Em 1985, a cidade de El Callao, situada ao sul da Venezuela, no estado de Bolívar, ganhou um representante no futebol: o Club Minervén. Os primeiros anos sem muito sucesso foram esquecidos pelo êxito da década seguinte: mandando seus jogos em Puerto Ordaz, o Minervén foi vice-campeão nacional em 1992 e 1993 (seria novamente em 1995), e obteve passagem para representar o país nas taças sul-americanas. Jogou uma Copa CONMEBOL e quatro Libertadores, atingindo improváveis quartas-de-final em 1994, quando teve sua racha interrompida pelo argentino Vélez Sarsfield, futuro campeão. A geração seria coroada com a conquista do único Campeonato Venezuelano da história do clube, em 1996, justificando o apelido que lhe fora fixado por aqueles tempos: Expreso Azul.
Mas não foram as glórias que fizeram o Minervén adquirir um espaço na lembrança de muitos torcedores do continente. Mesmo na longeva participação de catorze anos atrás, a tônica do clube foi sofrer as piores goleadas possíveis em cada temporada da Libertadores. Era inevitável: por mais decente que a trajetória do time parecesse, alguém acabaria fazendo a festa em cima do Minervén. Em 1993, o Sporting Cristal peruano fez 6-2 e o Flamengo, 8-2; em 1994, os bolivianos Bolívar e The Strongest aplicaram, respectivamente, 4-0 e 7-1; em 1996, o San Lorenzo fez 4-0, o River Plate 5-0, e o América de Cali 4-1; em 1997, a Universidad Católica massacrou por 6-0 e, em 7 de maio daquele ano, no último jogo do clube por uma Libertadores, o Bolívar fechou o histórico lamentável num 7-0 com quatro gols de Antonio Vidal González.
Um espetáculo. Em quatro campanhas, o time levou mais de oitenta gols na maior competição da América do Sul. Usando de uma comparação extrema e covarde, porém válida, para dar uma idéia do significado desses números: o Atlético Mineiro, que jogou também quatro Libertadores, teve sua rede balançada 38 vezes na história do torneio. Infelizmente para os times que costumavam cruzar com ele, o Minervén foi fazendo campanhas cada vez piores no campeonato nacional e, por alguns anos no início deste século, chegou a fechar as portas. Voltou há quase um ano exato, em 27 de julho de 2007, sob o pomposo nome de Asosiación Civil Minervén Fútbol Club Bolívar, com a missão de disputar a segunda divisão de 2007/08. Dela saiu vice-campeão, obtendo acesso para figurar na elite da próxima temporada (no topo, uma foto da formação atual da equipe).
Esse novo Minervén, que vinha fazendo amistosos na Colômbia nos últimos dias, terá um desafio interessante amanhã: o Deportivo La Coruña espanhol, iniciando sua gira de três partidas pela Venezuela (ao lado, a programação da pré-temporada do clube, tirada do Marca), jogará com o Expreso Azul em Puerto Ordaz. Fala-se muito da evolução do futebol venezuelano, e esse jogo da quinta-feira pode ser tomado como uma prova definitiva do avanço. Pouco importa que o Depor chegue sem ganas: se o Minervén, aquele saco-de-pancadas goleado em outros tempos até por bolivianos, conseguir algo digno de orgulho nessa jornada intercontinental, ninguém pode contestar o potencial da Venezuela para triunfar neste esporte.
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