segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Um retrógrado contra o Acordo

ESTE É UM POST NÃO-FUTEBOLÍSTICO

Línguas vivas evoluem. Reduzem um vossa mercê a vosmecê e depois a você, acrescentam termos novos, adotam estrangeirismos ou cambiam as palavras já existentes no léxico. Línguas vivas mudam. Pelo diálogo coloquial. Ou por um canetaço.

Nesta segunda-feira 29, centenário da morte de Machado de Assis, dos maiores escritores surgidos nesta pátria, o presidente Lula assina o decreto estabelecendo o cronograma de implantação do Acordo Ortográfico da língua portuguesa. Aquele tratado firmado em 1990, que usará a energia de uma Itaipu para acender uma lâmpada, supostamente para unificar o formato do “português” nos buracos do mundo que se dizem lusófonos.

Não unificará. Os Antónios de lá continuarão com o seu acento agudo e os Antônios daqui continuarão enchapelados no seu primeiro o, entre outras permanências. O serviço é feito só pela metade, e tem validade questionável, retirando o destaque dos us falados após quês e gês, que perderão seus tremas, cortando os sonoros acentos das idéias e, do outro lado do Atlântico, excluindo do papel as pobres letras mudas já postas de canto na conversação. Na escrita, nem os vôos serão os mesmos ao final de 2012, quando o prazo de adaptação se encerra e todo o Brasil terá que adotar a novidade – cujos pontos de alteração, cada vez mais reduzidos em pertinência, vão mais longe.

É muito curioso forçar essa aproximação num momento em que ela já não existe. O que se fala e escreve aqui não é a mesma língua de Portugal e outras ex-colônias lusitanas, e isso vai para além do sotaque cantado sul-americano – a evolução, que línguas vivas evoluem, sabemos, deu-se de maneira diversa, não sendo raro encontrar, hoje, cursos estrangeiros ensinando o brasileiro, esse idioma enraizado em Portugal mas completamente independente em seu crescimento, chegando à copada com muitas folhas apenas suas. A prova maior está no impacto do Acordo: somente 0,5% do vocabulário brasileiro será afetado, contra 1,6% das palavras usadas em Portugal e nos locais restantes.

Entretanto, por mais que as diferenças sejam notórias (e saudáveis, refletindo uma identidade cultural própria), o texto desses países continua perfeitamente compreensível por alfabetizados do além-mar. A mudança proposta – e imposta – é, portanto, inútil. Ah, sim, dizem que “abrirá as portas do mercado europeu para as obras brasileiras – e vice-versa”, como se o problema de aceitação fosse causado por umas palavrinhas diferentes. Francamente! Perderemos muito tempo e dinheiro em adaptações a uma série de irrelevâncias cosméticas sem relação com o desenvolvimento natural das línguas.

Azar. Querem assim, assim será. Daqui a vinte anos alguém achará textos oposicionistas como este e pensará – que retrógrados! Os que tentamos escrever estamos condenados a aceitar o canetaço e acompanhar a mudança, ou veremos a língua evoluir sem nós. Sejamos, então, levados pela correnteza, “tranquilos”.

3 comentários:

Iuri Müller disse...

a quem se refere a terceira bandeira, por curiosidade e preguiça de pesquisar?

Maurício Brum disse...

Cabo Verde.

Anônimo disse...

hola, primero te queria felicitar por tu pagina , esta buenisima.

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