Fundado em 1945, o mais popular clube da Sérvia, o Crvena Zvezda, ou Estrela Vermelha teve seu ano mais glorioso em 1991, quando a equipe foi campeã da Liga dos Campeões da UEFA e do Mundial Interclubes, servindo de base para a seleção nacional.
Neste mesmo período uma terrível guerra étnica tomava conta do Leste Europeu, rivalizando sérvios e croatas, principalmente. Onde o Estrela Vermelha entra nessa história? Arkan (famoso criminoso sérvio, cujo nome real é Zeljko Raznatovic) dirigente do clube no início da década de 90 retomou o nacionalismo a tempos oculto nos torcedores sérvios e transformou o futebol em uma nova área de batalha. Arkan cresceu na falsidade da Iugolslávia de Tito, numa época em que se supunha que sérvios e croatas fossem vizinhos felizes. A disciplina do regime comunista não teve o efeito desejado no jovem Arkan: aos 16 anos abandonou o país e foi parar na Itália onde começou a cometer pequenos crimes e a treinar sua mágica capacidade de fugir: jamais ficou muito tempo preso, apesar de inúmeros delitos.
De volta para a Iugoslávia, Arkan entrou para a política: sua lábia e seus contatos ajudaram Slobodan Milosevic a tornar-se chefe do Partido Comunista, em 1986, fato que aumentou sua popularidade e deixou seu talento mais a vista.
A ideologia separatista do Estrela Vermelha atraiu Arkan, que usou o nacionalismo da tradição do clube e de sua torcida, onde criou amizade com os hooligans e clamou pela independência: os cânticos da torcida repetiam ''Sérvia sim, Iugoslávia não.''
O futebol sérvio tornou-se uma bagunça, com ânimos acirrados de toda parte, graças a ação nacionalista de Arkan. Para ''resolver'' o problema, a polícia sérvia nomeou o próprio Arkan, que em seu primeiro ato amansou os nacionalistas do Estrela.
A partir daí a maré política mudou, com Eslovênia e Croávia conseguindo a independência, recebendo uma resposta da Sérvia: guerra.
O controle sobre o Estrela Vermelha foi amplamente positivio para Arkan, que liderou os exércitos do país - os hooligans do Estrela se transformaram em competentes militares, recebendo o nome de 'Tigres', transformando o estádio do clube, Marakana (uma homenagem e referência ao Maracanã, do Rio de Janeiro) em um quartel general.
Em 1991-1992 a primeira ofensiva sérvia teve início, com dezenas de torcedores do Estrela Vermelha feridos no combate - fato que mereceu ''solidariedade'' dos jogadores da equipe - o capitão Vladan Lukic definiu assim a batalha: ''Muitos de nossos torcedores da parte norte do Marakana estão escrevendo das formas mais óbvias, as mais belas páginas da história sérvia''
Arkan comandou algumas de suas batalhas étnicas mais sangrentas em Sasina, na Bósnia - ordenou os Tigres a expulsarem e saquearem as casas dos muçulmanos, e espancassem quem resistisse aos ataques - cerca de 30 homens morreram.
As barbáries foram bem documentadas, mas mesmo assim a maioria sérvia transformou Arkan em um herói em defesa da limpeza étnica. Para alcançar mais prestígio (e dinheiro) internacional, Arkan tentou comprar o Estrela Vermelha, mas os demais dirigentes não concordaram.
Não satisfeito, Arkan comprou um clube médio de Belgrado e transformou em uma potência local: o Obilic teve evolução quase imediata - Arkan comprou os melhores jogadores do país, teve a companhia de leais hooligans que lutaram com os 'Tigres', mudou as cores do time para amarelo, em razão do grupo fundado por ele e exerceu forte pressão sobre os árbitros. Relatos apontam que Arkan conduzia os juízes até o estádio, cercados de ameaças e de dinheiro e invadia o vestiário visitante no intervalo: novamente comandava o futebol sérvio.
A federação local juntamente com os demais clubes, entre eles o Estrela Vermelha passaram a relatar publicamente os atos de Arkan, fato que resultou em punições da UEFA e o banimento do clube em competições internacionais. Arkan tentou contornar a situação, se desligando do clube e deixando sua mulher, Ceca, uma popstar sérvia, como diretora.
Visado pelos outros clubes, o Obilic passou a utilizar a intimidação com menos frequência, tendo efeito direto sobre seu rendimento: foi piorando ano a ano na tabela da liga sérvia.
No fim das contas, a ruína do Obilic pode ter sido a ruína do próprio Arkan - morto a tiros na frente de um hotel em 2000, onde diariamente tomava café e frequentava uma academia. Alguns dizem que sua morte foi fruto de um ataque de outros gangsters, em busca de espaço, outros que fora assassinado pela própria polícia sérvia, já que sabia demais e poderia incriminar os demais políticos que participaram de suas batalhas étnicas e do controle do mercado de armas. Mas existe ainda uma outra explicação: antigos sócios do Obilic estavam revoltados com a participação de Arkan no clube, e ainda mais indignados com os atuais resultados, deram um fim no magnata. Arkan destruiu vidas usando o futebol, mas pode ter perdido a sua em razão do mesmo esporte.
Depois da morte de Arkan, começaram as investigações e seus comparsas foram aparecendo, um a um, sua mulher perdeu prestígio e audiência, o nacionalismo exagerado freou e o mal finalmente pôde ser identificado tal como é.
O Estrela Vermelha é o atual campeão sérvio, e detém 5 títulos nacionais a mais que o rival Partizan.
Fotos:
1) Escudo do Estrela Vermelha
2) Arkan
3) Escudo do Obilic
Neste mesmo período uma terrível guerra étnica tomava conta do Leste Europeu, rivalizando sérvios e croatas, principalmente. Onde o Estrela Vermelha entra nessa história? Arkan (famoso criminoso sérvio, cujo nome real é Zeljko Raznatovic) dirigente do clube no início da década de 90 retomou o nacionalismo a tempos oculto nos torcedores sérvios e transformou o futebol em uma nova área de batalha. Arkan cresceu na falsidade da Iugolslávia de Tito, numa época em que se supunha que sérvios e croatas fossem vizinhos felizes. A disciplina do regime comunista não teve o efeito desejado no jovem Arkan: aos 16 anos abandonou o país e foi parar na Itália onde começou a cometer pequenos crimes e a treinar sua mágica capacidade de fugir: jamais ficou muito tempo preso, apesar de inúmeros delitos.
De volta para a Iugoslávia, Arkan entrou para a política: sua lábia e seus contatos ajudaram Slobodan Milosevic a tornar-se chefe do Partido Comunista, em 1986, fato que aumentou sua popularidade e deixou seu talento mais a vista.
A ideologia separatista do Estrela Vermelha atraiu Arkan, que usou o nacionalismo da tradição do clube e de sua torcida, onde criou amizade com os hooligans e clamou pela independência: os cânticos da torcida repetiam ''Sérvia sim, Iugoslávia não.''
O futebol sérvio tornou-se uma bagunça, com ânimos acirrados de toda parte, graças a ação nacionalista de Arkan. Para ''resolver'' o problema, a polícia sérvia nomeou o próprio Arkan, que em seu primeiro ato amansou os nacionalistas do Estrela.
A partir daí a maré política mudou, com Eslovênia e Croávia conseguindo a independência, recebendo uma resposta da Sérvia: guerra.
O controle sobre o Estrela Vermelha foi amplamente positivio para Arkan, que liderou os exércitos do país - os hooligans do Estrela se transformaram em competentes militares, recebendo o nome de 'Tigres', transformando o estádio do clube, Marakana (uma homenagem e referência ao Maracanã, do Rio de Janeiro) em um quartel general.
Em 1991-1992 a primeira ofensiva sérvia teve início, com dezenas de torcedores do Estrela Vermelha feridos no combate - fato que mereceu ''solidariedade'' dos jogadores da equipe - o capitão Vladan Lukic definiu assim a batalha: ''Muitos de nossos torcedores da parte norte do Marakana estão escrevendo das formas mais óbvias, as mais belas páginas da história sérvia''
Arkan comandou algumas de suas batalhas étnicas mais sangrentas em Sasina, na Bósnia - ordenou os Tigres a expulsarem e saquearem as casas dos muçulmanos, e espancassem quem resistisse aos ataques - cerca de 30 homens morreram.
As barbáries foram bem documentadas, mas mesmo assim a maioria sérvia transformou Arkan em um herói em defesa da limpeza étnica. Para alcançar mais prestígio (e dinheiro) internacional, Arkan tentou comprar o Estrela Vermelha, mas os demais dirigentes não concordaram.
Não satisfeito, Arkan comprou um clube médio de Belgrado e transformou em uma potência local: o Obilic teve evolução quase imediata - Arkan comprou os melhores jogadores do país, teve a companhia de leais hooligans que lutaram com os 'Tigres', mudou as cores do time para amarelo, em razão do grupo fundado por ele e exerceu forte pressão sobre os árbitros. Relatos apontam que Arkan conduzia os juízes até o estádio, cercados de ameaças e de dinheiro e invadia o vestiário visitante no intervalo: novamente comandava o futebol sérvio.
A federação local juntamente com os demais clubes, entre eles o Estrela Vermelha passaram a relatar publicamente os atos de Arkan, fato que resultou em punições da UEFA e o banimento do clube em competições internacionais. Arkan tentou contornar a situação, se desligando do clube e deixando sua mulher, Ceca, uma popstar sérvia, como diretora.
Visado pelos outros clubes, o Obilic passou a utilizar a intimidação com menos frequência, tendo efeito direto sobre seu rendimento: foi piorando ano a ano na tabela da liga sérvia.
No fim das contas, a ruína do Obilic pode ter sido a ruína do próprio Arkan - morto a tiros na frente de um hotel em 2000, onde diariamente tomava café e frequentava uma academia. Alguns dizem que sua morte foi fruto de um ataque de outros gangsters, em busca de espaço, outros que fora assassinado pela própria polícia sérvia, já que sabia demais e poderia incriminar os demais políticos que participaram de suas batalhas étnicas e do controle do mercado de armas. Mas existe ainda uma outra explicação: antigos sócios do Obilic estavam revoltados com a participação de Arkan no clube, e ainda mais indignados com os atuais resultados, deram um fim no magnata. Arkan destruiu vidas usando o futebol, mas pode ter perdido a sua em razão do mesmo esporte.
Depois da morte de Arkan, começaram as investigações e seus comparsas foram aparecendo, um a um, sua mulher perdeu prestígio e audiência, o nacionalismo exagerado freou e o mal finalmente pôde ser identificado tal como é.
O Estrela Vermelha é o atual campeão sérvio, e detém 5 títulos nacionais a mais que o rival Partizan.
Fotos:
1) Escudo do Estrela Vermelha
2) Arkan
3) Escudo do Obilic
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