O Milan entrou em campo vestindo branco. Recebeu as saudações da sua torcida, num canto das tribunas atrás do gol, e ficou postado para a peleja iminente. O Milan não era o Milan de Kaká, de Ronaldinho, de Pato ou dos outros quinhentos idosos que compõem o elenco italiano. Era o Esporte Clube Milan da cidade de Júlio de Castilhos, do goleiro CATARINO, que ontem substituiu JOCELITO, dos centroavantes sumidos e do meio de campo que não funcionava. Pouco conhecido pela força, esse Milan, e do outro lado estava o Riograndense. Horas antes, tentei convencer o Kevin a assistir à partida:
– Cara, vamos ao jogo. É contra o Milan!
– O Milan?
– Iés.
Fracassei. O nome enganoso do time visitante não modificou a vontade dele, e a falta de qualidade pouco faria melhor. Deveria ter apresentado as credenciais do time de Santa Maria. O Riograndense que pisou no agora-bem-melhor gramado dos Eucaliptos vinha como uma máquina na abertura da Segundona Gaúcha. Nas duas primeiras rodadas, goleou seus adversários TAC e Lajeadense por gordos placares de 1 a 0, e ontem defendia mais que a invencibilidade de gols e jogos: um terceiro triunfo consecutivo representaria o melhor começo de Segundona do clube desde 2004, quando reestreou nessa divisão. O coração dos aficionados de hoje é uma pedra, mas talvez o Kevin levasse mais a sério e se comovesse com a situação. Como eu não argumentei com tudo isso, ele não foi.
O ingresso de geral nos Eucaliptos custa acessíveis dez reais. No último jogo dos ferroviários em casa, estranhei que tivessem pego os bilhetes na entrada, se estava escrito bem claro “Riograndense X Três Passos”. Ontem, venderam-nos os mesmos papéis, com o nome do TAC riscado e, embaixo, impresso o do Milan falso. Conter despesas é uma arte. O Riograndense passou tantos anos sem futebol profissional, desfez-se de grande parte da sua estrutura para conseguir retornar, gastar em ingressos é totalmente supérfluo. Melhor contratar o Sandro Sotilli quando o Gauchão acabar. Apesar do preço, o nosso canto do estádio só foi parecer ter público bom no segundo tempo, quando meia arquibancada levantou-se e trocou de lado para acompanhar os ataques do Riograndense. É comum ver isso na tevê quando a Portuguesa joga no Canindé; e eu invariavelmente me perguntava se, às vezes, não seria melhor ver o adversário atacar. Neste sábado, não questionei. Com meio jogo jogado, o Riograndense vencia por 2 a 0, gols de cabeça de Cristiano Jung, aos 29 minutos, e BONALDI, aos 32. Havia tido antes deles um gol anulado e, depois, desperdiçou meia dezena de oportunidades interessantes.
Não havia reação por parte do Milan. Na estreia a equipe só foi capaz de empatar em casa com o Panambi, por 2 a 2 e marcando gol no fim, e na segunda rodada foi a Vacaria ser impiedosamente arrolhada pelo Glória, saindo de lá com um 4 a 0 nas costas. Terminou a tarde de ontem com goleada igual. A LOCOMOTIVA Riograndense passou por cima da LINHA defensiva do Milan e fez uma festa. Agora, do nosso lado do campo. O terceiro gol, anotado por Rodrigo aos 58 minutos, até pôde ser filmado, já que de pênalti:
Alfinete tentou de todas as formas guardar o seu, sem sucesso, Catarino acumulou boas defesas depois de ter o confronto dado por perdido, Bonaldi rachou ao meio um travessão com uma das suas fenomenais cobranças de falta aos 70 minutos e, aos 72, Silvano concluiu o 4 a 0, numa bola que também bateu na trave, mas entrou. Com Mainardi, que não é o goleiro titular, o Riograndense chegou a 270 minutos sem sofrer gols e firmou-se na liderança do grupo com méritos. Foi, igualmente, a segunda vez na década que o time venceu três partidas em sequência na Segundona – a primeira foi no ano passado, quando encadeou triunfos contra Cachoeira, Guarani de Venâncio Aires e o próprio Milan nas últimas rodadas do heptagonal de abertura daquela Segundona, classificando-se.
Um avanço gradual. Entre 2004 e 2007, o Riograndense disputou 70 partidas pela divisão inferior e venceu apenas oito. Em 2008, mais forte e copeiro, venceu sete partidas em catorze disputadas só na segunda fase daquele campeonato; fez campanha de classificado, poderia ter brigado por coisas grandes, mas os tribunais SAQUEARAM meia dúzia de pontos e mataram os sonhos. Ficou na alma um desejo de vingança. Ao menos até aqui, os jogadores de 2009 vêm mostrando bola suficiente para concretizá-lo. Mas os outros fortes vêm de Pelotas, Rio Grande, Bagé, da Região Metropolitana, e só aparecem mais adiante na saga até a elite.
Um comentário:
Esse pavilhão dos Eucaliptos é sensacional. Espero que o preservem sempre.
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