quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Avaí malvado elimina todos e... cai

Os torcedores mais desprevenidos precisavam recorrer às mercearias nos arredores da Baixada Melancólica. Um brinquedo ou um quilo de alimento não perecível, este era o preço para ingressar nas dependências do estádio do Interzinho e VISLUMBRAR a última rodada do grupo de Santa Maria na primeira fase do Brasileirão Sub-20. Para começar, Avaí e Santos. A seguir, embate entre os Atléticos do Paraná e de Minas. Com o Grêmio folgando e garantido em primeiro lugar, todos os outros chegaram ao fim com chances de ocupar o segundo posto.

Sem querer entrar em campo como membros da IMPRENSA, tentamos oferecer dinheiro para subir às cadeiras do Presidente Vargas – “vocês podem comprar os alimentos com cinco reais” –, mas não deu muito certo. Perdidos por aquelas bandas, ouvimos de um cidadão que carregava um SALAME que o mercadinho tal vendia coisas na esquina de cima, e por menos do que os cinco reais inicialmente oferecidos retornamos com dois sacos de arroz. A comida foi saudada pelos fiscais da entrada com o mesmo entusiasmo com que a partida transcorria até ali: “joga aí num canto e entra no setor que quiser”.

Em cima do gramado seco e repleto de buracos preenchidos por areia, desenrolava-se um zero a zero irritante como as moças que não são satisfeitas no leito. A cancha quase vazia, com as gerais fechadas por conta da falta de COMOÇÃO pública pela partida, soltava bocejos intermitentes. O desértico dos degraus das arquibancadas era o desértico da qualidade apresentada. Beirava o inexplicável que o Avaí tivesse somado quatro pontos antes daquilo. E que o Santos, mesmo jogando melhor, tivesse chegado à rodada final atrás dos catarinenses, com um ponto a menos.

A superioridade desvaneceu os litorâneos paulistas e fez com que todos se esquecessem que o Peixe havia feito campanha de lanterna nos três confrontos anteriores. Já além da meia hora do primeiro tempo, o gol marcado pelo Santos foi encarado como normal. Um bom chute cruzado e uma comemoração pouquíssimo acalorada, de quem não faz mais que a obrigação. O tento não modificou o TRANSE no qual estavam imersos os vinte e dois atletas. Todos os minutos seguintes do primeiro tempo, e os iniciais do segundo, foram como os minutos que vêm logo que o ETANOL começa a diluir o sangue nas veias. Lerdos e amolecidos, assim permaneceram os dois times.
É certo que nasceu de alguma mente mais espirituosa aquela entrada de TRÊS cuscos ao mesmo tempo no terreno de jogo. Não só entraram e seguiram caminhando juntos como ainda proporcionaram uma briga entre si, de dar inveja a qualquer desentendimento desses que têm sido COMUNS ao final das partidas do Brasileirão Sub-20. Mordiam-se e arranhavam-se, os cães. Ganharam os mais eloquentes festejos do pavilhão, e evidenciaram o completo estado de alienação dos atletas em campo. Enquanto a partida esteve interrompida para esperar que os cachorros deixassem o gramado voluntariamente – e o termo é esse, porque ninguém se dignou a retirá-los –, os jogadores ficaram estáticos, indiferentes e com os olhos vidrados em qualquer coisa menos o que estivesse em campo.

Para o Avaí, que precisava recuperar o escore e conquistar uma virada para permanecer ilusionando a passagem de fase, tudo se punha assustadoramente mais complicado pela ausência de um matador. O centroavante Cristian, um camisa 9 sem jeito para o número, avançava aos TROPICÕES e alguma vez atingiu o extremo de pisar na bola e cair sozinho – dentro da grande área santista. Como o futebol é um esporte para quebrar os especialistas, o gol de empate veio com o homem que só errava. Aos 78 minutos, teria sido de Cristian o pelotaço que assinalou o 1 a 1. Ou o sujeito que estava sentado ao nosso lado nos sacaneou após ouvir tantas críticas ao futebol do guri. Porque o gol, o lance e a conclusão, não vimos.

Estávamos distraídos observando a chegada dos atleticanos no estádio, para a segunda partida da rodada dupla. O Atlético Mineiro veio primeiro, e começou o seu aquecimento ao lado da goleira à esquerda das cabines da imprensa, onde a meta catarinense era defendida no segundo tempo. Os paranaenses chegaram depois e fizeram os trabalhos do outro lado. Para ambos, o empate entre Santos e Avaí tinha a DOÇURA de umas TANGERINAS, matando os paulistas e catarinenses abraçados e decretando que o vencedor dos atléticos passaria às quartas-de-final. Com a absoluta falta de raça que só chegou a um gol pela ausência de futebol avaiano no primeiro tempo, o Santos mostrou-se incapaz de buscar um novo balanço das redes.

Os oponentes, ao contrário, se vieram. Se antes a metafórica bebedeira impedia gestos mais BRUSCOS, agora eram os minutos posteriores àqueles em que o álcool desce, quando começam os devaneios etílicos e o cidadão é capaz de realizar mais do que nos momentos de SANIDADE. A parte decisiva do encontro transcorreu sob um vento de tormenta que contorcia as trajetórias dos chutes e fazia todas as pelotas lançadas ao ar retornarem contra a meta do Avaí. Contra o vento, o Santos, o juiz e com CINCO em campo, os avaianos foram lá e viraram. Tá, a parte do juiz e dos cinco em campo não chegou a se concretizar, mas eles contarão para os netos desse jeito. Nem o paredão de AR trancou as investidas do time de Florianópolis, que cercou o gol inimigo de forma tão preocupante que a bola não mais passou do meio de campo.

Aos quarenta e oito e meio do segundo tempo, uma dessas cruzadas à área do Santos encontrou uma cabeça – ou um OMBRO – e fez pouco dos sopros atmosféricos que insistiam em ir para a outra direção. Com míseros trinta segundos de resquício de tempo para a batalha, Jean ombrou a bola e virou a partida para os catarinenses. 2 a 1. Entrevistado por uma rádio como “torcedor neutro” (embora vestisse uma camisa da Chapecoense, num claro desagravo ao São Luiz, que os enfrentaria naquela noite), o Iuri disse torcer para o Avaí por se tratar de um time que não fazia mal a ninguém. Fez ao Santos. E ao Atlético Paranaense.

A remontada do Avaí, além de colocá-lo fortíssimo na disputa pela segunda vaga do grupo e eliminar o Santos, ainda acabava por tabela com as chances do Furacão: os avaianos escalavam até o sétimo ponto, e os paranaenses só podiam subir a seis, caso vencessem. O único que poderia superar os azuis e brancos da Ressacada era o Galo, e para isso precisava triunfar. Os jogadores do quadro curitibano estavam ao lado daquelas traves, observando de muito perto como suas esperanças viraram FARELO. Todo o aquecimento que ainda faziam virava subitamente uma formalidade para um duelo inútil. Só de raiva (?), perderam o jogo seguinte por 2 a 0 e eliminaram de volta o Avaí.

Fotos minhas e do Iuri Müller.

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