Do Brasil, o resultado chegava, construindo a pauta. Em Santos, o San José de Oruro, campeão boliviano do Clausura, acabava de levar 7-0 do time local. Não havia novidade ali. Em 2007, o Bolívar sofrera goleada pelo mesmo placar frente ao Boca Juniors e, ficando apenas nesta década, ainda havia lembrança dos 6-0 aplicados pelo River Plate argentino sobre o Oriente Petrolero, em 2006, e os 6-0 do próprio Santos sobre o Bolívar, em 2005, seguindo aí uma lista vastíssima que se tenta esquecer, a todo o custo.
Falar de futebol, na Bolívia, é passar o ano elogiando os campeões nacionais (Apertura e Clausura), para, mal começada a temporada seguinte, ver as exaltações se despedaçarem nos gramados sul-americanos. Aos times de La Paz ou, neste caso, de Oruro, como de tantas outras cidades mais elevadas, basta descer o morro e se aventurar pelo continente para a competitividade acabar – um exemplo clássico, reforçado pelo nome, é o The Strongest da capital, mais parecido com “the weakest” quando milita pelo exterior. Equipes de cidades mais baixas, como Santa Cruz de La Sierra, nem precisam esperar os jogos longe de casa para serem trituradas.
Mas é preciso dar a notícia: o San José levou 7-0. Como será a preparação para uma roda de debates boliviana? Ninguém tem o direito de se escandalizar pelas goleadas sofridas, pois já caíram no comum. “Veja, o time levou só três no jogo passado, temos um claro avanço”, dirá um no próximo resultado mais favorável. Há sempre um aspecto positivo para se glorificar. Houve sete gols do Santos? Replays intermináveis nas vinte chances perdidas, ressaltando que o time boliviano resistiu até onde pôde. No caso dos de Oruro, outro lembraria que, tendo atingido o ponto mais baixo ontem, o time só tem a subir. “Sim, agora vai”, diz um torcedor esperançoso na rua, perguntado sobre a hipótese.
Lá, como aqui, devem existir viúvas de eras passadas do futebol. “No meu tempo, quando o Deportivo Municipal ia a Santos, levava só 6-1. E era o Santos de Pelé!”, afirma o decano da mesa, em off. Questionado por algum astucioso companheiro sobre o melhor time que viu jogar, no entanto, o senhor acabaria tendo que se dobrar ao Bolívar de 2004, finalista da Copa Sul-Americana. É o preço de acompanhar um futebol que, perdido na mediocridade, jamais atingiu seu ápice.
Chega a hora de começar a mesa-redonda. Primeiro, sob trilha sonora andina, um clipe com as melhores defesas do arqueiro Daniel Vaca na Vila Belmiro, seguida de imagens que mostram a torcida festejando a vitória em casa, contra o mesmo Santos, duas semanas atrás. “Apenas a revanche”. Depois, o Galvão Bueno de La Paz mede as palavras na abertura de seu programa. Um discurso cheio de eufemismos trata de lembrar os aficionados do San José sobre o terceiro lugar no campeonato nacional, somente dois pontos atrás do líder.
Além disso, amigo de Oruro, não existe preocupação pela Libertadores: três pontos e quinze gols de saldo são perfeitamente recuperáveis – há duas rodadas e os jogos são apenas contra os mortos do Cúcuta e do Chivas Guadalajara. Ao seu lado, um debatedor, dedo em riste, é enfático: “não há motivos para vergonha, todos os torcedores bolivianos já viveram dias assim”. E viveram. Deve ser triste comentar futebol, lá na Bolívia.
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