No primeiro minuto de jogo em São Petersburgo, o Zenit já convivia com o sufoco de afastar uma bola sobre sua própria linha fatal. Prematura, a ocasião de gol do Bayern München mostrava os objetivos do time alemão: pressionar desde cedo e marcar gols tranqüilizadores, evitando o desespero da fase anterior, contra o Getafe, quando a classificação só veio graças a um gol a vinte segundos do final da prorrogação. Hoje, como nas quartas-de-final, os bávaros vinham de desfavorável igualdade por 1-1 em casa.
Tão próxima de se afirmar no primeiro lance mais real, a tal superioridade dos de Munique quedou pelo caminho. Noventa segundos depois, Pogrebnyak, artilheiro dos russos, cobrou falta, a barreira abriu e Kahn engoliu. Um a zero. Não fora por acaso que o Zenit eliminara equipes como o Villarreal, vice-líder do Campeonato Espanhol, o Olympique Marseille, gigante da França, e o também alemão Bayer Leverkusen, chegando a goleá-lo fora de casa por 1-4. Não seria por acaso que, hoje, o time daria as cartas outra vez.
Os de São Petersburgo não têm grandes estrelas, ainda que o dinheiro seja farto desde a parceria com a Gazprom. Há sim destaques, mas eles atingiram esse status graças à qualidade coletiva da equipe - ou se poderia considerar candidato ao título um time cuja escalação é Malafeev, Anyukov, Shirokov, Krizanac, Gorshkov, Denisov, Tymoschuk, Zyryanov, Alejandro Dominguez, Fayzulin e Pogrebnyak? E do outro lado havia Oliver Kahn, Lúcio, Ribéry, Luca Toni, Klose... não, o Zenit definitivamente é um time, nos nomes, aquém dos grandes europeus.
Mas, em campo, o que se viu foi um quadro russo massacrante. Um futebol veloz impulsionado por uma disposição incrível e ajudado, é claro, pelo desarranjo defensivo alemão, fez com que o time da casa ampliasse aquela vantagem construída logo no início da partida. Ao apito final, o placar de 4-0 anunciava tentos de Zyrianov, aos 39 minutos, Fayzulin, aos 54, e Pogrebnyak, de novo ele, aos 73 – tento que o tornou goleador máximo da temporada da Copa da UEFA, e que foi o último do jogador na competição, suspenso por cartões amarelos após o jogo de hoje.
Não há como questionar a vaga na final alcançada pelo Zenit. Mas há de se perguntar: como foi possível? Não foi por acaso, obviamente. Então, como pôde o desconhecido quadro de São Petersburgo, aquele surgido do nada, eliminar quatro poderosos da Europa, chegando a golear uma equipe com elenco do nível do Bayern? Pois o Zenit tem técnico. Dick Advocaat, ex-treinador da Seleção Holandesa, de passagens destacadas por outras grandes equipes, talvez seja o mais conhecido entre os que cercam a surpresa russa e o principal responsável pelo seu sucesso.
Advocaat, a despeito da falta de galácticos ou similares, impôs um estilo ousado, destemido e, por causa disso, surpreendente e imparável, mesmo pelos mais respeitáveis adversários. Assim, na base da surpresa, mas com atuações que passaram longe da zebra, o Zenit vai decidir o segundo mais importante troféu da Europa. Vai a Manchester, para o seu maior intento. Agora sim, o zênite nunca esteve tão próximo.
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