Atraindo cada vez mais a mídia, o público e, claro, patrocinadores, a competição da UEFA se tornava um negócio com potencial altamente lucrativo. Unindo o útil ao agradável, buscando uma visibilidade ainda maior, em função de mais partidas, e proporcionando também um aumento na qualidade técnica dos postulantes ao título, a entidade máxima do futebol europeu mudou a fórmula da Eurocopa: agora, ao invés de somente quatro semifinalistas num torneio de sede única (cujo país anfitrião era definido apenas entre esses classificados), as eliminatórias levariam oito equipes para dois grupos a serem disputados em um local predeterminado – com a Seleção da sede já classificada.
O maior Campeonato da Europa até então manteria um esqueleto do que fora nas fases qualificatórias, jogadas por 31 equipes (a 32ª, do país-sede, estaria isenta) em três pentagonais e quatro quadrangulares, classificando apenas os vencedores de cada chave à disputa final – marcada naquele 1980 para a Itália. Passariam dessa fase: Bélgica (levando um ponto de vantagem sobre a Áustria), Espanha (um ponto a mais que a Iugoslávia em seu grupo), Holanda (um ponto de diferença em relação à Polônia, dois sobre a Alemanha Oriental), Tchecoslováquia (também apenas um ponto a mais que a vice-líder França), Grécia (um ponto de diferença para Hungria e Finlândia, dois sobre a União Soviética, no mais disputado quadrangular daquela edição), Inglaterra e Alemanha Ocidental (estas duas, as únicas com classificação fácil).
Na Eurocopa propriamente dita, a divisão das chaves proporcionou a chance de uma revanche dos alemães ocidentais contra os tchecoslovacos, emparelhando-os no Grupo 1, ao lado de uma Holanda praticamente despida do grande futebol dos anos 1970, e de uma Grécia em sua primeira participação em fase decisiva de um torneio relevante. Logo na estréia, em Roma, os fantasmas da Alemanha Ocidental foram desfeitos com um 1-0 sobre a Tchecoslováquia, resultado que servia também para firmá-la como favorita da chave – vencendo a Holanda na partida seguinte, praticamente se garantiria um lugar na final. E não houve dificuldades nesse objetivo: 3-2 sobre os de laranja, hat-trick de Klaus Allofs, numa partida em que o placar esteve em 3-0 até os 80 minutos. Depois, um jogo de compadres contra os eliminados gregos, encerrado em 0-0, fechou a primeira fase germânica com 5 pontos. Atrás deles, tchecoslovacos e holandeses com 3, e a Grécia com 1.
Equilíbrio mesmo houve no Grupo 2, aquele do selecionado local, a Itália. Esperando repetir o sucesso de 1968, quando fora campeã dentro de casa, a azzurra encontrou uma disputa ferrenha desde a primeira rodada, terminada em dois empates: em Milão, ela própria não saiu de um 0-0 contra a Espanha, enquanto a surpreendente Bélgica segurou a Inglaterra em Turim, com um 1-1. O destino das vagas começou a se definir na rodada 2, com os primeiros vencedores: a Bélgica passou pelos espanhóis fazendo 2-1, e os da casa, encontrando absurdas dificuldades nas linhas ofensivas, fizeram um gol com Tardelli aos 79 minutos para superar a Inglaterra por 1-0 – uma precoce queda dos britânicos na disputa, contando com uma equipe formada por nomes como o craque Kevin Keegan, eleito melhor jogador do continente em 1978 e 1979, jogando pelo Hamburger SV alemão.
Na última rodada a Espanha voltaria a perder, levando 1-2 dos ingleses, mas esse era um jogo menor diante do confronto de líderes. Empatadas no saldo de gols e na pontuação, as ponteiras da chave transformaram o embate direto numa verdadeira semifinal. Mas era um jogo que valia pontos, era um jogo de grupo e, por isso, pelo número de gols anotados nas outras partidas, o empate valia aos belgas. Foi pelo empate que o desacreditado time entrou em campo, armando uma retranca extraordinária. Não era preciso de muito para anular aquela Itália de tão poucos recursos no ataque (Paolo Rossi, herói e artilheiro na Copa do Mundo de 1982, ainda não estava na equipe), de modo que o jogo não passou de um 0-0. Decepcionada, a torcida local ainda veria os italianos perderem o terceiro lugar para a Tchecoslováquia por 9-8 nos pênaltis, após 1-1 no tempo normal.
A grande decisão teve lugar no Stadio Olímpico de Roma, em 22 de junho. De um lado, estava a forte Alemanha Ocidental; do outro, a esperança. Tão grande quanto o esforço dos belgas para chegar até ali com uma equipe limitada, era o poder de renovação dos germânicos: se haviam perdido Beckenbauer, o arqueiro Sepp Maier ou o matador Gerd Müller, agora havia o goleiro Schumacher e, à frente dele, jogadores do naipe de Manny Kaltz, Uli Stielike, Bernd Schuster, Rummennigge, Klaus Allofs ou Horst Hrubesch. Este último precisou de apenas dez minutos para fazer 1-0 e aproximar sua equipe do inédito bicampeonato europeu.
Mas a Bélgica não chegara até ali sem alguma qualidade. Seguiu complicando o jogo, não conseguindo marcar gol, todavia insistindo nas tentativas. Aos 55 minutos, viu Briegel, responsável por uma das melhores atuações no onze adversário, sair contundido para entrada de Cullmann. O embate se apertava. Aos 72, Vandereycken transformou em gol o pênalti que fizera os belgas voltarem a acreditar, prometendo uma prorrogação que nunca veio: a dois minutos do fim, num escanteio, a Alemanha Ocidental deu o último golpe da noite, outra vez com Hrubesch.
Dois a um para os germânicos. Dois troféus para os germânicos. Em sua terceira final consecutiva, chegavam ao ápice no continente, tornando-se os primeiros a repetir um título e assumindo uma posição de melhores da Europa. Era o marco inicial de um ciclo semelhante no plano mundial, em que a Alemanha chegaria nas finais das três Copas do Mundo a seguir, em 1982, 1986 e 1990.
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