Andrei Sergeyevich Arshavin. Desfalque decisivo para as más atuações da Rússia nas duas primeiras rodadas, as dos terríveis 4-1 sofridos para a Espanha e do fraco 1-0 sobre a Grécia (resultado sustentado graças a um erro da arbitragem, que anulou gol legítimo dos helênicos), o jogador do Zenit São Petersburgo foi imprescindível para que a equipe reencontrasse um futebol apresentável na última rodada da primeira fase, quando aplicou 2-0 na Suécia, num envolvente massacre cujos números mereciam ser bem mais elevados. Aquela atuação dava esperanças: repetindo a atitude, os russos poderiam fazer frente à artística Holanda.
Fizeram. Na noite do Sankt Jakob-Park, na Basiléia, a vitória tática conquistada pelo holandês Guus Hiddink contra seu país-natal teve destaques em Denis Kolodin, que levou abruptos perigos ao arqueiro Van der Sar, com grande precisão mesmo em chutes quase do meio de campo, em Roman Pavlyuchenko, que mostrou oportunismo matador de atacante e, mais tarde, em Dmitri Torbinski, que viria a compensar a falta de técnica para finalização através da insistência. Do lado laranja, era revelada uma deficiência pouco vista na primeira fase: tão notório pelos seus rápidos contra-ataques, o onze holandês hoje foi de uma lentidão anormal em suas linhas defensivas.
Um certo camisa 10 aproveitaria aquilo para se adonar da partida. Por ali, Arshavin fez uma série de investidas imparáveis, deixou os companheiros na cara do gol, comandou os momentos mais terríveis vividos pela torcida holandesa nesta Euro. Ele foi o senhor de um jogo no qual pela primeira vez um time se equiparou à Holanda – e, além disso, fez os de Marco Van Basten saírem perdendo. Isso foi aos 56 minutos, em bola cruzada para Pavlyuchenko, no meio da área, anotar 0-1. Quando obtiveram o empate desesperado meia hora depois, os laranjas, então ansiosos pela prorrogação, esperavam que a Rússia também sentisse o golpe, iniciando o tempo extra abatida.
Viram outra realidade quando a bola voltou a rolar. Depois de um início de partida lá e cá, o cansaço pegou, a lentidão defensiva virou quase uma inércia, e a Rússia abandonou sua condição de igual – tornou-se superior. E então Arshavin escapava pela esquerda. E cruzava para o meio. E Torbinski falhava. Em campo havia pouco tempo, Torbinski perdeu imperdoavelmente um par de oportunidades fáceis para, na mais difícil, ir lá e converter: eram 112 minutos, era outra jogada de Arshavin, era mais um cruzamento, não era mais um erro. O ofensivo apareceu no segundo pau e, com pouco espaço, mandou às redes o merecido 1-2. Graças ao fato de não ter desistido. Graças, principalmente, ao incansável Arshavin. Que não podia ficar sem gol, pois. Foi dele a punhalada final, no minuto 116: recebendo uma cobrança de lateral, nas costas da defesa oponente, posição que se acostumou a ficar durante a partida inteira, dominou, bateu, contou com desvio de Heitinga e, pelo meio das pernas de Van der Sar, ganhou seu nome na lista de goleadores do dia.
Ao melhor estilo de sua tradição pouco vencedora, a Holanda mais uma vez se despede sem prêmio após uma campanha encantadora. Foi destruída por um time cuja recuperação é liderada por seu camisa 10, o craque ansiosamente esperado nas rodadas que esteve suspenso. A trajetória russa nesta Euro, com seu ganho de qualidade nas duas últimas partidas, pode ser dividida em duas eras: antes e depois de Andrei Arshavin.
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