Quem acompanha a Segundona Gaúcha, sabe: não existem árbitros bons apitando a divisão inferior do Rio Grande do Sul. É histórico. O time pode passar anos na elite, mas tão logo seja rebaixado, encontrará uma situação idêntica àquela que vivia nas suas velhas temporadas de Segundona. As opções variam entre árbitros com medo das hostis torcidas locais, árbitros ruins por natureza, e aqueles condicionados, apitando da forma como lhes convêm. A imprensa, buscando imparcialidade, muitas vezes deixa de falar com maior veemência sobre os constantes escândalos observados pelos gramados do interior, em jogos do nível. Oquei, não generalizemos: em vinte jogos de Segundona, talvez se encontre meio juiz bom.
Mas esses são meras exceções que confirmam a regra. Casos de arbitragens desastrosas, mal-intencionadas ou não, pipocam a cada ano. Recentemente, a presidente do Riograndense de Santa Maria teve seu nome citado na súmula do jogo contra o Avenida, por suposta agressão ao apitador que – surpresa! – teria tomado repetidas decisões de interpretação duvidosa. Apesar da revolta excessiva e da lamentável agressão (se houve), não há radicalismo nas reclamações do time. Há apenas a seqüência de uma rotina que os amantes do futebol do interior conhecem bem. E é curioso que a bomba exploda sempre nas mãos dos clubes. Os senhores sopradores de apito seguem lá, firmes, sempre no sorteio da partida seguinte. Punições, multas, suspensões? Isso vai na conta dos dirigentes maus, aqueles ingratos que cismam em criticar o excelente trabalho dos que se dispõem a mediar seus jogos.
A renovação, o surgimento de novos juízes competentes, é escassa. Mas o tempo passa. Nomes com mais experiência em jogos importantes, como Carlos Eugênio Simon, Leonardo Gaciba e Leandro Vuaden, têm de ser substituídos, gradualmente. Não existem, até onde se saiba, categorias de base para formação de árbitros. Então, depois de aprender a interpretar as regras do jogo, eles são lançados às feras, à Segundona. E, uma vez lá, aguardam o momento de serem chamados para os jogos maiores. Assim surgem os árbitros de qualidade questionável, sempre metidos em polêmicas e decisões capazes de alterar os rumos de uma partida – às vezes radicalmente, anulando gols legítimos, mas em outras ocasiões de forma sutil, simplesmente invertendo faltas, minando as defesas com cartões amarelos.
Hoje, no Olímpico, quem apitará o jogo entre Grêmio e Juventude, o mais relevante das quartas-de-final do Gauchão, não será um árbitro de renome. Será o senhor Márcio Coruja, velho conhecido de tardes de Segundona. Velho alvo de justos xingamentos e intermináveis reclamações. Um juiz fraco, “de terceira linha”, nas palavras de Paulo Pelaipe, dirigente gremista. E Pelaipe, apesar de falastrão, está certo. O tricolor, que passou a semana inteira questionando a escala dos árbitros, também merece razão: qual a lógica, afinal, de mediadores competentes irem para o sorteio do confronto já morto entre Internacional e Ulbra e Corujas acabarem ficando para o inflamado duelo de Grêmio e Ju?
Ninguém respondeu à pergunta, simplesmente porque tal lógica inexiste. Um certo cronista gaúcho costuma tratar os egocêntricos figurões do futebol pela alcunha de pavões. Pois os pavões da FGF serão os maiores responsáveis por todo e qualquer possível desacordo ou polêmica que surgir da arbitragem deste domingo. São deles as mãos que definem os sorteios, as escalas, e a importância das partidas para colocar os apitadores. E, acima de tudo, serão eles que, talvez desconhecendo o próprio campeonato que organizam, continuarão acreditando na Segundona como fonte de novos bons árbitros.
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