 85 minutos, porém, o impronunciável Vladimir Yevgenyevich Beschastnykh fez a remontada da Rússia, anotando 3-2. Seria a desgraça tcheca, só que o placar ainda tinha movimentos por fazer. No minuto 89, Smicer devolveu o 3-3 e a classificação ao novo país europeu, que passava ao lado da Alemanha.
As quartas-de-final trariam duas definições por pênaltis após empates por 0-0: a Inglaterra tirou a Espanha com 4-2 e a França superou a Holanda por 5-4 quando o goleiro Lama parou tiro de Seedorf. Ainda que os outros jogos tenham sido definidos no tempo normal, com um Alemanha 2-1 Croácia e um República Tcheca 1-0 Portugal, as cobranças desde os onze metros seriam outra vez exigidas nas semifinais: em Old Trafford, a França fazia mais um jogo sem gols no tempo normal e na prorrogação, levando a definição contra os tchecos para as penalidades máximas. Zidane abriu a série perfeita dos franceses, que não errariam nenhum tiro dos cinco iniciais. Igualmente perfeitos, contudo, foram os cinco primeiros chutes da República Tcheca, que se classificaria nas alternadas: Reynald Pedros falhou a sexta tentativa dos bleus, e Miroslav Kadlec bateu para fechar os 5-6 da vaga na final.
Pouco depois, no mesmo dia 26 que eliminou a França, teria início mais uma desilusão inglesa na taça continental. Wembley lotou para ver o time passar à inédita final, e acreditou estar diante da confirmação das aspirações quando, aos 3 minutos, Alan Shearer mandou às redes o primeiro tento da noite. Era cedo para vibrar. Aos 16, Stefan Kuntz fez 1-1. O jogo ficou novamente ao sabor das inúmeras chances criadas – e perdidas. Ninguém mais foi capaz de fazer gols, e o duelo também foi para definição desde a marca do pênalti. O filme do jogo de horas antes se repetiu: nada de erros nos cinco tiros iniciais, complicação logo na abertura das alternadas – Southgate teve seu penal parado pelo goleiro Köpke, e no tiro seguinte Andreas Möller fez o 5-6 alemão.
Garantia-se uma curiosa final que permitia uma análise das mudanças européias ocorridas há pouco, quando se fazia uma comparação com a Euro de 1976: daquela feita, a Alemanha Ocidental decidira a taça com a Tchecoslováquia – vinte anos depois, os alemães eram uma nação unificada, e os tchecos, num caminho oposto, tinham se separado da Eslováquia. Oposição parecia não haver no destino do jogo em relação àquele de 1976: se na outra vez a Tchecoslováquia ergueu o título, a República Tcheca também levava a melhor agora, em Londres, com Patrik Berger pondo o time em vantagem aos 59 minutos, cobrando pênalti. O troféu estava próximo com aquele 0-1. Talvez viesse mesmo.
Mas, aos 68 minutos, entrou Oliver Bierhoff. Podia ser uma substituição comum, acabou sendo a alteração que mudou o rei da Europa naquele ano. Aos 73, Bierhoff cabeceou cruzamento de Ziege para empatar o jogo. Levou a partida para a prorrogação, e fez a diferença outra vez no tempo extra. Aos 95, Klinsmann passou para Bierhoff, e o substituto mandou um chute de virada. Aparentemente fácil, a bola alta complicou o goleiro Kouba, que não pôde agarrar firme. Sem maior força, o esférico voou pela pequena área, torturante, bateu na trave esquerda e entrou. 2-1 para a Alemanha. Na prorrogação por morte súbita, aquele era o gol de ouro. Com dois gols de um reserva, consagrado agora para a eternidade, os germânicos conquistavam seu terceiro título europeu.
A maior Eurocopa da história até ali elegeu o berço do futebol para recebê-la: com o slogan Football Comes Home, a Inglaterra ganhava o posto de sede, e uma vaga direta para tentar o título inédito. O resto da Europa teve que suar para atingir as finais: 47 seleções se inscreveram para a fase de eliminatórias. O sistema dividiu os times em sete hexagonais e um pentagonal, em que se classificavam os vencedores de cada grupo mais os seis melhores segundos colocados no geral – os dois piores segundos colocados, Holanda e Irlanda, jogaram um playoff em Liverpool para definir o último país a atingir a fase final, com os laranjas triunfando por 2-0. Tidos os classificados, os grupos da etapa britânica foram assim divididos: A – Escócia, Holanda, Inglaterra, Suíça; B – Bulgária, Espanha, França, Romênia; C – Alemanha, Itália, República Tcheca, Rússia; D – Croácia, Dinamarca, Portugal, Turquia.
As expectativas para uma disputa tão grandiosa eram as maiores, mas o inchaço repentino da Euro acabou por levar muitas equipes pouco competitivas ao torneio final naquele 1996. Caso clássico foi o Grupo D, em que a estimada Dinamarca foi para defender o título jogando um futebol fraco; somando 4 unidades no fim das contas, permitiu que Portugal (7 pontos) e Croácia (6) garantissem a passagem de fase antes da derradeira rodada. O Grupo A, dos anfitriões, cuja primeira rodada se acabou com duas partidas ruins, pareceu ir pelo mesmo caminho: na estréia, Inglaterra 1-1 Suíça, Holanda 0-0 Escócia. Com ingleses e holandeses fazendo valer o favoritismo na jornada seguinte (2-0 sobre Escócia e Suíça, respectivamente), a última rodada traria um confronto direto entre eles com cara de jogo de compadres. Não foi. A Inglaterra se jogou ao ataque, massacrou e, com dois gols de Shearer e outros dois de Sheringham, abriu 4-0 sobre os neerlandeses. No outro jogo, a Escócia vencia os suíços por 1-0 e conquistava a improvável classificação: atingia os mesmos 4 pontos dos laranjas, também empatava no critério do confronto direto, mas levava vantagem no saldo por -1 a -2 gols. A Holanda salvou sua passagem de fase com um gol de Kluivert aos 78 minutos do embate de Wembley: perdia por 4-1, mas igualava o saldo e pontuação dos escoceses, sendo superior no número de gols marcados (3 contra 1). Raras vezes uma derrota por goleada foi tão comemorada.
Sediado em Leeds e Newcastle, o Grupo B era outro do qual se esperava muito. Nele, havia uma França de promissora nova geração (que seria campeã mundial dois anos depois), a Espanha na sua constante de entrar com times bons, além de Bulgária e Romênia, sensações da Copa do Mundo de 1994. Os romenos acabaram decepcionando com a desgraça de perder nas duas primeiras rodadas por 0-1 (para franceses e búlgaros), mas a jornada final trouxe a emoção que faltava: França e Bulgária chegavam com 4 pontos, e a Espanha com apenas 2. No confronto direto com os búlgaros, os franceses fizeram 3-1, avivando as esperanças da Fúria, que empatava por 1-1 e ainda era eliminada. Um gol de Guillermo Amor aos 84 minutos do jogo contra a Romênia fez o 2-1 da classificação espanhola. Encerrando a primeira fase com 7 e 5 pontos, les bleus e la roja avançavam invictos.
Guerra, realmente, viu-se no Grupo C, reservado para Liverpool e Manchester. Na última rodada, a Alemanha chegava praticamente classificada (6 pontos, 5 gols feitos, nenhum sofridos), mas Itália, República Tcheca e Rússia tinham questões pendentes a resolver, somando respectivamente 3, 3 e 0 ponto. Em Old Trafford, alemães e italianos se equipararam até o fim num insosso 0-0, enquanto a loucura deu os tons no duelo de Anfield: Suchopárek e Kuka fizeram 0-2 para classificar os tchecos em vinte minutos. A indefinição retornou quando Mostovoi e Tetradze empataram para os russos com gols aos 49 e 54 minutos. Naquele momento, a República Tcheca e a Itália alcançavam os 4 pontos, e os tchecos passavam de fase pelo confronto direto (haviam feito 2-1 nos italianos). Aos 85 minutos, porém, o impronunciável Vladimir Yevgenyevich Beschastnykh fez a remontada da Rússia, anotando 3-2. Seria a desgraça tcheca, só que o placar ainda tinha movimentos por fazer. No minuto 89, Smicer devolveu o 3-3 e a classificação ao novo país europeu, que passava ao lado da Alemanha.
As quartas-de-final trariam duas definições por pênaltis após empates por 0-0: a Inglaterra tirou a Espanha com 4-2 e a França superou a Holanda por 5-4 quando o goleiro Lama parou tiro de Seedorf. Ainda que os outros jogos tenham sido definidos no tempo normal, com um Alemanha 2-1 Croácia e um República Tcheca 1-0 Portugal, as cobranças desde os onze metros seriam outra vez exigidas nas semifinais: em Old Trafford, a França fazia mais um jogo sem gols no tempo normal e na prorrogação, levando a definição contra os tchecos para as penalidades máximas. Zidane abriu a série perfeita dos franceses, que não errariam nenhum tiro dos cinco iniciais. Igualmente perfeitos, contudo, foram os cinco primeiros chutes da República Tcheca, que se classificaria nas alternadas: Reynald Pedros falhou a sexta tentativa dos bleus, e Miroslav Kadlec bateu para fechar os 5-6 da vaga na final.
Pouco depois, no mesmo dia 26 que eliminou a França, teria início mais uma desilusão inglesa na taça continental. Wembley lotou para ver o time passar à inédita final, e acreditou estar diante da confirmação das aspirações quando, aos 3 minutos, Alan Shearer mandou às redes o primeiro tento da noite. Era cedo para vibrar. Aos 16, Stefan Kuntz fez 1-1. O jogo ficou novamente ao sabor das inúmeras chances criadas – e perdidas. Ninguém mais foi capaz de fazer gols, e o duelo também foi para definição desde a marca do pênalti. O filme do jogo de horas antes se repetiu: nada de erros nos cinco tiros iniciais, complicação logo na abertura das alternadas – Southgate teve seu penal parado pelo goleiro Köpke, e no tiro seguinte Andreas Möller fez o 5-6 alemão.
Garantia-se uma curiosa final que permitia uma análise das mudanças européias ocorridas há pouco, quando se fazia uma comparação com a Euro de 1976: daquela feita, a Alemanha Ocidental decidira a taça com a Tchecoslováquia – vinte anos depois, os alemães eram uma nação unificada, e os tchecos, num caminho oposto, tinham se separado da Eslováquia. Oposição parecia não haver no destino do jogo em relação àquele de 1976: se na outra vez a Tchecoslováquia ergueu o título, a República Tcheca também levava a melhor agora, em Londres, com Patrik Berger pondo o time em vantagem aos 59 minutos, cobrando pênalti. O troféu estava próximo com aquele 0-1. Talvez viesse mesmo.
Mas, aos 68 minutos, entrou Oliver Bierhoff. Podia ser uma substituição comum, acabou sendo a alteração que mudou o rei da Europa naquele ano. Aos 73, Bierhoff cabeceou cruzamento de Ziege para empatar o jogo. Levou a partida para a prorrogação, e fez a diferença outra vez no tempo extra. Aos 95, Klinsmann passou para Bierhoff, e o substituto mandou um chute de virada. Aparentemente fácil, a bola alta complicou o goleiro Kouba, que não pôde agarrar firme. Sem maior força, o esférico voou pela pequena área, torturante, bateu na trave esquerda e entrou. 2-1 para a Alemanha. Na prorrogação por morte súbita, aquele era o gol de ouro. Com dois gols de um reserva, consagrado agora para a eternidade, os germânicos conquistavam seu terceiro título europeu.
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