O Amapá, extremo Norte do Brasil, está muito distante do eixo futebolístico e do noticiário em geral para que um mero parágrafo com comentários sobre a rodada do fim de semana sirva para explicar a situação do seu estadual. Entender o que acontece por lá nesta temporada exige voltar na história. Retornar para 1943, quando a região chamada Araguari foi desmembrada do Pará, criando-se o Território Federal do Amapá, sem autonomia, sob o comando do governo federal, por questões estratégicas durante a Segunda Guerra Mundial.
Com um surto inicial de povoamento, não era surpreendente que, um ano depois, já surgissem as primeiras agremiações para praticar o esporte bretão e, por conseguinte, se organizasse uma competição local – em 1944, a pioneira edição do que seria o atual Campeonato Amapaense foi vencida pelo Panair Esporte Clube (atual E.C. Macapá) e, em 1945, nasceu a Federação Amapaense de Futebol, organizadora das ligas locais.
Ligas que seguiram, quase sem interrupções, por todas as décadas seguintes. De 1944 a 1990, era amadora do futebol daquelas bandas, Macapá e Amapá foram os maiores vencedores, acumulando 16 e 10 conquistas, respectivamente. Mas em 1988 o Território do Amapá ganharia o status de Estado da Federação, fazendo urgir a necessidade de o esporte dar um passo adiante também, pois.
Em 1991, veio o primeiro Campeonato Amapaense da era profissional. O Macapá saiu campeão, dando indícios de que os feitos dos longos períodos anteriores continuariam. Só que, depois, mais nada. Os velhos clubes deram lugar a instituições que souberam se organizar melhor, novos times foram fundados e anônimos do período amador apareciam como grandes forças. Na era profissional, quem levou a melhor foi o Ypiranga Clube, vencedor apenas uma vez antes, dono de oito troféus após 1991. Também encontraram a glória equipes como o São José, Trem (atual campeão do Estado) e Santos na capital, e Independente e Aliança na cidade de Santana.
Macapá e Amapá, os grandes campeões, esses sumiram. Nada mais venceram no período profissional, chegando inclusive a se ausentar das disputas em algumas temporadas. Pararam no tempo, encalharam nas glórias amadoras. Quem olhar para o palmarés encontrará a seguinte ordem na liderança de taças conquistadas: Esporte Clube Macapá, 17 títulos (16 amadores), Amapá Clube, 10 títulos (todos amadores) e Ypiranga Clube, 9 títulos (1 amador).
E aí, nesse histórico glorioso, porém estagnado, mora a decadência dos gigantes locais na atual temporada. Neste 2008, nem o Ypiranga tem tido melhor sorte entre os representantes do trio! Agora sim, podemos passar aos comentários da rodada passada. Iniciado em 23 de março, o Campeonato Amapaense é disputado por dez clubes, com uma primeira fase de pontos corridos em turno único, que classifica seus quatro melhores para as semifinais em mata-mata. Apenas três clubes ainda não venceram na temporada. Quem? Os próprios.
Na quinta-feira, o Ypiranga fez a sua especialidade, empatou por 0-0 diante do Santos; no sábado, o Amapá foi superado por 2-0 pelo Cristal. O Macapá jogaria hoje, contra o próprio Santos, para atingir seu quinto jogo (e o sexto dos santistas, a tabela é desencontrada mesmo). A classificação atual coloca os três maiores campeões na pior situação possível: em 8º lugar, o Ypiranga (4 empates, 1 derrota), em 9º, o Amapá (3 empates, 2 derrotas e a pior defesa: 11 gols sofridos) e, na lanterna, o Macapá (2 empates, 2 derrotas, e o pior ataque: 2 gols feitos).
Enquanto isso, na outra ponta, São José, Trem, Mazagão e São Paulo sonham com a taça, já que passariam de fase pela classificação momentânea. Juntos, os dois primeiros somam 8 títulos do Estado – menos da metade das conquistas do Macapá – enquanto Mazagão e São Paulo nunca foram campeões. Qualquer um que, lá no início do profissionalismo, apostasse numa inversão tão grande do cenário do futebol local, seria tachado de insano. Pois o louco acertou.
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A foto do post foi retirada do blog Futebol Amapaense. Para quem se interessa pelo que ocorre naqueles rincões, fica o link como indicação de uma boa leitura.
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