sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O futebol noturno

Jogos à noite são comuns nos dias de hoje. Em qualquer lugar onde haja futebol profissional organizado, é difícil de se ter problemas com relação à falta de iluminação para a realização de partidas. Mas nem sempre foi assim. Nas primeiras décadas de futebol no Brasil, o esporte estava restrito às tardes - de domingo, preferencialmente. Aos poucos as coisas foram mudando, veio a tecnologia necessária para iluminar os campos e, com o esforço de abnegados, viabilizou-se a realização de confrontos noturnos. Saudados como os grandes avanços que eram, esses jogos se tornavam acontecimentos sociais.

A falta de registros e a vontade de ser lembrado como o primeiro local a receber um jogo noturno no país gera controvérsias entre as cidades e agremiações que se colocam como pioneiras. Pelos registros da época, porém, podemos considerar que o primeiro confronto sob o olhar da lua data de 5 de setembro de 1914, e foi disputado no Rio de Janeiro. O Imparcial, jornal carioca da época, assim iniciou seu relato sobre o que se passaria naquela noite: "O football será jogado à noite - pela primeira vez no Brasil, e cremos que na América do Sul, vai o público carioca ter a satisfação de assistir ao seu sport predileto praticado à noite." Com várias autoridades do Rio convidadas para presenciar a partida, o Villa Izabel Football Club, autor da novidade, recebia a seleção da Liga Campista de Football, no Campo do Jardim Zoológico. O amistoso, iniciado às 21 horas, terminaria com vitória dos locais por 4-0.

Alguns anos depois, foi a vez de Minas Gerais receber uma partida à noite. Foi no final de 1921, na passagem do ano, na cidade de Guaxupé. No campo do então Seminário São Luiz Gonzaga, XV de Novembro e Academia de Comércio duelaram, com vitória dos primeiros por 2-1.

Em 1923, foi a vez de São Paulo. A 23 de junho, na Várzea do Glicério - em um terreno não por acaso pertencente à companhia de iluminação Light -, a Sociedade Esportiva Linhas e Cabos foi batida pela Associação Atlética República, com um marcador de 1-2. A iluminação, porém, ainda era precária: foi feita pelos faróis de 20 bondes.

Tardiamente, a novidade chegaria ao Rio Grande do Sul. Em 26 de julho de 1931, o Grêmio estrearia os refletores do seu antigo estádio, a Baixada, em um jogo que não poderia ser melhor: clássico frente ao Internacional. A menina Ruth Antunes, filha do ex-presidente tricolor Álvaro Antunes foi a responsável pelo histórico ato de acender as luzes no campo. Para completar a festa, o Grêmio venceria por 2-0, gols de Luiz Carvalho e Foguinho.

Conforme o tempo foi passando e a tecnologia se banalizando, o futebol noturno tornou-se felizmente comum no Brasil. Hoje, somente em alguns estádios interioranos joga-se sem iluminação artificial, como na primeira metade do século passado.

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