domingo, 5 de abril de 2009

Tópicos da semana

Tudo o que devia ser escrito mas a falta de tempo ou vontade não deixou.

• Os tchecos e os eslovacos (01/04): num dos projetos arquivados do blog, em dezembro, iniciei uma pesquisa sobre a Seleção da Tchecoslováquia de 1968, mais especificamente sobre Jozef Adamec. Quase ninguém sabe quem Adamec é ou o que fez, e aí estava todo o interesse da história. Em 23 de junho de 1968, no estádio Tehelné Pole de Bratislava, os tchecoslovacos bateram a Seleção Brasileira por 3-2, com três gols do atacante eslovaco Jozef Adamec – foi a primeira vez que alguém marcou um hat-trick no Brasil.

Enviei à Associação Eslovaca de Futebol um email pedindo detalhes sobre a partida e uma forma de entrar em contato com o ex-jogador. Só mais de um mês depois recebi a resposta. Aquele jogo era só um amistoso, os tchecos e os eslovacos separaram-se, o tempo passou, e mesmo as pessoas de lá têm poucas informações sobre a façanha daquela jornada acompanhada por 60 mil pessoas no estádio em Bratislava - Janka Peráčková, o assessor de imprensa que respondeu, disse ter demorado bastante para levantar a ficha da partida.

Lembrei da história porque nesta semana entraram em campo os eslovacos para enfrentar os tchecos, e a Eslováquia bateu os ex-parceiros por 1-2 fora de casa, dando um passo gigantesco para ir à sua primeira competição oficial desde a separação. É segunda colocada no Grupo 3 das Eliminatórias Europeias, um ponto atrás da Irlanda do Norte, que tem dois jogos a mais. Ah, a pesquisa sobre Adamec? Peráčková enviou também dois telefones para entrar em contato com o craque, mas a entrevista não sai enquanto não aparecer algum intérprete de eslovaco – Jozef não fala inglês.

Pelo menos nos restam os dados da partida de 1968: o Brasil saiu vencendo com um gol de Natal aos 4 minutos e sofreu o empate logo no reinício, aos 5; Adamec marcou seu segundo e virou o jogo aos 52, Carlos Alberto empatou aos 58, mas o infernal atacante da Tchecoslováquia voltou a colocar seu time em vantagem aos 70, agora sem recuperação verde-amarela. O Brasil entrou em campo escalado por Aymoré Moreira, com Félix, Carlos Alberto, Brito, Joel, Rildo, Gérson, Rivelino, Natal, Jairzinho, Tostão e Edu (depois Eduardo, do Corinthians). Comandada por Jozef Marko, a Tchecoslováquia mandou ao jogo Viktor, Pivarnik, Horvath, Plass, Hagara, Geleta (depois Szikora), Pollak, Vesely, Jokl, Kabat e Adamec.

• O gol do Felipe Melo (01/04): eu desprezo completamente os jogos entre seleções que não valham por alguma competição de verdade. Eliminatórias, torneios subalgumaidade, amistosos, isso é besteira. A Série A3 paulista é mais emocionante. Só é interessante se acontece alguma anomalia, como a Argentina levar 6 a 1 da Bolívia, que é só a Bolívia, e os torcedores do Independiente ficarem sem saber onde enfiam a cara. Então deixei a tevê no mudo enquanto o Brasil peleava com o Peru no Beira-Rio. Dava umas olhadas de vez em quando. Não sei descrever a vontade de abrir a janela, pular e sair girando a camisa pelo centro de Santa Maria entoando cantigas de louvor à garra quando, numa dessas, botei os olhos na tela e observei Felipe Melo dividindo uma bola DE BICO, correndo, correndo e correndo para fazer o gol que só não foi o mais espetacular do ano porque a conclusão não foi de carrinho. De qualquer maneira, fantástico.

• Volta ao mundo do esquecimento em 70 dias (02/04): um ano sem sal, o 2009 do São Luiz. O time não brigou por coisa alguma. Só fez de conta. No primeiro turno, deu sinal de que tentaria passar de fase. No segundo, esteve por alguns dias cogitando a possibilidade de rebaixamento. Ambas terminaram como coisas remotas. O São Luiz foi um mero andarilho pelos gramados do Rio Grande nesta temporada, ganhando jogos que pouco adiantaram e perdendo muitos outros com mais vergonha que preocupação. De estatística relevante, só o pior ataque da competição, uma maleza que foi às redes onze vezes em quinze partidas.

Pois o jogo de quinta-feira foi o final ideal para um campeonato desses. Sem qualquer chance, o São Luiz recebia o já rebaixado Sapucaiense. Uma partida tão desinteressante e inútil que, enquanto toda a rodada do Grupo B da Taça Fábio Koff era disputada de tarde, o jogo de Ijuí foi marcado para as 19:30 na tentativa de atrair mais público. Qualificaram-nos de heróis os que foram ao 19 de Outubro testemunhar a última apresentação do futebol profissional do São Luiz em 2009. Heroísmo aumentado pelo resultado, um lastimável 1 a 2 a favor dos de Sapucaia do Sul.

Assim acabou o ano do São Luiz. Em 2 de abril, 70 dias depois da estreia contra o Esportivo, em Bento Gonçalves, num 22 de janeiro de vento outonal. São curtos os anos de interioranos que não conseguem se manter no segundo semestre. Curtos demais, e geram até alucinações, que nos obrigam a ouvir radialistas ijuienses CRITICANDO ALIENADAMENTE a direção são-luizense por não disputar as copas do segundo semestre, como se esquecessem os FIASCOS DE PÚBLICO e as TRAGÉDIAS FINANCEIRAS que foram as tentativas feitas em 2004 e 2005. No caso do São Luiz, ter um ano mais longo talvez signifique não ter outros anos, depois.

• Classificação do Interzinho (02/04): e o Inter-SM, que brigava para não cair, que passou o campeonato inteiro ATRÁS do próprio São Luiz na classificação geral para o rebaixamento, e que por bom tempo esteve acossado pela possibilidade palpável de descenso, desencadeou uma reação sensacional no returno e terminou classificado às quartas-de-final. Não fosse o Juventude, que tem uma predileção especial por entregadas nas rodadas decisivas, o Interzinho poderia até fazer a primeira partida do mata-mata em casa... mas os caxienses perderam para o Veranópolis e mandaram o time de Santa Maria tentar a sorte em Canoas, contra a Ulbra.

• Clássico uruguaio na floresta (04/04): tem Nacional e Peñarol nesse fim de semana, disse-me o Victor, em algum momento da semana passada. Pensei ser sério, perguntei por qual competição valia a tal partida, e aí notei que eram os times falsos: valia pelo Campeonato Amazonense. Ontem, o improvável jogo entre o Nacional Futebol Clube e o Penharol Atlético Clube, de Manaus, terminou com vitória do “Bolso” por 2 a 1. Branco abriu o placar para o Nacional aos 41 minutos, Rodrigo buscou o empate dois minutos depois e, no comecinho do segundo tempo, DEURICK definiu o “clássico uruguaio” marcando o segundo do NAÇA.

• Centenário do Internacional (04/04): pelo Rio Grande, as ruas das cidades foram tomadas por camisas vermelhas e brancas no sábado. Um ou outro gremista tentava mostrar a cara, como um soldado resistente diante da batalha perdida, mas logo sumia na multidão. O orgulho colorado, revigorado nesses últimos gloriosos anos, explodiu como os foguetes que tomaram os céus na madrugada de ontem e durante o resto do dia em que o clube atingiu a marca de três dígitos em anos completos após a fundação. De 1909 a 2009, títulos de todos os tipos, em especial de três anos para cá. Uma época tão boa, a atual, que os astros conspiram para dar de presente de aniversário aos colorados o maior duelo desta terra, botando um inesperado Gre-Nal neste domingo. Celso Roth, que não vence Gre-Nais, tentará fazer seus comandados evitarem que o resultado da partida de daqui a pouco também seja um presente aos rivais.

• O jogo com cara de final (05/04): esse Gre-Nal de logo mais, aliás, sustenta uma aura diferente do que deveria ter um jogo de quartas-de-final. Depois disso haverá mais duas partidas para definir o vencedor do turno, mas parece que elas são insignificantes. Interessa, apenas, quem vencer hoje. É sabido que não haverá interiorano ou pequeno capaz de parar o Inter - e é certo que uma vitória vermelha hoje, eliminando o Grêmio, define o Campeonato Gaúcho de 2009. Pela parte gremista, todo o retrospecto em clássicos nos dois últimos anos, os resultados invejáveis dos alvirrubros no returno e a não mais que modesta campanha do seu desmotivado time no Gauchão somam-se para apagar o discurso de desprezo à disputa regional e criar uma vontade renovada de pôr fim à justificada flauta. Ainda mais nessa data. Há um desespero tal para vencer o Inter que muitos gremistas veem a partida quase como se rendesse uma taça depois do apito final.

5 comentários:

Fernando Schultz Aldado disse...

Já procurou os brasileiros envolvidos nesse jogo contra a Tchecoslováquia? Devem ter algumas informações...

Yuri disse...

"A Série A3 paulista é mais emocionante"

Valeu, cara!! Nem sei se foi ironia, mas que se dane!!! Há anos eu assisto os jogos do ASCENSO paulista, mas nunca tinha visto alguém fazer referência comparativa em blog, quanto mais do Rio Grande do Sul.

A verdade é que o país todo acompanha, fato confirmado pelos e-mails da Rede Vida, mas em blog, eu nunca tinha visto. Parabéns pela citação.

E sim, alguns jogos do ascenso paulista são melhores que os da seleção.

Anônimo disse...

se o gauchão não valia nada como é que caiu o celso roth?

Maurício Brum disse...

@ Fernando: pois não tentei nada. Com as viagens pra acompanhar o Gauchão e a Segundona desde janeiro acabei deixando esse projeto de lado... nem levei adiante minha tentativa de catar jornais brasileiros da época pra ver como repercutiu.

@ Yuri: não foi ironia. Claro, eu não sou muito fã daqueles jogos entre clubes fundados por empresários, que só servem pra revelar jogadores e fazer dinheiro (como tem bastante nas divisões inferiores de SP). Mas as partidas entre equipes interioranas com alguma torcida e tradição são muito mais apaixonantes que partidinhas amistosas ou desvalorizadas entre seleções.

@ Anônimo: o Gauchão vale pouco pra um clube da capital, mas a desvalorização feita pelo Grêmio realmente atingiu níveis ridículos. Os 3 Gre-Nais com placares idênticos (ainda que com histórias radicalmente diferentes) e a demissão do Roth foram castigos merecidos.

Yuri disse...

Tem um bocadinho de clube fundado por empresário, sim. Mas a boa maioria tem camisa velha.

Eu não faço idéia de quais são os critérios aí no Sul para que um clube possa integrar a Segundona, mas com certeza, são mais brandos que os daqui em SP. É muito difícil um clube participar aqui, infelizmente. O estado de São Paulo tem uma infinidade de clubes tradicionais que poderiam existir e já jogaram profissionalmente, mas há um ridículo critério rigoroso para isso e dívidas impagáveis. O pior é ouvir DA BOCA de um dos mais importantes membros da FPF que "CUSTA CARO" manter muitos clubes ativos... tenha dó. Era prá ter uns 150 clubes ativos, no mínimo.
Digo isso pois é lindo ver clubes como esses mostrados, e como eu sempre digo: estádio bom é aquele que intimida.

Mas não se pode reclamar, eu tenho orgulho dos clubes daqui, as virtudes são maiores. E dá prá notar seu grande orgulho em mostrar os clubes do interior gaúcho, no que está certo. Seus relatos da Segundona são muito bons. Parabéns.