Foi querendo saber o resultado do jogo paralelo, em Goiânia, que o Corinthians recorreu à velha tática varzeana de atrasar o início da sua partida. Era apenas mais uma das tantas atitudes pequenas tomadas ao longo do ano, que levaram o Timão ao triste desfecho de temporada neste domingo.
O atraso, que se prolongou por quase vinte minutos, pouco fez diferença em favor dos paulistas. No Centro-Oeste, o Goiás, que não é bobo, resolveu usar do mesmo artifício, tornando mínima a defasagem de tempo entre os confrontos. Começou o jogo no Serra Dourada; pouco adiante, também teve início o embate do Olímpico. Os apitos iniciais punham fim às suspeitas e especulações feitas durante a semana. Agora, era tudo na bola, estivesse ela influenciada ou não pelos interesses dos envolvidos.
E se o início das partidas demorou, o primeiro golpe sofrido pela Fiel torcida seria rápido. Com 22 segundos de jogo, o Grêmio avançava por sua esquerda ofensiva, com Jonas - jogador com influência do sangue santista, maior dos rivais corinthianos. Ele sofreu a falta no bico da grande área adversária e ele próprio desviou a bola para o fundo das redes, pondo o 1-0 favorável aos gaúchos no placar, quando o cronômetro mal passava do primeiro minuto de jogo. Começava cedo a agonia, e o Corinthians já estava na Série B com aquele resultado.
Mas havia um jogo inteiro pela frente. Um não, dois. E, enquanto o desespero tomava conta dos paulistas, veio uma fortuna inesperada: pelo radinho, os narradores bradavam um gol no outro jogo. Surpresa, era do Inter! Aos 13 minutos no Serra Dourada, Orozco fez um dos tentos que os colorados menos festejaram em sua vida, salvando momentaneamente o Timão; enterrando, talvez até sem querer, o Goiás.
"Vamo Goiás", dizia uma faixa levada pelos alvirrubros ao jogo de Goiânia. Quase todos os não-corinthianos do Brasil pensavam assim. Que vencesse o Goiás, que perdesse o Corinthians. Em campo, o Inter parecia não querer atender aos repetidos pedidos de seus torcedores.
No Olímpico, a minúscula parte que vestia negro e branco tinha um alento. Lançava ainda tímidos gritos de comemoração quando foi engolida por uma onda de festejos. Quem atacava era o time adversário, mas os gremisas acordavam outra vez: era o empate em Goiânia, era o inferno corinthiano. Que, desta vez, acabou rápido. Poucos segundos após receber a notícia de que estaria na Série B, o Corinthians foi para a linha de fundo, arranjou um cruzamento e teve, pelos pés de Clodoaldo, a reafirmação: "não cairei". 1-1.
A Fiel delirava. O Grêmio, que já tinha poucos objetivos, foi amolecendo em campo - reflexos do destroçar de seus sonhos de Libertadores, esmigalhados pela vitória do Cruzeiro sobre o América. Passando a dar claros sinais de que se entregaria em breve, o time porto alegrense foi para o vestiário ouvindo sua torcida pedir raça. No intervalo, enquanto as incertezas permaneciam, o 1-1 das duas partidas rebaixava o esmeraldino, salvava o alvinegro.
Veio a etapa final. 45 minutos para colocar em jogo toda uma história. A insinuada vida fácil que o Timão teria acabou não vingando: como que decidido a honrar os gritos de sua torcida, o Grêmio, mesmo sem convicção, voltou à carga. E aí, a falta de qualidade do Corinthians pesou. O jogo ficou complicado; as chances de gols, menos claras. Os da casa ainda mostravam mais ímpeto, parando nas mãos do sempre gigante goleiro Felipe.
Entretanto, não bastava sustentar o empate. Era preciso secar o Goiás. E o Goiás, aos 58 minutos do seu jogo, virava o placar para 2-1, num pênalti cobrado por Elson. Num pênalti que, por duas vezes, os corinthianos comemoraram: Paulo Baier errou o primeiro e o segundo tiro, mas ambos foram anulados devido ao adiantamento do goleiro Clemer. O Corinthians voltava a estar rebaixado.
E o tempo passava. Sem qualidade, as investidas paulistas se resumiam às bolas paradas. Nos minutos finais, tentando aproveitar cruzamentos desesperados, até o goleiro Felipe foi para a área adversária um par de vezes. Não apenas fracassou em ambas, como deixou espaço a contra-ataques perigosos da equipe local. No entanto, o Grêmio já não queria vencer. Com a notícia do fim de jogo em Goiânia, o time gaúcho começou a tocar a bola, matando tempo no campo ofensivo. O empate era do interesse de todos aqueles que queriam a desgraça corinthiana.
A última oportunidade de evitar o destino certo veio aos 90+3 minutos, num chute de Zelão, frontal à meta gremista. O goleiro Marcelo Grohe, com o peso do Brasil às costas, apenas encaixou o tiro. O apito final não tardou, para lágrimas da segunda maior torcida do país. 2-1 em Goiânia, 1-1 em Porto Alegre, e o Corinthians vai para a Série B 2008. O Rio Grande do Sul quer para si a glória de ter rebaixado o Timão hoje. A queda, porém, é fruto de erros cometidos em muitos outros domingos de futebol.
Um comentário:
Muito bom texto, Brum.
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