No mês de novembro o Campeonato Espanhol completará 80 anos de existência. A história por trás da elaboração da atual liga remonta de 1901, quando os catalães organizaram um primeiro campeonato regional. Ainda nessa época o futebol crescia no país, conturbado politicamente por disputas internas entre o País Basco e a Catalunha, insatisfeitos com os rumos da unidade da nação - estes, ainda contestados por parte dos espanhóis, num movimento aliado à onda de nacionalismo dentro de tais regiões. Esses fatores influenciaram na descentralização do futebol. Em 1903 foi criado o Campeonato do Centro da Espanha, e mais tarde foram criados campeonatos independentes nas demais regiões como a Andaluzia e a tríade Levante-Valência-Murcia, que possuíam até seleções próprias.
Após o conturbado período no qual a Espanha perdera algumas de suas colônias, além de sofrer um golpe de Estado, os espanhóis entraram em vias de elaborar um campeonato definitivo. De 1927 a 1928 foram negociados os direitos da liga; havia divergências entre as partes, uma defendia o ingresso apenas de times que já houvessem ganho a Copa da Espanha, outros porém diziam que as principais forças regionais deveriam jogar também. Em novembro de 1928, chegou-se a um acordo. O campeonato seria realizado tendo 10 times participantes, sendo 6 vencedores da Copa da Espanha (Arenas de Guecho, Athletic Bilbao, Barcelona, Real Madrid, Real Sociedad e Real Unión) e mais três vices (Atlético Madrid, Espanyol e Europa). O décimo participante foi decidido em um torneio de classificação, vencido pelo Racing de Santander.
Na primeira temporada, que teve inicio em fevereiro de 1929, os quatro jogos realizados foram: Real Sociedad 1x1 Athletic Bilbao, Arenas de Guecho 2x3 Atlético de Madrid, Real Madrid 5x0 Europa e Espanyol 3x2 Real Unión. O primeiro gol da competição foi marcado por Prat, do Espanyol. Ao final da temporada, Real Madrid e o Barcelona disputavam o título. Na última rodada, o Madrid foi vencido pelo Bilbao, deixando assim o troféu escapar. Os Catalães comemoravam o primeiro Campeonato Espanhol.
Quem apenas levar em consideração o início e os dias atuais da competição, irá pensar que os madridistas e os barcelonistas sempre dominaram o cenário espanhol, uma inverdade, já que nas décadas de 20 e 30 o time do País Basco, Athletic Bilbao, era a principal força do país. Logo depois da Guerra Civil Espanhola, o Valência, o Barcelona e o Atlético Madrid (na época, chamando-se Atlético Aviación) eram os grandes. O Real Madrid só foi sagrar-se como o poderoso clube que é hoje na gestão de Santiago Bernabéu, a partir dos anos 50.
Atualmente, os clubes além de moverem a paixão dos torcedores, também representam certas áreas da sociedade espanhola. O Real Madrid, por exemplo, representa o Rei e a camada alta da sociedade espanhola, enquanto o Atlético é mais popular, o time da classe trabalhadora. Também vale destacar o Barcelona e o Athletic Bilbao, que representam os movimentos nacionalistas da Catalunha e do País Basco, respectivamente.
Durante os 80 anos, muito se passou, e a Espanha conseguiu ter por muito tempo as equipes mais fortes do cenário europeu. Bastante para um país atrasado e isolado do resto da Europa, até 1970. Nas últimas décadas, porém, outros times de menor expressão internacional, como o Villareal e o La Coruña, conseguiram por vezes boas participações nas competições internacionais européias, destacando-se principalmente o Sevilla, atual campeão da Copa da Uefa, que não deve em nada aos maiores clubes espanhóis. Apesar de possuir um campeonato forte, a Seleção Espanhola nunca correspondeu a expectativa mesmo apresentando uma geração de jogadores melhor que a outra.
Mesmo tendo defeitos, pois comparado aos outros foi criado com certo atraso, o Campeonato Espanhol, bem como suas histórias, possuem uma mística, um brilho, uma magia diferente do resto. É gigante.
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