segunda-feira, 2 de março de 2009

O Gre-Nal de Roth

Celso Roth é um sujeito estranho. Pode ter sido inveja do retrancão executado pelo Universidad de Chile na quarta-feira, um temor acima do normal em relação ao Inter, a tentativa de, novamente, inventar algo numa final para calar a boca dos críticos; pode ter sido apenas a sua tradicional incapacidade de conviver com as decisões. Talvez Freud explicasse, diria que isso é um trauma sexual mal resolvido, sei lá, mas eu não explico, porque eu não vejo justificativas lógicas para o que o treinador do Grêmio fez neste domingo.

Parece uma necessidade constante de se autossabotar, mesmo quando tudo conspira a seu favor. Fazia tempo que o Grêmio não amassava um adversário como na estreia da Libertadores. Fazia tempo, também, que não se dizia que o time do Grêmio era possivelmente melhor que o do Inter. A última vez havia sido em 2002. Agora em 2009 voltaram a arriscar comentários neste sentido. E, no entanto, Celso Roth, desacreditando os indícios desfavoráveis a este esquema e as boas atuações com o outro, escalou um time num 3-6-1.

Foi um espetáculo lamentável o proporcionado pelo Grêmio no Beira-Rio. No primeiro tempo, um Internacional sem Alex e D’Alessandro passeou. Mesmo que não criasse chances (e criou), não teria motivos para temer uns adversários que não eram capazes de atacar – porque não tinham quem povoasse o ataque. Destaques na quarta-feira, Tcheco, apagado, e Souza, bem marcado, sumiram. O Inter também amarrou os alas gremistas, que poderiam fazer o esquema dar certo, e Alex Mineiro ficou lá na frente mais solitário que um torcedor da Ulbra no Complexo Esportivo da universidade.

O mais sensacional do Roth é a sua MÁGICA vontade de ser previsível. No intervalo, com o Grêmio ainda segurando um miraculoso 0 a 0, graças principalmente às defesas de Victor, poucos acreditavam que o treinador fosse modificar algo. Quase nunca muda. Não mudou. Ver-se-ia (!) mais do mesmo. Mais do Inter dominando. Estupefatos diante da tevê, muitos gremistas comentaram que bastaria sair um gol para o senhor Juarez botar outro atacante e ir recuperar o resultado desesperadamente.

Acabou que tivemos a mostra mais clara da falta de convicção em manter o esquema de um atacante: com menos de dois minutos da etapa complementar, numa HECATÔMBICA linha de impedimento feita pela zaga tricolor, deixando seis colorados livres e desimpedidos (com trocadilho), Índio abriu a contagem. E Roth, veja só, já se preparou para fazer duas substituições, entre elas a entrada de Jonas, o segundo atacante. DOIS MINUTOS. Por que não fazer no intervalo? Porque estava empatando? Então Roth estava contente em empatar e levar o jogo para os pênaltis? Estava.

Viu-se claramente depois que Alex Mineiro, no único chute consciente e certeiro do Grêmio na tarde, empatou a partida aos 60 minutos. Os tricolores ensaiaram mais uma pressãozinha e voltaram à sua pasmaceira, inclusive com a entrada de Héverton para reforçar a zaga desmanchada no intento de partir ao ataque. Bem contentes com o 1 a 1. Mais: não demonstravam qualquer gana ou vontade de mudar a história do embate. Ouvindo um treinador dizer que o Gre-Nal de hoje valia pouco, que o que interessa é a Libertadores e deus-sabe-mais-o-quê, nem poderiam mesmo. Sim, a Libertadores é o principal objetivo. Não, ninguém pode pensar em Libertadores no momento em que a próxima partida está a DEZ DIAS de distância.

Creio que o Grêmio não pensou na Copa, então. Devem ter olhado para os céus que se abriam, felizes ou não pelo fim da chuva, mirado os quero-queros que voavam por ali, contemplado as torcidas que não paravam de cantar, qualquer coisa. Mas não pensaram na Libertadores. Nem no jogo de ontem. Celso Roth, por seu turno, não se indignava diante de tal falta de postura. Provavelmente sorria. “Oba, vamos pros pênaltis”.

Não foram. Por volta do minuto 77, veio a chance de o Inter fazer aquela que está sendo a jogada infalível nos Gre-Nais das últimas duas temporadas: erguer ou cruzar uma bola na área do Grêmio. Em 2008 lances assim eram o terror dos azuis. Em 2009 estão sendo outra vez. O gol contra de William Magrão em Erechim, o primeiro gol do próprio jogo deste domingo estão nos exemplos. E o segundo gol, o gol que valeu a vitória do turno, também. Bola cruzada da direita, Magrão subindo livre para cabecear e fazer o 2 a 1.

Por sua qualidade, pelas falhas defensivas gremistas, mas em parte gigantesca pela perspicaz fórmula Rothista de destruir as conquistas táticas que obtém, o Inter vencia um Gre-Nal que merecia vencer. Os colorados reconheceram o esforço do treinador rival, a arte de acordar a cada dia e perguntar “como vou complicar a vida dos que me pagam duzentos mil por mês?”, e ovacionaram Celso Roth nos minutos finais da partida. Conviver com Roth tem sido assim. Tem sido ver um time jogar bem, chegar longe e, por razões inexplicáveis e mudanças absurdas, fracassar na hora decisiva. Gauchão 2008, Copa do Brasil 2008, Brasileirão 2008, Taça Fernando Carvalho 2009, e a lista de refugadas promete crescer. Todo o trabalho rui como no mito de Sísifo. Em Gre-Nais, vão já seis jogos seguidos sem vitórias do Grêmio sobre o Inter. Seis jogos com Celso Roth.Quando estive no Olímpico, quarta-feira, sentado ao lado de um torcedor possesso que puteava o treinador pelos erros de Alex Mineiro, como se ele tivesse alguma coisa a ver com os chutes fracos do centroavante, pensei ter concluído o porquê das vaias a Celso Roth quando seu nome é anunciado. Há muito de preconceito em relação ao seu currículo de escassos títulos, muito de botar nele culpas que não são suas. Mas Roth tem essa irritante mania de se revoltar com o Universo quando ele tenta fazer tudo conspirar a seu favor. O deste domingo foi um Gre-Nal que Roth perdeu sozinho. E a sua insistência em repetir episódios assim nas partidas mais importantes é o que faz gremistas pedirem a sua cabeça antes que seja tarde demais e colorados gritarem o seu nome antes de verem Guiñazu erguer a taça do turno.

No mais, caso o Grêmio conquiste resultados e avance a uma improvável final de Libertadores, uma boa alternativa seria demitir o Roth após a segunda partida da semifinal.

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