PORTO ALEGRE – Em Quantum of Solace, mais recente filme da franquia 007, a cena clássica de James Bond atirando na câmera para que a tela fique ensangüentada não está na abertura da película, como de costume, mas imediatamente antes dos créditos finais. Eu havia acabado de ser alvejado pelo Daniel Craig no cinema e me dirigia à Feira do Livro quando, pelo rádio do táxi, ouvi o final da primeira metade da desgraça cruzeirense. Contra o Náutico, nos Aflitos, derrota por 2 a 1 no intervalo.
Ia à Feira porque lá a minha tia Eliane Brum, da Época, autografaria seu livro recém-lançado, O olho da rua, coletânea de dez reportagens especiais produzidas para a revista. O legal dessas pessoas premiadas que escrevem bem é que elas atraem leitores, muitos leitores, e as filas quilométricas dobram o tempo da sessão de autógrafos – a uma hora, talvez menos, prevista inicialmente, foi transformada em duas quase inteiras. Enquanto aquela serpente humana avançava de arrasto atrás de assinaturas e dedicatórias, uma espera que no meu caso valeu, eu me perguntava se o Capibaribe, com toda a sua ruindade bem conhecida ao longo deste campeonato, teria forças para resistir ao Cruzeiro.
Acreditando na incapacidade do time pernambucano e na força dos mineiros, observando o vento que revolucionava as folhas da praça e a garoa que caiu por fim, não me preocupei muito com isso: o empate e mesmo uma virada seriam naturais. Mas na Gaúcha diziam que o Cruzeiro tinha se transformado em time caseiro, e mostrava isso ontem, e eu só fui entender depois que a análise estava correta. De volta ao hotel, ligando a TV, a notícia: o Náutico goleia o Cruzeiro nos Aflitos e sai da zona de rebaixamento. Contrariando o meu chute inicial, nem quatro a um foi o massacre, e sim cinco a dois. Grandiosa meia dezena de tentos a um par deles, superioridade sem contestação.
Morreu na briga pelo título a Raposa, complicando igualmente a sua situação no G4, caindo aos limites da zona da Libertadores. Isso por levar 5 a 2 do Náutico. O Cruzeiro, que parecia tão vivo ao fazer 3 a 0 no Grêmio – que por sua vez parecia tão morto após aquela partida, mas ressuscitou ao cometer o 0 a 1 sobre o Palmeiras no Palestra Itália, desencadeando uma crise no clube paulista –, esse Cruzeiro que está na fossa nesta madrugada de domingo, pode dar uma prévia do que viveria o São Paulo em caso de resultado negativo (entenda-se derrota ou empate) na tarde de hoje.
Pois o São Paulo também pega um time fraquíssimo: o Figueirense, penúltimo colocado, cujas maiores expectativas de sucesso são depositadas no seu desespero para fugir do rebaixamento, jamais na qualidade. O Figueirense, um time sem sal envolvido em três trocas de liderança no Brasileirão até aqui (no primeiro turno, ao perder para o Grêmio e, no returno, ao empatar com o Palmeiras e com os gaúchos), que poderá fazer o primeiro lugar mudar de mãos novamente caso pontue e o Grêmio vença o Coritiba. Para os sonhos são-paulinos, um crime do Figueira no Morumbi nessa altura do campeonato seria tão fora de hora quanto o tiro de Bond no último filme.
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