Em 2007, o 30º título do Real Madrid na Liga Espanhola foi especialmente guardado na memória dos torcedores pela maneira como veio: remontadas incríveis, vitórias nos últimos minutos, combinações de resultados vindas na agonia, e uma diferença de pontos para o Barcelona que, na verdade, não era diferença – as equipes terminaram o campeonato rigorosamente empatadas na pontuação, com vantagem merengue no confronto direto. Todos os ingredientes, todo o espírito – de Juanito, quiçá – renderam àquela taça o apelido de “La Heroica”.
Houve pouco de épico na conquista do Real Madrid em 2008. A vantagem de pontos oscilante, ora sobre o Barcelona, ora sobre o Villarreal, jamais se desfez, finalizando ontem em dez unidades inalcançáveis pelo Submarino Amarelo nas próximas três rodadas. Sem graça, óbvio, até fácil. Se o Madrid tropeçava, os concorrentes, fracos, faziam o mesmo pouco tempo depois, às vezes na mesma rodada. Tinha que haver uma lembrança a mais para os aficionados guardarem, além daquela de um time que sonhou em fazer cem pontos e se acordou vendo que não era tão bom quando se imaginava – apenas suficientemente bom para sobrar na Liga. Tinha que haver um pouco de heroísmo.
E a esse Madrid, que não é dos melhores da história, tampouco dos mais temíveis internacionalmente, uma coisa não falta: ganas de heroísmo. Ele veio, enfim, na rodada do título, na remontada da 31ª Liga. Ontem, no estádio belissimamente nomeado Reyno de Navarra, em Pamplona, o Osasuna recebia os da capital com dois objetivos: fugir da zona de rebaixamento e manter mais de setenta anos sem ver um oponente comemorar o título em seu gramado.
Igual, o jogo deu sinais de que sorriria aos da casa. O primeiro tempo acabou nulo, com muito respeito e pouco ímpeto dos dois lados. Não era partida para se perder. O Madrid podia não ter o desespero do rebaixamento, o desespero do Osasuna, mas também precisava da vitória: queria receber a taça antes do próximo jogo no Santiago Bernabéu, sob os aplausos do onze do Barcelona, que o visitará abaixo de flautas para o grande clássico, na quarta-feira.
Faltou ação nos primeiros quarenta e cinco minutos, sobrou nos segundos iniciais da etapa complementar: com menos de um minuto, Cannavaro leva o segundo amarelo e deixa o Madrid com dez. Começa o heroísmo. As raras bolas chutadas pelos blancos parecem não querer entrar na meta local: Sneijder tenta encobrir o arqueiro, o esférico bate no travessão, desvia na cabeça do goleiro e de Raúl, mas... não vai às redes, acaba saindo da área. O Osasuna torna-se perigoso. Pressiona, cruza uma bola na área e, aos 82 minutos, tem a sua chance dourada: Heinze, num lance voleiboleiro, afasta a redonda com um tapa. Pênalti.
Puñal apunhala as esperanças merengues de conquistar a Liga e vence Casillas desde os onze metros. Agora, o Osasuna lidera por 1-0.
E tem o desespero de necessitar da vitória para não cair, o Osasuna. E tem um estádio lotado apoiando. E tem um jogador a mais. E tem um gol a zero. E tem, acima de tudo, que resistir apenas por dez minutos. O Real Madrid tem as ganas de heroísmo – só. Só? Com elas, aos tropeços, no entusiasmo, encontra um empate aos 87 minutos, em desvio de cabeça de Robben.
Era insuficiente.
Para conquistar a taça, ontem, perder e empatar tinha o mesmo pouco valor, não confirmando o título. É verdade, o placar igual garantia ao Real Madrid a possibilidade de empatar seu próximo encontro para garantir a glória – se perdesse, precisaria triunfar na quarta – mas o time queria mais. Queria, afinal, receber a taça contra o Barcelona e entrar em campo aplaudido pelos catalães, no chamado pasillo. E foi para cima, com dez, sem tempo, com um empate. Ia pela remontada.
Aos 89 minutos, um fulminante Higuaín desponta pela direita, na área oponente. Manda um chutaço indefensável para Ricardo. Golazo. Remontada daquelas pelas quais se passa horas gritando. E os torcedores passaram horas gritando, vibrando, rumando à Cibeles – hoje sim! –, onde 500 mil madridistas se reuniram para festejar, a despeito de ser uma madrugada de segunda-feira. Gritaram pela vitória, um pingo de heroísmo numa Liga tranqüila, gritaram, principalmente, pelo 31º título espanhol do Real Madrid, campeón de Liga 2007/08.
2 comentários:
Os madrilenhos conseguiram romper de vez a hegemonia recente do Barça. O título confirma a ascensão do Real e a queda do rival, que a duras penas tenta pelo menos a vaga na Champions League.
¡Grandes! ¡HALA MADRID! :D
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