terça-feira, 8 de abril de 2008

Trípodi, vento e eternidade

Domingo, 6 de abril, Província de Chubut, área patagônica argentina. O dia nublado e os fortes ventos anunciam um temporal. Do oeste, chegam rajadas com velocidade média de 70 quilômetros por hora – embora seus picos atinjam quase o dobro disso. Em Comodoro Rivadavia, maior cidade da região, o CAI (Comisión de Actividades Infantiles*) local se prepara para enfrentar o Atlético de Rafaela, pela 28ª rodada da Nacional B Argentina, a segunda divisão.

Naquelas condições, praticar o esporte torna-se uma tarefa das mais difíceis. A partida poderia nem ter saído, mas vá negar um domingo de futebol aos aficionados. E lá vão os jogadores, fazendo um esforço acima do comum para tentar controlar seus lances. Mesmo com a pelota no chão, manter algum domínio é complicado: para aqueles a favor da ventania, a luta é para impedir que a redonda avance demais; aos que estão do outro lado, a missão é triplicar suas próprias forças para dar um único passo com o controle da bola.

Se o esférico estiver no ar, então, o jogo passa a depender, mais do que qualquer outro, da sorte. Ou do azar de quem receber as rajadas na cara. Foi com esse terceiro “time”, um neutro a jogar pelos dois lados, que CAI e Atlético se confrontaram durante a partida inteira. Gastaram mais energias do que em três rodadas de Nacional B para disputar apenas um tempo, e foram minguando suas tentativas na etapa complementar. A tal sorte se fazia realmente necessária para alterar o zero a zero.

Noventa minutos de jogo. De empate. De cansaço. Àquela altura, uma das rajadas mais fortes da tarde, soprando a 120 quilômetros por hora, engolia o pequeno estádio Municipal. Controlando a pelota dentro da sua área, estava o goleiro do CAI, Emanuel Trípodi. Não haveria muito mais tempo para alguém vencer a partida. Então o arqueiro pensou. Percebeu que o vento, onipresente que ajudava aqueles a seu favor, poderia ser convertido no grande aliado daquele momento. E Trípodi resolveu chutar, procurando algum companheiro - ou algo mais.

Entre uivos ferozes e através da força incomparável do ar, o balão voou, voou e voou para atravessar o campo inteiro. Encontrou o ângulo do arco adversário, parando dentro da meta. Antológico. No último minuto, um golaço de goleiro escrevia o definitivo 1-0, resultado glorioso por si só, mas também importante na luta pelo acesso à elite. Os ingredientes com os quais as lendas são feitas.

Ao contrário do indicado pela lógica, a trajetória da bola não se encerrou no seu beijo com a rede. Foi ali que, de fato, o vôo começou: à eternidade.

3 comentários:

Maurício Brum disse...

* A Comisión de Actividades Infantiles foi fundada em 1984, como uma tentativa de desenvolver o futebol infantil na região. Acabou montando um time profissional e está na Nacional B hoje.

Luis Lacerda disse...

Excelente exibição do jovem goleiro Júlio César na vitória do Belenenses por 2-1 sobre o Leixões, com dois golos de Weldon.
Vejam em:
http://cfbelenenses.blogspor.com

Luis Lacerda disse...

http://cfbelenenses.blogspot.com