sábado, 18 de julho de 2009

O Liverpool de Elías Figueroa

Ou "O jogo que poderia ser a decisão de um Mundial Interclubes"

MONTEVIDEO - O arborizado e bem cuidado Estádio Luis Franzini recebeu, na tarde de um sábado em que uma neblina inescapável ATINGIU Montevideo, o ENFRENTAMENTO entre Liverpool e Racing Club, na abertura da Liguilla pré-Libertadores-y-Sudamericana. NEGRIAZULES e CERVECEROS duelavam por uma dulcíssima utopia: alcançar, pela primeira vez na história, uma vaga para a maior competição do continente e DESAFIAR o recente DOMÍNIO americano do Estudiantes de La Plata.

A cancha do Defensor, situada em meio ao Parque Rodó e nas cercanias do Rio da Prata, foi escolhida porque a Liguilla normalmente garante CAMPO NEUTRO para os seus duelos. Normalmente porque a PEQUENA LIGA reserva algumas exceções inexplicáveis. Não foi o caso de hoje. As platéias do Franzini foram destinadas ao Liverpool, enquanto as tribunas quedaram para os lados de La Academia. Estratégia para dividir quase que igualitariamente as MULTIDÕES enamoradas pelos quadros menores de Montevideo.

Os racinguistas chegaram mais cedo. Esparramaram-se pelo Franzini, ergueram os seus trapos e tingiram de verde e branco a arquibancada violeta que costuma abrigar os ADEREÇOS do Defensor Sporting. Por instantes, os acadêmicos foram maioria. Mas depois do hino nacional uruguaio, EVOCADO no estádio em razão do feriado nacional por flamantes CAIXAS DE SOM, os mandatários do Belvedere assumiram a condição de quase-locais. Quase, pois a partida era Liverpool – Racing, e não Racing – Liverpool. Levantaram as BARRAS atrás de um dos arcos e ocuparam boa parte dos lugares centrais da platéia. Não eram mais de seiscentos, mas grande parte exibia ARTEFATOS em azul e negro. Há AMOR e SERIEDADE no TORCER para o Liverpool.

E havia espectativa para o confronto porque nem Liverpool e nem Racing são presenças constantes e esperadas na Liguilla. O primeiro logrou a classificação ao vencer o River Plate como visitante e com um jogador a menos na última rodada do Clausura. Assegurou a vaga com um sorriso sofrido de quem atravessou uma temporada irregular. Já o Racing obteve a ESTADIA entre os seis quadros que mais pontuaram no Uruguai na sua primeira temporada de volta à elite. O elenco que ATOROU adversários diretos pelo acesso e também quadros INOFENSIVOS, como o HURACÁN BUCEO, na segunda divisão, foi mantido, e o resultado é a participação na Liguilla diante de uma torcida esperançosa.

Ao me deparar com as escalações, JOGUEI o favoritismo para o Liverpool. Tudo por dois nomes de certa FAMA. Marcel Tejera, meio-campista de temporadas no Nacional e de passagem pouco marcante pela seleção uruguaia e Elías Figueroa, atacante que mês a mês aparece como COBIÇADO pelo imparável MERCANTILISMO europeu. Do Racing, apenas os vocábulos do nome de LÍBER QUIÑONES soavam familiares. Muito porque Quiñones foi um dos maiores goleadores da temporada uruguaia e eu sabia disso. ILUDIDO com a possibilidade da tal PLATÉIA (o acordo ortográfico está sendo desprezado em terras orientais) ter alguma COBERTURA que FREASSE os CHUVISCOS que caíam no Rodó, ingressei no lado negriazul – o que incluía, usando de certa lógica, torcer para o Liverpool.

Os primeiros minutos serviram para DESMISTIFICAR um dos mais frequentes estereótipos do futebol uruguaio. Quem aguardava por uma infindável correria, viu o toque de bola dar um ritmo lento ao confronto. Pode ser uma característica RESTRITA de L'pool e Racing. Ou não. Fato é que, com Tejera, o Liverpool rodava o balão com paciência por vezes irritante até resolver atacar a meta do arqueiro Contreras. O Racing mostrou um onze mais ágil e com vocação ofensiva, mas que tampouco apelou para a estratégia da CARRERA imparável.

Aos quinze do primeiro período, os verdes debutaram os cordões da Liguilla. Tento do zagueiro Brasesco, que completou com perfeição o centro que partiu da banda esquerda. Bastou para que os semi-ingleses, antes elogiosos quanto ao bom desempenho na temporada, adotassem o tradicional comportamento CORNETEIRO de VIVER. O volante “El Pato” Sánchez foi a maior das vítimas. Após o gol, Pato invadiu a grande área para um cruzamento perigoso. Uma raridade, ao menos segundo um RESPEITÁVEL apaixonado pelo Liverpool, que ostentava camiseta oficial e um GUARDA-CHUVA com as cores do clube: “Pato Sánchez entrou na área do adversário depois de sete anos de Liverpool”.

No decorrer do encontro, a frase sofreu variações. E o tempo de Pato no clube crescia. Quando acertou um lançamento, “Pato fez a primeira jogada de profundidade em oito anos de Belvedere”. O pobre Pato, enfim, até fazia boa partida. O Liverpool é que se complicou mais quando Pezzolano, jaqueta dez nas espaldas e muita BALACA na ALMA, foi expulso aos quarenta minutos. Apesar da desvantagem numérica, o clube precisava de ao menos um empate para que a DESILUSÃO não INUNDASSE o sonho copero. Não fosse a intranscendência do futebol do Racing no complemento, pontuar na estreia estaria muito distante da realidade do Liverpool. O 1-0 parecia definitivo para La Academia, que deixou de atacar com a AGRESSIVIDADE necessária os dirigidos por Eduardo Favaro. O Liverpool, por sua vez, transpirava horrores para defender com segurança e buscar o empate com dez homens na cancha.

E a recompensa DIVINA chegou, para delírio dos NEGROS DE LA CUCHILLA. Elías Figueroa, de impressionante segundo tempo, arrancou depois de ser lançado por Tejera. O toque que deslocou Contreras justificou a admiração do torcedor pelo futebol de Elías. O Liverpool garantiu o 1-1 debaixo de frio, névoa e garoa. Apesar da qualidade do Racing e da expulsão de Pezzolano. (E de “Pato” Sánchez, quiçá.) “¿Casi una hazãna, no?”, como bradou o mesmo hincha.


Mais fotos aqui.

2 comentários:

Saracura disse...

"(...)e também quadros INOFENSIVOS, como o HURACÁN BUCEO"

Parei de ler aqui!

Yuri disse...

Quando saiu a tabela da Liguilla, decidi torcer pro Liverpool. Depois desse relato, não tem como mudar minha opinião. Que dê Liverpool em alguma competição internacional.