terça-feira, 10 de julho de 2007

Maracanazo

O Brasil já era o campeão da Copa do Mundo de 1950 antes do último jogo, na visão dos brasileiros. Até ali, no quadrangular decisivo da competição - pela primeira e única vez na história não decidida em uma partida final isolada -, jogando num sempre lotado Maracanã, tudo vinha sendo maravilhoso para os locais: 7-1 na Suécia e 6-1 na Espanha. O Uruguai de um empate e uma magra vitória naquela fase não seria páreo diante de um Brasil que só precisava do empate para levantar a Taça Jules Rimet.

Na véspera da partida decisiva, autoridades políticas locais, em guerra de vaidades e buscando destaque, passaram o dia revezando-se em discursos e apresentações para o time, que mal conseguia treinar. Nenhum brasileiro estava preparado para a derrota, e até mesmo jogadores conquistavam liberações para curtir a noite carioca nos dias precedentes da partida. Zizinho, um dos nomes mais destacados daquela campanha e provavelmente o mais preocupado com toda a festa armada antes da hora, lançou o alerta: "O Brasil está esquecendo o Uruguai".

Era domingo, 16 de julho de 1950, quando 200 mil pessoas superlotaram o Maracanã para festejar o que seria o primeiro título mundial brasileiro. Mas não era um domingo para a normalidade e muito menos para o esperado. Aquele dia não entraria para a história da maneira acalentada nos sonhos cariocas.

O primeiro tempo, com um 0-0 inquietante, deixou ares de incerteza sobre o público, que logo foram dissipados. No segundo minuto da etapa final, Friaça venceu o goleiro Máspoli, abrindo 1-0 para os locais e estremecendo o Maracanã. A Jules Rimet ficaria no Brasil, era claro como água. A festa nas arquibancadas ia se espalhando por toda a nação, através das ondas do rádio. Nem o empate uruguaio, com Schiaffino, aos 66 minutos, foi capaz de diminuir o entusiasmo da torcida.

Todavia, era muito cedo para tudo aquilo. Se o Brasil comemorava, os uruguaios lutavam. O tempo já batia na casa dos 79 minutos enquanto Ghiggia avançava em velocidade pela direita ofensiva do Uruguai, vencendo Juvenal. O goleiro Barbosa, temendo um cruzamento, saiu de sua meta, numa natural medida preventiva. Sem ângulo, o uruguaio fez o inverso do esperado: mirou a gol e mandou um chute mascado, no canto esquerdo do arqueiro que não pôde se recuperar no lance. A rede se estufava no exato instante em que, a partir do Maracanã, o Brasil inteiro se calava. Atônito, o público acompanharia ainda mais 11 minutos inúteis na busca de um empate. O silêncio era tão profundo que podia ser ouvido.

O jogo foi encerrado às 16 horas e 45 minutos, e a torcida recusava-se a deixar as arquibancadas. Algo estava muito errado. Foi preciso que Obdulio "El Negro Jefe" Varela, capitão dos orientais, recebesse o troféu para que todos se dessem conta da realidade. Era a vitória do século. Onze homens, trajando o imortal uniforme Celeste, entraram em campo desprezados, e saíram como deuses: Máspoli, Mathias González, Tejera, Gambetta, Obdulio Varela, Rodríguez Andrade, Ghiggia, Pérez, Miguez, Schiaffino e Morán.



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Num dia em que Brasil e Uruguai se enfrentam por mais uma partida decisiva - as semifinais da Copa América 2007 -, nada melhor do que lembrar o maior de todos os confrontos entre os dois rivais.

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