quarta-feira, 25 de julho de 2007

A Batalha dos Aflitos

Capa do jornal porto-alegrense Zero Hora, da segunda-feira seguinte ao jogo

Não foi um dia normal, aquele 26 de novembro de 2005. Na tarde daquele sábado, em Recife, Pernambuco, dois jogos fechariam o quadrangular final da Série B do Campeonato Brasileiro. No Arruda, Santa Cruz-PE e Portuguesa-SP duelavam diante de 60 mil espectadores. A poucos quilômetros dali, no profético estádio conhecido por Aflitos, o Náutico-PE recebia o Grêmio-RS, e tentava subir para a elite do futebol nacional depois de uma década e meia ausente. Todos os times tinham chances de abocanhar uma das vagas e ascender, bastava a vitória.

Mas aquela tarde de futebol foi, antes de qualquer outra coisa, a tarde do Grêmio. Se no Arruda, as coisas acabariam por terminar lógicas, com uma vitória do Santa Cruz por 2-1 e o acesso asseguado, nos Aflitos a loucura deu a tônica. O Grêmio, um gigante então caído, jogava não apenas o acesso, mas a sua grandeza naquele jogo - permanecer mais um ano na divisão inferior representaria uma diminuição assustadora nos valores recebidos em patrocínios e televisão, algo que poderia ser irrecuperável para um clube que dava sinais de caminhar para a falência.

E o jogo parecia querer acabar com a vida do Grêmio. Mas como se destrói algo que se diz Imortal? O árbitro Djalma Beltrami tentou fazê-lo, aos 32 minutos, assinalando um pênalti teatral em favor do Náutico. Bruno Carvalho cobrou na trave. Já no segundo tempo, um Grêmio que não se encontrava em campo levou outro golpe: aos 75 minutos, o lateral-esquerdo Escalona foi expulso, recebendo o segundo cartão amarelo por uma bola lançada no ataque pernambucano, que bateu em seu braço. As coisas complicavam assustadoramente, e o tempo parecia andar mais lento, aos olhos gremistas.

Só que aquele não era um dia normal. O jogo complicou-se sim para o Grêmio, e o árbitro ainda coroaria sua desastrosa atuação assinalando um segundo pênalti - novamente inexistente - por um lance de bola na mão, dentro da área tricolor, aos 80 minutos de jogo. Era demais. Os jogadores gremistas viram que o trabalho de um ano inteiro estava sendo destruído, e foram para cima do apitador. O jogo ficou paralizado por 25 minutos. Entre agressões e intervenções policiais, mais três jogadores gremistas levaram cartão vermelho. Com 7 homens em campo, um pênalti contra e mais 10 minutos de jogo sob uma pressão de um time desesperado pela vitória e que jogava em casa, seria possível o Grêmio sobreviver?



Foi possível. Em 71 segundos, o time gaúcho saiu das profundezas do inferno para conquistar uma das vitórias mais impossíveis que se tem notícia no futebol. Em 71 segundos, o goleiro Galatto defendeu a segunda penalidade pernambucana, cobrada por Ademar, e Anderson, jovem revelação (hoje atuando pelo Porto, de Portugal), avançou em um contra-ataque fulminante, sofreu falta que rapidamente foi cobrada por seu companheiro, adentrou na área adversária e marcou o gol delirante. Um a zero para o Grêmio, aos 90+16 minutos. O tento não apenas afirmaria o acesso como daria o título aos gaúchos. Desconcertante para o Náutico, que não conseguiu mais voltar ao jogo. Nas arquibancadas, o público que superlotava a arena foi deixando as dependências, cabisbaixo. Um jornalista escreveria, posteriormente, que podia não ter estado presente no Maracanazo de 1950, mas compreendera exatamente o que ele significava ao presenciar a desilusão pernambucana na Batalha dos Aflitos de 2005.

***

Hoje, 20 meses depois daquele jogo incrível, Náutico e Grêmio voltam a se enfrentar nos Aflitos - agora, pela Série A do Campeonato Brasileiro -, e o Timbu, que subiu no ano passado, quer revanche. Mas, se em 2005 era a vida que estava em jogo, neste 25 de julho serão somente 3 pontos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Imortal !!!

Anônimo disse...

Que musica é esta ao fundo no video?

Obrigado.

Maurício Brum disse...

Tango Flamenco.