terça-feira, 9 de setembro de 2008

Aplausos salgados

Robinho, contra o Villarreal

Faz uma semana e um dia que Robinho trocou o Real Madrid pelo sem-título-há-32-anos-e-contando Manchester City. No processo de transferência, reprisou a forma mui traiçoeira de forçar a saída do seu clube mostrada no Santos, em 2005. Os últimos dias correram com críticas justas a um jogador que, não podendo exibir um futebol de Ronaldinho, resolveu imitar o gaúcho no seu estilo de ir embora sempre brigado com as equipes pelas quais passa.

Robinho foi, no Madrid, o melhor futebolista do mundo que nunca vingou, mas teve boas vezes como oásis técnico no meio da esquadra merengue. Foi assim naquele jogo contra o Villarreal, o jogo que eu vi como enviado especial do Futebesteirol em janeiro. Eu e os madridistas exultamos com a apresentação do brasileiro: Robinho fez os dois primeiros gols e participou do lance do terceiro, no sensacional 3-2 do melhor jogo do Campeonato Espanhol 2007/08. E eu fui o responsável por transformar a ovação dele nos aplausos de Míchel Salgado.

Naquela noite, enquanto Robinho dava um recital, Salgado jogava miseravelmente mal. Não que eu não goste de jogadores toscos – e não se nega que um chutão ou um carrinho bem dados valem mais que um drible inútil –, mas a ruindade do lateral espanhol ultrapassava esse limite. Ela só rendia frutos podres ou, no máximo, aproveitáveis pelos adversários. Salgado jogou menos que o gremista Hélder nos seus piores dias.

Pois eram passados uns quarenta minutos da etapa complementar. A contagem já era de 3-2 e o telão, lá no alto, estampou uma imagem de Robinho, anunciando sua substituição. Do meu asiento 22, localizado na fila 15, sector 128 do vomitorio 114-S da Grada Alta Lateral Este, fui o primeiro dos quase oitenta mil torcedores do Santiago Bernabéu a levantar para saudar o jogador. Precisava fazer isso para contar aos netos. Os companheiros de grada logo me acompanharam no gesto, pondo-se todos em pé. Gritos de Robinho tomavam o ar, queríamos aplaudir o construtor da vitória. Todos, menos um aficionado ali perto, indignado com aquele ato agora coletivo:

– No, no, va salir Míchel – disse ele, sem tirar as nádegas da cadeira. Aquele não merecia palmas.

Salgado sentiu lesão. De última hora, foi ele, e não o brasileiro, o substituído por Drenthe. O público meio que brochou. Como não podíamos perder a viagem e estávamos levantados mesmo, os madridistas e eu, que incitei aquilo tudo (o egocentrismo é uma merda), aplaudimos o pior jogador em campo. O constrangimento era evidente – a vontade real era de vibrar como um gol pela saída daquilo lá. Pelo menos Bernd Schuster parece ter compreendido nosso anticlímax e, quatro minutos depois, finalmente sacou o camisa 10, para reconhecimento de todo o inocente estádio que então nem sonhava em receber a punhalada nas costas do último dia primeiro.

O problema de Robinho, além do seu risível profissionalismo, é que noites ao estilo da contra o Villarreal jamais foram constantes. Momentos de genialidade importantíssimos alternaram-se com largas semanas de atuações ruins quase equilibradas com as de Salgado. Robinho, o ex-novo-Pelé e ex-futuro-melhor-do-mundo, não foi nem uma coisa nem outra (e não será, continuando assim) na sua passagem pelo Madrid justamente por essa variação inconveniente a um aspirante a fora-de-série. Na Seleção também. O Robinho de domingo desempenhou um papel decente no Chile e, por isso, seu histórico colocaria duvidoso um outro sucesso na quarta-feira. Como a partida é contra a Bolívia, entretanto, Robinho certamente sairá de campo aplaudido; mesmo que jogue pouco, a torcida estará feliz pela goleada quando e se a subsituição vier. Só um Salgado não se consagraria num jogo assim.

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