Quando um time da primeira divisão brasileira precisa armar clima de guerra para, em casa, vencer o Atlético Goianiense pelo placar de 1-0, é porque algo está muito errado. O Grêmio precisou desse clima. Há uma crise pairando sobre o Olímpico, embora alguns setores da torcida insistam em fechar seus olhos para a verdade inquestionável.
Ontem, cerca de trinta mil espectadores fizeram uma linda festa em azul, preto e branco. Para a noite de eliminatória, de remontada, mesmo uma remontada pequena, tentaram recuperar um pouco do espírito dos tempos de Libertadores, vividos no ano passado. Fez-se o clima de guerra – e o tricolor deu início ao duelo de forma avassaladora.
Dessa vez, nem Celso Roth errou na escalação! E o time deu sinais de que agiria diferente. Com sete segundos, Perea já cabeceava com perigo, para defesa do arqueiro adversário. Com cinco minutos, Roger abria a contagem, convertendo um pênalti que ele próprio cavara. O Grêmio estava se classificando, e jogando bem.
Era um começo promissor, que logo foi desmentido. Caindo nos mesmos erros de outras jornadas, os porto alegrenses abusaram de lançamentos sem visão à área, e mostraram novamente uma falta de técnica gritante. Ausente em Goiânia, ignorado contra o Juventude, o empenho foi visto na quarta-feira. O que ninguém encontrou foi qualidade. Pelo menos não para além de Roger, o oásis criativo do quinto colocado do Gauchão 2008.
Aos poucos o Atlético foi dando um, dois, três, dezenas de passos para além do seu campo. Passou a gostar do jogo, até vislumbrar sua grande oportunidade, sofrendo uma falta na entrada da área gremista aos 20 minutos: o goleiro Márcio atravessou o gramado para mandar uma linda cobrança no canto esquerdo do companheiro de posição Marcelo Grohe e fazer o 1-1 iluminar o marcador.
Já eram necessários dois tentos para o Grêmio evitar os pênaltis. Tudo se complicava com uma dramaticidade dolorosa. E o time lá, impotente. Criava suas chances, dominava amplamente a posse de bola no segundo tempo e, mesmo assim, via tudo à beira de se desmanchar nas raras ofensivas atleticanas, que chegaram a acertar a trave. Gol, só veio um. No minuto 60, uma redonda hora de bola rolando, William Magrão superou o arqueiro adversário ao desviar um cruzamento à queima-roupa. O 2-1 que abria variadas possibilidades descambou para a mais emocional delas: os pênaltis.
O Grêmio se diz desgraçado nos pênaltis – como se dizia amaldiçoado no Serra Dourada. A memória recente pode guardar a classificação sobre o Defensor uruguaio, desde os onze metros, na Libertadores 2007, mas aos gremistas pesam muito mais as outras tantas derrotas sofridas nesse sistema de desempate: em 2006, numa segunda fase de Copa do Brasil, como ontem, o sonho nacional foi desfeito dentro do Olímpico pelo 15 de Novembro de Campo Bom, também nas penalidades máximas.
O desastre de duas temporadas atrás se repetiu. Tadeu teve sua cobrança defendida, Perea acertou a trave, e a contagem ficou em 3-4 para os de Goiás. Em 2006, o Grêmio tinha o Gauchão para tentar curar as feridas; agora, nem isso resta. A derrota de ontem jogou um semestre inteiro do clube no lixo. Fracassado indelevelmente, ficará um mês sem jogos, até o início do Campeonato Brasileiro.
Situação semelhante à vivida pelo Internacional no ano passado. Hoje, vale aos gremistas a mesma recomendação então feita aos colorados: que as férias forçadas sirvam para repensar o restante do ano – ou o rebaixamento bate à porta.
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