quarta-feira, 12 de março de 2008

O dono do interior

Bola pro mato...

Jamais se pensou que fosse um jogo fácil. No outro lado do campo, estava o Internacional de Santa Maria, melhor equipe interiorana de fora do eixo caxiense nos últimos anos. E o São Luiz, para almejar a passagem de fase, precisava vencer. Tinha desfalques defensivos: de sua zaga titular, restava apenas o grande Dirlei; um bom jogador, mas solito. No ataque, a falta de fluência nas jogadas também se revelaria adversa.

Com poucos minutos de bola rolando, o Inter-SM passava a impressão errônea de que viera a Ijuí apenas para buscar o empate. Dava chutões, evitava a criação de jogadas e se preocupava, apenas, em combater os oponentes. O passar do tempo mostraria o equívoco daquela análise inicial - os visitantes não davam chutões para amarrar o jogo: eles sabiam muito bem que, numa partida importante, há horas para se jogar ao ataque e outras para se defender. Aquela era a hora da defesa. E dos chutões.

Mesmo melhor naquelas primeiras voltas do cronômetro, o onze ijuiense se mostrava mais perdido que de costume. Seus passes esbarravam na marcação, e as jogadas eram pouco além de lançamentos. Foi nisso que a melhor técnica do Inter-SM se mostrou. Aos 12 minutos, com uma rápida investida pelo lado esquerdo de ataque - usando um espaço que deveria ser resguardado pelo bom lateral Pereira, desfalque são-luizense na noite -, o Interzinho chegou na área local. Se o primeiro chute encontrou defesa de Vanderlei, o rebote foi para o fundo das redes. Um gol que o árbitro anulou por impedimento aparentemente inexistente.

O time de Santa Maria seguia superior. Justificava, sobre o gramado, os números que ostenta na tabela de classificação. Juventude e Internacional, o de Porto Alegre, já haviam desfilado no 19 de Outubro, mas o adversário mais forte visto em Ijuí foi o Interzinho, nesta quarta-feira. O domínio era tão grande que um gol do São Luiz só poderia vir num lance isolado. E veio. No minuto 23, uma boa troca de passes que foi adentrando na área santa-mariense resultou em chute forte de Ronaldo Capixaba. A pelota voou ovalada e explodiu no travessão antes de quicar atrás da linha fatal. 1-0, jogando pior.

Sob o placar desvantajoso, os chutões sumiram definitivamente. O Inter-SM começou a pressionar, pressionar, pressionar com qualidade. Tinha nas bolas paradas, alçadas ao quadrilátero defensivo são-luizense, suas melhores oportunidades - a zaga, aquela desfalcada, não ganhava uma jogada pelo alto. Não ganhou aos 28 minutos, em um escanteio desviado de cabeça por Márcio Rosário, indefensável. Espremidos num canto da geral, em número reduzido, mas dignamente presentes, os Fanáticos da Baixada acendiam sinalizadores para saudar o empate de sua equipe. O Interzinho das remontadas já buscava mais um placar adverso.

Ainda haveria muito jogo. A etapa final veria o predomínio visitante se desfazer, com um São Luiz melhor postado no gramado. O jogo ficou igual, e aquela não era, de modo algum, uma igualdade em baixo nível. O Inter demorou para se habituar com a redução da facilidade do jogo. Ao São Luiz, contudo, ainda faltavam idéias. Como ocorrera no primeiro gol, a segunda bola que encontraria as redes santa-marienses também viria numa jogada pouco trabalhada: após um lançamento que não dava sinais de ter muito futuro, um ressurgido Alcione conseguiu dominar a bola, vencer a zaga, e chutar para fazer um golaço aos 58 minutos. O placar se alterava para 2-1 e, até ali, representava a maior das vitórias do São Luiz no Gauchão. Uma vitória sobre a equipe exemplar da chave, e três pontos indispensáveis para pensar nas quartas-de-final.

Com o tempo diminuindo, aos seus olhos, rapidamente, o quadro de Santa Maria tratou de fazer as vezes de incendiário no jogo. Se a hora dos chutões e de ser melhor havia passado, aquele era o momento de brigar. Dedos em riste e ameaças que só não se transformaram em confusão generalizada porque o resultado não lhes interessava. Quiçá permanecesse em 2-1 se a sorte não surgisse para premiar os competentes: depois de muito insistir, o Interzinho rouba o empate com um gol de Alê Menezes a quinze minutos do final - o chute em si não levava perigo, seria facilmente encaixado pelo arqueiro, mas havia uma perna no meio do caminho... e o 2-2 surgiu do desvio imprevisto.

Duelo em suspenso até o apito final. Os visitantes cresceram em busca da virada, e o São Luiz não deixou por menos, tentando fazer valer o fator local. Os ijuienses acabaram levando a melhor na luta por criar as chances mais claras e, aos 84 minutos, viram o sonho de vitória se desmanchar num milagre monumental do goleiro adversário, salvando com puro reflexo uma cabeçada à queima-roupa. Depois daquilo, embora tenha se visto outras oportunidades, seria um crime a bola ousar entrar. Não entrou, mesmo com o time do 19 de Outubro pressionando até os 90+6 minutos.

Um belo jogo que terminou em igualdade. Placar desastroso para as pretensões do São Luiz, que precisará pontuar fora de casa se quiser a classificação. Simbolicamente, porém, nem Ijuí nem qualquer outra cidade do interior precisa que seu time passe de fase. O Inter de Santa Maria, dos chutões, da luta, da qualidade e das remontadas, honra todas elas.

Um comentário:

San Tell d'Euskadi disse...

Esse texto resume o porquê dos Estaduais existirem contra todos aqueles que querem os destruir!

Parabéns!