Era um calor atípico para um dia de inverno. Nos últimos dias a temperatura em Boston subira mais de vinte graus, saindo de gélidas contagens negativas. Mas o aquecimento anormal seria a menor das estranhezas naquela manhã. Ele seria, isso sim, causa da bizarra tragédia daquele 15 de janeiro de 1919: a Grande Inundação de Melaço de Boston.
O calor provocou a explosão do tanque mantido pela Purity Distilling Company à beira do rio Charles. O melaço era utilizado como matéria-prima na produção de bebidas alcoólicas como o rum e na fabricação de munições – aplicação que fez a empresa, na tentativa de fugir do pagamento de indenizações, alegar que anarquistas haviam provocado a explosão. A realidade, claro, era outra: a temperatura elevada acelerou a fermentação do produto e o gás carbônico resultante aumentou a pressão interna do tanque, que continha o equivalente a 2,3 milhões de galões (8,7 milhões de litros) do derivado da cana.
Quem viveu disse ter escutado sons parecidos com uma metralhadora seguidos por um ruído semelhante a um trem passando pela linha. Eram os parafusos do tanque saltando, e na sequência o improvável tsunami de melaço tomando as ruas: com uma altura de quatro metros (doze segundo estimativas exageradas) e uma velocidade de quase 60 km/h, a onda engoliu quem estivesse por perto. Construções próximas foram derrubadas, 21 pessoas morreram, algumas afogadas, e 150 ficaram feridas. Cavalos também estiveram entre as vítimas e até um caminhão teria sido carregado por vários metros na direção do porto.
O desastre do melaço em Boston foi somado a outro revés para as bebidas alcoólicas ocorrido no dia seguinte – em 16 de janeiro de 1919 foi aprovada a Lei Seca nos Estados Unidos. A limpeza das ruas demorou seis meses, e ainda hoje há quem afirme sentir o cheiro adocicado do melaço quando passa por lá.
Tão abrupta quanto uma onda doce devastando o coração de uma metrópole, acidente que completa noventa anos hoje, é essa ascensão vivida pelo Barcelona ao longo de 2008/09. Apenas meio ano atrás, o Barça era um clube recém-saído de uma temporada catastrófica, em crise política e mudando de treinador. Agora quem se vê perdido em maus resultados e escândalos é o Madrid, enquanto os catalães lideram a Liga, seguem na Copa do Rei, onde se classificaram ontem às quartas-de-final, e pintam como um dos favoritos ao título europeu. No campeonato aparecem doze pontos à frente do Real Madrid, com 15 vitórias em 18 rodadas, e a estatística mais impressionante é a de gols feitos: são 54, numa média perfeita de três por partida. O ataque, liderado por um Eto’o que quase foi embora e hoje é artilheiro da Liga, derruba as zagas oponentes como um tsunami. De melaço, quiçá.
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