A história de como o Real Madrid pode ter dado o primeiro passo para perder a outrora ganha Liga Espanhola tem um começo diferente da maioria dos fracassos do futebol. Ela se inicia com um gol, não dos seus adversários, mas um gol seu, que desencadeou um dos lances mais absurdos já vistos no Santiago Bernabéu.
Eram dezoito minutos da etapa final, e o jogo se arrastava, sem um grande futebol. O 0-0, para o Madrid, fazia com que a vantagem sobre o Barcelona, que já foi de nove pontos, despencasse para três. Mas o time pressionava. Havia tempo, havia o espírito de buscar um resultado. Àquela altura, dezoito minutos, Van Nistelrooy soltou um tiro da entrada da área. Abbondanzieri, o firme arqueiro do Getafe, fez grande defesa, mas não conseguiu agarrar, dando um rebote pego por Raúl. Com sua típica visão de jogo, o camisa 7 rolou a bola para Robben, que chegava pelo meio, e apenas completou para o fundo das redes. Gol! 1-0, festa no Bernabéu, e o alívio de quilos saindo das costas dos jogadores blancos.
Mal imaginavam eles que, alguns instantes depois, desejariam que o gol jamais tivesse ocorrido. Sem o gol, não haveria desatenção, comemoração, não haveria um gramado cheio de espaços para o Getafe contra-atacar. Os jogadores do Madrid ainda comemoravam o tento do alívio. Seis deles, contando com Robben, juntaram-se na linha lateral para os festejos. Então o holandês mudou sua face - apontando para o meio da área, onde o árbitro Daudén Ibáñez conversava com dois outros atletas do Madrid, alertava os companheiros que a alegria deveria der lugar à preocupação. Incrédulos, sem entender o que se passava, eles olhavam para o apitador e para o bandeirinha, procurando um sinal do que havia ocorrido. Tudo ficou claro e límpido tão logo o Getafe cobrou rapidamente o impedimento: no lance do gol, Raúl estava adiantado, e nada, a partir de então, valia - embora ninguém tenha ouvido o apito do juiz.
Pouco adiantou tomar ciência do ocorrido, afinal, o Getafe já havia cobrado o impedimento. Ficou fácil para os de azul: uma arrancada rápida, que deixou apenas dois defensores merengues contra cinco atacantes. Bastou trocar passes velozes para chegar, ante a perplexidade geral, na cara do gol. No mano a mano com Casillas, Uche mandou a bola para o fundo das redes. O gol do Getafe saía na desatenção do Madrid; saía por conta do gol do time local. Fosse um impedimento normal, ninguém comemoraria, nem sairia de posição, e muito menos haveria o contra-ataque rápido. Mas foi um gol. Um gol de alívio, anulado, seguido por outro que só aumentava o peso nas costas do Real Madrid, e este valia.
Não houve mais como recuperar o moral da equipe, e o 0-1 permaneceu no placar. Em um minuto, nascida de um gol seu, surgiu a derrota madridista. Na temporada passada, as constantes remontadas marcaram o espírito de um Madrid que, depois de dado como morto, acabou campeão. Nas últimas semanas, tantas declarações de soberba colocaram o time do Santiago Bernabéu na posição oposta à de um ano atrás. Como punição, os repetidos insucessos, por vezes absurdos, a exemplo de hoje, parecem estar cobrando o preço de uma Liga que ousou se considerar ganha.
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