Preparar a equipe para as rodadas finais do Gauchão e promover o entrosamento dos reforços recém-contratados. Com esse pretexto, a comissão técnica do São Luiz pediu para que a direção encontrasse algum clube disposto a, nesta semana de estadual parado, fazer um amistoso. Se o objetivo era fazer testes, talvez fosse melhor ficar apenas nos treinamentos... Na noite de terça-feira, veio a Ijuí o TAC (Três Passos Atlético Clube), aproveitando a oportunidade de se preparar para a Segundona Gaúcha, que disputará a partir do final de semana. Embora digno de respeito, o adversário do rubro ijuiense (aliás, o uso do "rubro" ainda merecerá algum post, futuramente) foi parte indispensável do que se constituiu numa apresentação menos que varzeana de futebol. Futebol?
Seria, desde o início, um amistoso guerreado como sempre, se as duas equipes estivessem em pré-temporada. Mas viver intensamente a disputa do Campeonato Gaúcho, tentando conquistar uma vaga na próxima fase, fez com que o São Luiz se resguardasse, jogasse desinteressado. Com reservas, seu pouco entusiasmo ajudou a diminuir ainda mais a qualidade do embate. No fraco primeiro tempo, viu-se o time da casa em uma apresentação marcada pela displicência, enquanto os visitantes disputavam uma árdua batalha contra si próprios para construir algo de produtivo. Um jogo medíocre. Ao intervalo, muitos se perguntavam se ir ao 19 de Outubro realmente tinha sido a melhor opção para aquela noite. Nem mesmo Arílson, um bom jogador que se estragou, novo contratado são-luizense, conseguiu fazer uma estréia digna das expectativas.
Mas ainda havia um segundo tempo. Se o jogo estava irremediavelmente ruim, pelo menos ficaria mais lutado - e divertido. Cinco substituições no intervalo trataram de aniquilar o pouco bom futebol que poderia brotar no lado ijuiense. Vendo que o bicho não estava tão feio e sabendo que vencer um time da primeira divisão - mesmo em formação reserva - daria um ânimo a mais para o início de Segundona, o Três Passos foi criando suas chances. Numa das raras vezes em que conseguiu tramar jogada através de troca de passes, conseguiu um pênalti. Era o quinto minuto da etapa complementar e os visitantes já faziam por merecer um tento contra seus desinteressados oponentes. Carlos, goleiro reserva que teve chance de atuar, pensou diferente: saltou bem para, no seu canto esquerdo, espalmar a cobrança de Marcão em escanteio.
Seguia 0-0. Seguiam os torcedores do São Luiz aumentando sua ira para com os suplentes da equipe. Finalmente, seguia, também, o TAC jogando menos pior. Aos 73 minutos de partida, uma falta ao lado da área são-luizense tornaria interessante o confronto ainda impregnado com tons soníferos. Maicon Leandro cobrou o tiro livre, buscando um cruzamento na área. Esperando o momento adequado de saltar, o arqueiro foi pego de surpresa quando ninguém, atacante ou defensor, conseguiu desviar a bola. No momento em que percebeu a desgraça, já era tarde demais para esboçar reação. O tiro foi direto para as redes, sentenciando o 0-1.
O gol tirou a equipe local de um transe. Quiçá por esperarem um empate insosso, os jogadores do São Luiz acabaram subitamente mudando de atitude frente à iminência de derrota - eram reservas, sim, mas representavam um clube da primeira divisão, jogando em casa e, principalmente, diante de um adversário com entrosamento de poucas semanas. Sim, o São Luiz acordou, passando a querer pressa e briga. Qualquer bola parada que houvesse, lá aparecia um representante rubro para empurrar alguém do TAC, "liberando caminho", e cobrar o lance rapidamente. Bem longe de ser um time de dondocas, o aurinegro de Três Passos respondia à altura, provocando uma crescente nos desentendimentos. Aos 76 minutos, após uma confusão na entrada da área visitante, um jogador de cada lado viu o cartão vermelho.
Intimidado com o clima, o juiz optou pela velha tática de ficar ao lado da torcida, apitando ao melhor estilo caseiro. Sem ser escandaloso, foi tendencioso o suficiente para controlar as ações do jogo: faltas duvidosas sempre eram marcadas em favor do São Luiz - para o TAC, somente lances indisfarçáveis. A briga, agora com críticas à arbitragem, seguia. No minuto 79, nova expulsão pelo lado visitante, agora pelo segundo cartão amarelo. Aí começou a várzea e, claro, as manifestações mais irritadas da torcida: imediatamente após a segunda expulsão, o treinador do TAC coloca um reserva para substituir o jogador retirado do gramado. Depois se descobriria que os técnicos haviam combinado isso, para evitar um confronto desigual, mas nem mesmo alguns jogadores rubros sabiam dessa história.
Sob gritos que punham em xeque a masculinidade do árbitro e a moral da senhora que o pariu, o jogo continuou, com dez para cada lado. O São Luiz seguia pressionando, atrás do empate, num lamentável espetáculo que alguns mentirosos venderiam como futebol. Também continuava a peleia, e provavelmente esse era o maior atrativo daquilo tudo. Aos 81 minutos, por uma agressão na linha lateral, veio a terceira expulsão no time do TAC. Indiferente, fazendo cera, o atleta aurinegro simplesmente esperou o apitador lhe dar as costas para... permanecer em campo! Os torcedores berravam, afogados em raiva, tentando chamar a atenção do árbitro - "o camisa 15 foi expulso, vagabundo!" -, que seguia desentendido. Foram necessários quase cinco minutos para que, informado sobre o fato, o juiz enfim constatasse que, à sua frente, provavelmente aos risos, o tal camisa 15 seguia jogando.
Ele foi mandado para o vestiário, e o TAC já preparava uma nova substituição para manter seus dez homens em campo. Furiosos com aquilo tudo, foram os torcedores que impediram a continuidade da várzea: vaias, ameaças e xingamentos vindos do Pavilhão intimidaram o reserva do TAC que, já em campo, começou a correr de volta para o banco - de costas! Finalmente, os de Três Passos ficavam com nove. Àquela altura, por conta da briga e da ruindade, o futebol já era parte de um plano paralelo. Não foi jogando futebol que o São Luiz chegou ao empate, mas o que vai para as estatísticas é que, no minuto 87, após uma falha de marcação da zaga o gol do 1-1, placar final, saiu. Marcado por, vejam só, Alcione! Definitivamente, não era futebol. Não podia ser. Um treino teria sido mais produtivo.
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