O Chile é um dos poucos países na América do Sul com que o Brasil não faz fronteira. Brasil e Chile não têm origens históricas parecidas e nem falam a mesma língua. Mas se procurarmos bem, mais especificamente no lado vermelho da capital gaúcha, veremos uma forte semelhança entre Brasil e Chile. É o Índio Tupi e o Don de Chile. Índio e Figueroa.
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Don Elias desembarcou no Beira-Rio em 14 de novembro de 1971. A contratação, claro, foi um furor. Era jogador da sua seleção, havia participado da Copa de 66, a última até então do Chile, com apenas 20 anos. Foi comprado do Peñarol, que ainda estava em dias bons. Mas um depoimento atual de Ruy Carlos Ostermann denuncia a visão da imprensa em relação a Don Elias na sua chegada:
“A primeira informação era péssima: tratava-se de um zagueiro baixinho, que jogava de líbero”.
“A primeira informação era péssima: tratava-se de um zagueiro baixinho, que jogava de líbero”.
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Índio, um zagueiro de muita rodagem pelo Brasil foi apresentado no Internacional em 22 de dezembro de 2004. Sua história no futebol inicia no Novorizontino do interior paulista. Foram sete temporadas de “futebol caipira” até receber uma chance no Figueirense em 2000, depois de disputar com destaque a Copa João Havelange pelo Botafogo Paulista. Em 2002 ele foi para outro Botafogo, desta vez o carioca, e deste para o Palmeiras até chegar no Juventude, onde teve grande destaque após três temporadas. Daí, para no Inter, na data acima citada. O jogador declarou em sua apresentação:
“Estou muito feliz por poder jogar no Internacional, uma equipe de grande tradição. Certamente irei me dedicar o máximo possível, espero conseguir um lugar no time”.
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Tanto o tupi quanto o chileno chegaram sob certa desconfiança no Beira-Rio. É claro que Figueroa empolgava muito mais, afinal de contas já havia sido eleito, por algum órgão desportivo, o melhor do mundo por duas vezes. No passar do tempo (a saber, no futebol o tempo passa muito mais rápido) Don Elias ganhava destaque no colorado, tanto pelas atuações em campo, quanto fora dele, um verdadeiro pop-star. Era admirador de vinhos e de Literatura.
Índio logo que chegou ganhou a confiança de Muricy. Foi campeão gaúcho em 2005 e vinha atuando muito bem, tanto pelo Brasileiro como pela Sul-Americana. Até que uma lesão viria em seu percurso.
Índio logo que chegou ganhou a confiança de Muricy. Foi campeão gaúcho em 2005 e vinha atuando muito bem, tanto pelo Brasileiro como pela Sul-Americana. Até que uma lesão viria em seu percurso.
“O zagueiro Índio, do Internacional, é mais um problema na escalação para o técnico Muricy Ramalho. O jogador fraturou duas costelas em disputa de bola no empate com o Rosario Central, nesta quinta-feira, no Beira-Rio”
Mas Índio é um guerreiro. Recuperou-se a tempo de ser inscrito na Libertadores de 2006. Reserva de um ascendente Bolívar, ele só voltou à titularidade nos pós-Libertadores, merecidamente, pois foi ele a arma secreta de Abelão no segundo jogo da finalíssima, formando um 3-5-2 pela ausência de Fabinho, então expulso em um lance bobo no primeiro jogo. E veio o restante do Brasileirão. Ele e Fabiano Eller fecharam a área colorada, dando a Renan o recorde de invencibilidade de um goleiro.
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“A área é a minha casa, aqui só entra quem eu quero”. Esse era o lema de Figueroa. Um jogador com muita raça, lealdade (jamais foi expulso de campo), muita técnica para desarmar, além de um ótimo jogo aéreo. Saía da área com elegância, cabeça alta e toques curtos, passes precisos. De fato, um dos poucos beques que combinava com o futebol-arte de Zico, Pelé, Falcão... Falcão, aliás, foi líder do Inter com Figueroa. Eram dois líderes que se entendiam muito bem, e assim com a maioria do elenco. Eles conquistaram juntos os brasileiros de 75 e 76. Foi do chileno o gol que deu a vitória por 1 x 0 sobre o Cruzeiro, na final do Brasileiro de 1975. O chamado gol iluminado é reproduzido abaixo, seguido de sua história:
# Era a finalíssima e o jogo estava 0 a 0. Valdomiro recebe falta do cruzeirense Piazza no lado direito do campo, próximo à linha de fundo. Ele mesmo bate. A barreira pula, mas a pelota chega na área e nos arredores da pequena área estava don Elias, que sobe e testa, pro gol. O jogador estava na única parte do gramado onde os raios de sol reluziam, o Gol Iluminado, o gol do título.
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Depois da espetacular atuação ao lado de Eller no Brasileirão, é chegada a hora de entrar em campo para decidir quem era o melhor do mundo. Inter ou Barcelona. Nesta partida, Índio foi muito bem. Usou a força, uma de suas maiores características, para encarar o poderoso ataque do time catalão. Lances:
# Índio comete falta em Ronaldinho e leva cartão amarelo, a defesa colorada valia-se do revezamento. “Pô Índio, assim tu vais me machucar” reclama Ronaldinho. “É que eu não podia deixar tu girar, senão tu ias fazer o gol” responde. No intervalo, os dois saíram de campo conversando.
# Bola cruzada para a área colorada. É o segundo tempo e Fernandão sentia câimbras, preparava-se para sair. Belletti é impedido de cabecear, a defesa corta. No momento do cabeceio de Índio, Edinho, que também se elevava, acerta o nariz do xerife com o cotovelo. O nariz do zagueiro sangra abundantemente. Ediglê vai para o aquecimento, talvez Fernandão tivesse que ficar em campo, era a última substituição. Mas os médicos improvisam um curativo no nariz de Índio. A respiração, agora, era só por uma narina. A camiseta de manga longa, manchada do sangue vermelho é trocada... por uma curta.
# Índio comete falta em Ronaldinho e leva cartão amarelo, a defesa colorada valia-se do revezamento. “Pô Índio, assim tu vais me machucar” reclama Ronaldinho. “É que eu não podia deixar tu girar, senão tu ias fazer o gol” responde. No intervalo, os dois saíram de campo conversando.
# Bola cruzada para a área colorada. É o segundo tempo e Fernandão sentia câimbras, preparava-se para sair. Belletti é impedido de cabecear, a defesa corta. No momento do cabeceio de Índio, Edinho, que também se elevava, acerta o nariz do xerife com o cotovelo. O nariz do zagueiro sangra abundantemente. Ediglê vai para o aquecimento, talvez Fernandão tivesse que ficar em campo, era a última substituição. Mas os médicos improvisam um curativo no nariz de Índio. A respiração, agora, era só por uma narina. A camiseta de manga longa, manchada do sangue vermelho é trocada... por uma curta.
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Tanto Don Elías quanto Índio tiveram sua altura questionada (Índio tem apenas 1,80). O primeiro era leal, o segundo tinha a virilidade, jamais a maldade. Índio é muito forte, divide muito bem. Ambos curtem a vida social. Figueroa ganhou tudo no Brasil, feito jamais alcançado por Índio, que por sua vez foi o xerife da era mais internacional do Internacional. Mas esta matéria, é claro, é feita pela maior semelhança entre os beques: os gols. O Chileno, 26, o Tupi, 25. O Tupi, sim, baterá esta marca, e em breve. O que ele quer, ele pode. De cortador de cana a Campeão do Mundo...!
A memória não vos esquecerá. A voz do povo é a voz de Deus. A Academia do Povo canta os nomes seus.
4 comentários:
por favor, se alguem que ler estiver na comunidade do inter no orkut, faça um post com o link da matéria!
Muito interessante.
O próximo será a comparação de Bender e Réver (ou CI e Danny Morais).
Abraço
hehehehe
e outra será entre Gabriel e Peçanha, o menino das ct de base
Parabéns! Belo texto.
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