segunda-feira, 13 de julho de 2009

O dia em que Ronaldo (não) jogou contra o Grêmio

PORTO ALEGRE – Os antigos contam uma história especial do Santos de Pelé jogando em Porto Alegre contra o Grêmio. Foi daquelas partidas em que há mais gente que diz ter presenciado do que consta no público total do jogo. Afirmam que durante aquela jornada o goleiro santista ficou sem condições de seguir e O REI abdicou da camisa 10 para atuar no arco. Ao ir ver o Corinthians de Ronaldo jogar no Olímpico neste domingo, eu esperava sair dali com algo para também relatar aos meus netos, diante de uma lareira, numa futura noite chuvosa com o vento frio GEMENDO lá fora.

Não que eu esteja comparando Ronaldo e Pelé. Ronaldo é branco e mais gordo. Mas as situações são parecidas. O Corinthians por si só tem jogadores acima da média geral, como tinha aquele Santos, guardadas todas as proporções, mas a EUFORIA COLETIVA só surge nos locais dos seus jogos quando os maiores CHAMARIZES estão em campo. Um GÊNIO já diria que o Santos de Pelé sem Pelé não é o Santos de Pelé, afinal. O Corinthians de Ronaldo sem Ronaldo... etcétera. Pois o 9 corintiano vem superando os DESCRENTES mais uma vez a base de gols sem fim, ainda que permaneça com um pouco saudável SOBREPESO.

Na rodada anterior à de ontem, o centroavante teve a sua noite mais bem-sucedida no ano. Meteu um hat-trick nas redes de um pobre Fluminense que SUCUMBE como se quisesse pagar suas dívidas com a SEGUNDA DIVISÃO e inflou o peito o bastante para fazer um volume comparável ao da pança, EMPARELHANDO o perfil. Ontem chegava leve. Espiritualmente, pelo menos. E nem os repetidos gritos de “VIÚVO” que vinham das arquibancadas, em referência à morte do travesti com quem o centroavante andou tendo um AFFAIR, abalavam o maior artilheiro das Copas do Mundo.

Os mais de trinta mil gremistas presentes só viam Ronaldo no time do Corinthians. Ronaldo e Mano. Agradeciam a ambos pela vitória do time paulista sobre o Inter na final da Copa do Brasil. Porém, vaiavam o primeiro. O camisa 9 do Timão foi o jogador mais APUPADO de toda a escalação visitante. Ronaldo, o hostilizado. O técnico Mano Menezes, por sua vez, foi o único celebrado na lista de nomes corintianos. Recebeu aplausos que Celso Roth, nessa passagem pelo Grêmio em 2008 e 2009, jamais ouviu. Fez por merecer. No entanto, sua única ação visível por quem estava nos degraus do Olímpico foi um aceno na direção das sociais e das cadeiras cativas. Mano, o da Batalha dos Aflitos, da improvável campanha no Brasileiro de 2006 e do vice da América no ano seguinte, estava do outro lado. E a princípio queria vencer.

E podia vencer bem. Tinha nas mãos o mais recente campeão nacional do Brasil. E tinha o maior jogador em atividade no país. Era como se os vinte e um outros personagens sobre o campo estivessem jogando em função dele. Antes de ser um jogo de futebol, tratava-se de uma disputa MECÂNICA em que o objetivo real era fazer a bola chegar em Ronaldo, porque a partir dali as coisas se resolveriam – ou impedir isso. Aos nove minutos a pelota chegou onde interessava ao Corinthians. O lançamento na área gremista encontrou a cabeça do centroavante, que desviou o esférico para as redes, mas o resultado não foi um gol. Aos nove minutos, o 0 a 1 corintiano não existiu. O cartão amarelo para Ronaldo, por continuar um lance parado por impedimento, sim.

E se vencer a partida dependia, resumidamente, de fazer a redonda chegar ou não no redondo, o Corinthians perdeu o jogo depois dos nove minutos. Durante o resto do primeiro tempo, a defesa do Grêmio, uma defesa desfalcada do lesionado Réver, ANONADOU Ronaldo. E bastaria o primeiro tempo. O tricolor não sofreria maiores ameaças e, além do gol inválido, a melhor chance do Corinthians nos quarenta e cinco minutos iniciais também seria num lance parado por impedimento. Na outra ponta, realizou a sua melhor partida de 2009. Errou pouquíssimos passes, envolveu o Corinthians e empilhou gols COM OS TRÊS RESERVAS. Alex Mineiro, que substituía o gripado Maxi López, fez o primeiro aos 16; Jonas, que entrou no lugar de Herrera, suspenso, ampliou aos 22, e Rafael Marques, zagueiro que cumpria o papel de Réver, fez o jogo virar uma QUASE-GOLEADA de 3 a 0 no minuto 37, com um peixinho ESTREMECEDOR.

Qualquer coisa, de uma roubada de bola a um chute fraco ou um lançamento mais longo, dava certo para o Grêmio iluminado da primeira metade do jogo de domingo. Até a estupidez AFLORAVA no lado oposto, como na expulsão do zagueiro corintiano Jean por ofender o árbitro. Tcheco, tão apagado nas partidas da Libertadores contra o Cruzeiro, RESSUSCITOU com passes precisos e jogadas decisivas para a conversão de dois gols. O apito que pôs fim ao primeiro tempo não foi dos mais lamentados na década, mas poderá ser lembrado como o ato que matou uma das atuações mais perfeitas do Grêmio na era pós-2002. Na saída de campo para os vestiários, com 3 a 0 nas costas em apenas três quartos de hora, Ronaldo caminhava no OBLÍVIO, solitário e pouco assediado. Só os gremistas, muitos dos quais temiam o centroavante antes da partida, lembravam do craque para provocar um pouco mais.

O segundo tempo Ronaldo tirou para reclamar da arbitragem. Numa dessas conseguiu cavar um cartão amarelo para Léo, terminando de minar a zaga do Grêmio, que ficou com todos os seus homens a uma falta mais dura da expulsão. Adiantou pouco. O Corinthians continuou sendo pressionado, e a quase-goleada não perdeu o quase porque os tricolores, tão afinados antes, recordaram o seu passado recente de gols perdidos de forma incrível. Apenas no fim da partida um chute mais perigoso, que não foi de Ronaldo, fez Victor voar – e desempenhar uma defesa com BRILHO. O resto do tempo teve o Grêmio administrando e o Corinthians entregue. Os acréscimos de dois minutos, quase todos consumidos com trocas de passes dos gaúchos ao som do “olé” da torcida, sintetizaram a etapa final que não mudou o 3 a 0.

Aquela história do Pelé jogando contra o Grêmio, a do jogo em que ele teria ido para o gol, deve ser verdade. São vários os relatos sobre aquele dia, que também afirmam que o Rei não foi vazado. Mas eles só coincidem até aí. O que aconteceu depois varia. Alguns contam que o jogo estava em 0 a 0 e assim permaneceu, e o placar vai aumentando de acordo com o TESTEMUNHO. Os mais radicais dizem que o Santos levava 4 a 0 do Grêmio, Pelé foi pra baixo das traves, fechou o arco e, ao fim da partida, os paulistas celebravam uma remontada vitoriosa de 4 a 5, com direito a gol de pênalti do próprio Pelé. Sobre o dia em que Ronaldo jogou contra o Grêmio em Porto Alegre dificilmente haverá tanta DISCORDÂNCIA daqui a uns quarenta ou cinquenta anos. Quem esteve no Olímpico talvez esqueça o tamanho do massacre, acrescentando um ou dois gols na conta do Grêmio, mas a respeito de Ronaldo todos dirão que “não jogou nada”.
Fotos minhas.

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