quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Més que un club

BARCELONA - A visita ao complexo do Camp Nou, bem diferente do tom solene do Santiago Bernabéu, começa com uma moderna apresentação tridimensional. A intenção é impressionar, mas para um amante do futebol isso é apenas um obstáculo no caminho rumo ao que realmente interessa: as dependências de um gigante com capacidade para mais de 98 mil pessoas.

Datado de 1957, o Camp Nou simbolizou um importante avanço para a instituição e permitiu que o Barcelona crescesse em representatividade no esporte. Sua construção, porém, só teve início após uma votação entre aqueles que sempre foram o maior trunfo do clube: os associados - em número pequeno à época, mas que hoje superam de longe as cifras de cem mil. Ao visitante que se aventura por ali, tudo começa dentro do gramado para depois subir aos anéis superiores, cabines de imprensa e sala de troféus.

Desde o início, quando se vê o letreiro "Més que un club" (mais que um clube, em catalão), até as outras partes do estádio, percebe-se facilmente o significado do Barcelona para a região. Mesmo poucos anos após a fundação, o Barça já se mostrava capaz de ser, na realidade, a representação do sentimento nacionalista da Catalunha. Um sentimento que, em 1925, chegou a provocar a suspensão das atividades azuis-grenás por seis meses - naquele ano, vaias do público durante a execução do hino espanhol no estádio do clube fizeram com que este fosse acusado de separatista e fechado. Um sentimento que, mesmo com os inconvenientes causados, só cresceu e se fortaleceu ao longo do século em que o Barça alçou as cores catalãs às glórias nacionais e européias.

Joan Gamper, suíço que já havia fundado o FC Zürich antes de chegar na Catalunha, e deu início ao Barça, em 1899, sempre apoiou esse movimento. Ele que, endividado, perseguido e desiludido, deu fim à própria vida em 1930, certamente se orgulharia de saber da grandeza de seu legado. Hoje, falar do Barcelona é inevitavelmente lembrar da Catalunha, de suas reivindicações, de seu espírito. Gamper deixou, definitivamente, mais que um clube de futebol.

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