segunda-feira, 30 de junho de 2008

Grenal 370

Ontem era um dia de clássico. Ou melhor, Clássico, com letra maiúscula, nome e sobrenome: o Clássico Grenal Trezentosesetenta da história iniciada em 1909. E embora a vida seja um Grenal interminável, nesses dias o ar fica mais pesado, o Rio Grande se põe mais silencioso e as facções alvirrubras e tricolores passam a se mirar com um quê conspirador. As provocações já são mais medidas, as flautas costumam ser evitadas – em dia de Grenal, a superioridade está por ser mostrada no campo, e tudo o que se diz pode se converter em arma contra si próprio.

Por essas e outras o Grêmio, 2º colocado do Campeonato Brasileiro antes do início da rodada, recusava o favoritismo que lhe atribuíam para encarar o Inter e seu 15º lugar. A história de superação dos desacreditados mostra a pouca eficiência de entrar mais cotado no Clássico, e se até o Grêmio de 2004, o pior time já montado por algum da Dupla na história, conseguiu vencer um Grenal naquela temporada, é porque mesmo onze pernetas se transformam numa partida do tipo.

Os tricolores negaram a melhor qualidade atribuída a eles durante a semana e, talvez por acreditar demais no próprio discurso, foram amplamente dominados no primeiro tempo. Celso Roth, que inventou inoportunamente nos dois jogos decisivos do Grêmio no ano (contra Juventude e Atlético Goianiense por Gauchão e Copa do Brasil, respectivamente), e perdeu ambos, voltou a fazer uma aposta ruim, sacando da titularidade o Rafael Carioca de boas atuações nas rodadas anteriores. É simplório creditar o desastre técnico gremista no início do jogo apenas a isso: há também o mérito do comandante do outro lado – Tite deu um nó, e ainda venceu no duelo das apostas, lançando a campo o garoto Taison, um destaque da noite.

Y es que o Inter marcou seu gol cedo, aos 15 minutos de partida. Marcou num lance em que Nilmar, em impedimento, contribuiu para a evolução da jogada que terminou no tento de Índio. Se a irregularidade fosse captada pela arbitragem, de qualquer maneira, representaria provavelmente um mero adiamento de um tento que o volume de jogo faria vir pouco depois. Mas o gol que valeu foi aquele. 1-0 no placar muito cedo e então os de Tite souberam se defender com grande desenvoltura. Naturalmente com problemas para armar jogadas de golos, o Grêmio esteve limitado aos balões para o ataque, permanecendo inofensivo.

Apenas o intervalo serviu para aplacar a maleza do time do Olímpico que, apesar do fator local ser quase irrelevante num duelo porto alegrense, jogava em casa. Com dez segundos da etapa complementar, partindo do pontapé inicial no centro do campo, o tricolor já cavava um escanteio. Seria a nova cara da partida, agora com um pouco mais de inteligência nas investidas gremistas – sem, no entanto, tirar a qualidade ofensiva do Internacional, sempre levando perigo por seu lado e, inclusive, levando mais perigo, chegando a acertar um pelotaço na trave. A verdade era: os supostos favoritos cresceram de forma insuficiente para os quarenta e cinco minutos decisivos, e só lograriam o empate num lance fortuito – nem o gol (bem) anulado de Perea fazia a impressão mudar.

Nasceu da estupidez de Renan, o tal lance fortuito. Eram passados 78 minutos de tempo corrido quando o goleiro colorado resolveu imitar o feito de Sessa, do Vélez Sarsfield, no jogo contra o Boca Juniors pela Libertadores 2007: tendo a bola dominada, usou as pernas de forma criminosa para atingir o adversário – Sessa acertou a cabeça de Palacio, Renan pateou uma região mais sensível do corpo de Rodrigo Mendes (foto). Árbitros não costumam marcar pênaltis em Grenais, e é incomum ver mais que dois ou três por cada década dos Clássicos. O temor de tomar uma decisão errada que resulte em gol faz mesmo os escandalosos, como o de ontem, passarem batidos: enquanto seu assistente levantava a bandeira desde o incidente, o árbitro Alicio Pena Júnior tentou ignorar, deixou o jogo andar, antes de se atentar para a marcação. Na seqüência, expulsão do goleiro e a rara penalidade máxima.

Até que as reclamações fossem feitas e o reserva Clemer entrasse, foram perdidos mais uns minutos. Eram 82 quando Roger partiu para cobrar seu quarto pênalti nos últimos dois jogos – e fazer seu quarto gol. Com a mesma paradinha que desmontou Galatto, fez Clemer cair feito um boneco para o lado e rolar o esférico no outro canto. O 1-1 salvou um ponto que a apresentação ruim do Grêmio deu cara de irrecuperável. Vibrou o Olímpico, pela não-derrota, pela manutenção da vice-liderança no Brasileiro. E assim é o Grenal: o dito favorito jogou em casa, sofreu para empatar e, no entanto, saiu de campo mais feliz que o rival desacreditado. Percam tempo com prognósticos para Clássicos, percam.

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No resto da jornada do Brasileirão, os seguintes jog... ah, não interessa o resto da rodada num fim de semana de Grenal.

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