segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

No fim, gols no fim

TORRES - O último final de semana de 2008 teve muitos campeonatos parados, mas as partidas de alguns seguiram. Desses jogos remanescentes, quatro dos que acompanhei foram marcantes por suas definições com gols no nonagésimo minuto ou para além dele. Nos arredores do fim de semana do fim de 2008, os gols no fim que cambiaram coisas:

Aos 90, à final
Existe uma tradição na Copa do Imperador do Japão que a faz ser definida, sempre, desde 1969, no primeiro dia do ano seguinte. A edição de 2008, a 88ª da Copa na história, terá sua final no dia 01/01/2009, então era natural que as semifinais tivessem lugar por esses dias. A bem da verdade a partida foi na madrugada de hoje pelo horário brasileiro, mas é quase uma extensão do fim de semana. O confronto entre FC Tokyo e Kashiwa Reysol, no estádio Ecopa de Shizuoka, começou sorrindo para o lado da capital quando Suzuki abriu o placar no primeiro tempo, mas na etapa complementar o aurinegro de Kashiwa mostrou poder. Empatou com o brasileiro França, aos 68, e rompeu a igualdade no último suspiro da partida: Tadanari Lee, ex-jogador do próprio FC Tokyo, virou a contagem para 1 a 2 aos 90. No dia 1º, o Kashiwa jogará uma final pela primeira vez desde a adoção deste nome, e pela primeira vez desde 1975, quando o clube se chamava Hitachi. O adversário será o Gamba Osaka, famosinho após o Mundial.

Aos 90+3, o título inédito
A Copa do Sudeste Asiático foi identificada por vários nomes desde a sua criação. Tiger Cup (pelo patrocínio de uma cervejaria da Cingapura), ASEAN Football Championship (o nome da federação regional) e, em 2008, AFF Suzuki Cup, com o apoio da montadora de automóveis japonesa. O que permaneceu igual nas seis edições disputadas até este ano era que ninguém conseguia destruir a hegemonia de Tailândia e Cingapura na competição. Os tailandeses ergueram as taças de 1996, 2000 e 2002; Cingapura saiu campeã em 1998, 2004 e 2007. Em 2008, as duas seleções brigaram pelo título contra Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar e Vietnã, e justificaram todo o favoritismo na primeira fase – passaram com 100% de aproveitamento nos seus grupos, orgulhosos de defesas quase intransponíveis (a Tailândia não levou nenhum gol, e a Cingapura apenas um). A normalidade desapareceu quando o Vietnã surgiu, nas semifinais. Primeiro derrubou a bicampeã Cingapura, empatando por 0-0 em casa e, diante de 55 mil atônitos espectadores, vencendo por 0-1 fora. O choque, no entanto, não acabava com as chances de manutenção do domínio dos dois campeões, pois na outra semi a Indonésia era despachada pela Tailândia, e a Tailândia já havia derrotado o Vietnã por 2-0 na primeira fase. Aí veio a final. Em Bangcoc, os vietnamitas deram um passo gigantesco na direção da taça ao vencer por 1-2, no dia 24. Só que não havia gol qualificado. E isso quase custou os sonhos ao Vietnã. Ontem, em Hanói, o selecionado local levou um gol de Dangda aos 21 minutos e viu o placar agregado ser igualado desgraçadamente, o que forçaria a prorrogação. Aos quarenta e oito do segundo tempo, com o jogo quase encerrado, mas as esperanças nunca, o embate tenso premiou o time da casa com uma falta e dela Lê Công Vinh emergiu como deus. O camisa 9 botou a esfera nas redes tailandesas, o 1 a 1 na contagem e a taça inédita no armário da federação.

Aos 90+4, uma vergonha menor
São patéticos os resultados do Manchester City no Campeonato Inglês da temporada. E isso é bom. De clube mediano querendo fazer coisas grandes por conseguir um dinheiro do nada já basta o Chelsea. Mas enfim, ontem o City estava levando 1 a 0 do Blackburn que, pelos resultados anteriores, entrava em campo como lanterna. Aos 84, sofreu o segundo gol. Deveria estar morto. Mas nunca se está morto no futebol, e o melhor exemplo nem é este jogo, mas o próximo que trataremos. Aos 88, Sturridge, que entrara em campo como alternativa desesperada para recuperar o resultado dezessete minutos antes, descontou. Aos 90+4, o mesmo Sturridge fez fila na defesa dos Rovers e mandou um passe de visão extraordinária encontrando Robinho livre pela esquerda. “Se errar eu te mato”, poderia ter gritado ele ao brasileiro, porque não era gol de se perder. Robinho não perdeu, fez o 2 a 2, e diminuiu a vergonha do segundo time de Manchester, transferindo-a ao cada vez mais complicado Blackburn.

Aos 90+5, a remontada lendária
É preciso escavar nos arquivos mais obscuros do futebol para achar virada comparável. “Eu nunca havia visto um time tão completamente dominante conseguir perder um jogo que vencia por 5-1 tendo 18 minutos pela frente”, disse um torcedor no fórum da equipe, que continuou: “Dizer que ficamos confusos e consternados seria a subavaliação de todos os tempos. (Estamos) Irados, chocados, transtornados e feridos.” O clube em questão é o Connah’s Quay Nomads que, no sábado, pelo Campeonato do País de Gales, vencia o Porthmadog fora de casa por 1-5 aos 70 minutos de tempo corrido. Uma raça absurda do Port, uma displicência compreensível (mas inaceitável) do Nomads, e uma arbitragem criticada (que expulsou um homem dos visitantes no lance do segundo gol do time da casa e deu um pênalti inexistente para o Porthmadog converter o terceiro), somaram-se para fazer essa remontada de raros semelhantes na história do futebol. O impossível começou com o gol de Rhys Roberts, aos 71, e seguiu com Mike Foster, aos 77, e John Rowley, aos 81. Inexplicavelmente, talvez porque ainda pensasse que o jogo estava nas suas mãos como no período em que dominava, o Connah’s Quay seguiu atacando, dando espaços. Aos 86, Marc Lloyd Williams empatou a partida. Desastre feito, lá foi o Nomads tentar salvar as coisas nos acréscimos. Buscou recuperar a vitória com tal desespero que deixou a zaga desguarnecida em um escanteio. Um erro fatal. O Porthmadog contra-atacou com três homens diante de três defensores e o mesmo Lloyd Williams do empate virou o Lloyd Williams da remontada lendária. 6 a 5 para o Port no placar e torcedores irados, chocados, etc, do lado do Nomads.

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