
Alguns anos mais tarde, numa triste ironia, outros torcedores do próprio Liverpool seriam vitimados numa tragédia ainda maior. O ano era 1989 e a Inglaterra "era apenas uma ilha". Devido aos acontecimentos de Heysel, em 1985, a UEFA suspendeu todos os clubes ingleses de competições européias por cinco temporadas, de modo que estes ainda estavam cumprindo sua quarentena disputando apenas as competições domésticas e lutando contra os hooligans. Algumas medidas já estavam sendo tomadas, como a instalação de alambrados e cercas próximas às entradas dos estádios, visando reduzir os tumultos dentro e fora deles.

O início da partida estava marcado para as 3 horas da tarde. No entanto, diversos fatores, como engarrafamentos nas estradas entre Liverpool e Sheffield, fizeram com que grande parte dos torcedores chegasse atrasada ao estádio. Eram 2:45 da tarde e, segundo estimativas, havia cerca de 5 mil torcedores apressados, tentando entrar no estádio - algo desproporcional, em tempo, para as capacidades do Hillsborough em recebê-los. Temendo a possibilidade de um grande e violento tumulto, as forças policiais tomaram a mais polêmica decisão, que acabou desencadeando toda a tragédia: para facilitar a entrada dos torcedores, foram abertos portões, que deveriam ser apenas de saída ou saídas de emergência.
Isto, causou um fluxo enorme de pessoas correndo em túneis estreitos e inadequados. Isso superlotou as duas áreas fechadas (por cercas de aço) atrás do gol, fazendo com que centenas - ou, milhares! - de pessoas fossem pressionadas contra os alambrados, podendo se asfixiar. Em situações normais, os policiais deveriam evitar a superlotação, redirecionando os torcedores para outras áreas, algo que por motivos até hoje inexplicados, não foi feito (detalhe, naquela área, por segurança só poderiam e

Apesar de tudo isso acontecendo dentro do estádio, no meio da torcida, o problema não foi avisado, e o jogo iniciou normalmente. Logo no início da partida, alguns torcedores arrebentaram o portão do alambrado, tentando salvar-se dentro do campo. Outros, ainda pularam os alambrados, numa tentativa mais desesperada de escapar da fatal superlotação. Então confundidos com hooligans invasores, foram reprimidos pela segurança do estádio, que a todo custo tentava retirá-los do campo. Finalmente, após 6 minutos do início da partida, o árbitro, avisado pela polícia da gravidade da situação, parou o jogo.
Nesse momento, percebeu-se a dimensão da tragédia. Pressionados contra o alambrado, muitos torcedores morreram já nas arquibancadas, asfixiados. Além disso, havia aqueles que foram pisoteados durante a entrada no estádio, ou que sofreram ferimentos durante esta entrada. O campo, naquele momento, deixou de ser um espaço de alegria e futebol, para virar um "campo de refugiados", para onde os torcedores tentavam escapar, tomando ar, ou ainda, com feridos implorando por socorro. A polícia, aparentemente sem notar a dimensão do desastre, foi lenta em sua ação e, durante algum tempo, somente uma única ambulância (a de praxe) permaneceu no estádio, sem que nenhum auxílio fosse pedido.
Enquanto as autoridades mostravam-se ineficientes, os torcedores que não haviam sofrido tanto, tentavam ajudar com o que podiam, usando faixas e roupas para improvisar macas. Quando isso ocorreu, os policiais fizeram um cordão de isolamento ao redor do campo e, mesmo sob protestos, impediram que os torcedores tentassem ajudar seus companheiros.
Ao final daquele terrível dia, a fatal sucessão azares e erros deixou 94 mortos e 766 feridos, entre velhos, adultos, jovens, mulheres e crianças. Mais tarde, quando outras vítimas faleceram no hospital em virtude dos ferimentos, chegou-se ao número final de 96 mortos.
Até hoje, o caso gera muita controvérsia. O tablóide "The

O fato é que até hoje os torcedores do Liverpool, diante de acusações que muitos consideram infundadas, clamam por justiça em nome das 96 vítimas de Hillsborough, entoando cânticos de "Justice for the 96", que compartilham o espaço com "You'll never walk alone":
Como legado, a tragédia modificou completamente a concepção de estádio no Velho Mundo. A partir daquele ano, na Inglaterra e, em um ciclo que se estendeu pela Europa, os estádios passaram a ser completamente ocupados por cadeiras e os ingressos vendidos organizadamente, por antecipação e dentro das normas de segurança.
Já o Liverpool, acabou conquistando a Copa da Inglaterra naquele ano. O jogo que seria em Hillsborough foi remarcado para o Old Trafford, em Manchester, onde o Liverpool classificou-se para a final, onde venceria o rival citadino Everton, levantando o troféu. Entretanto, aquele não foi um ano de festa e, sim, de luto.
3 comentários:
Fico triste apenas pela visão italiana do que aconteceu em Heysel por sua parte, pois alguem que se da ao trabalho de escrever um ótimo texto sobre um dos momentos mais trágicos da história do futebol não deveria ser tão parcial.
Os hooligans de Liverpool não eram nem de perto os "que mais terror levavam à Inglaterra e Europa". O desastre de Heysel foi uma tragedia, e foi culpa das autoridades belgas que nao estavam preparadas para o que iria acontecer, ja que grupos de hooligans de diversas firmas (nao soh de Liverpool) foram para Heysel, numa especie de revanche contra o que aconteceu com os ingleses em Roma no ano anterior.
Visitei o memorial dos 96 em Liverpool em agosto do ano passado, ateh os dias de hoje eh algo que causa enorme comocao na cidade de Liverpool. Principalmente agora, que fara 20 anos dessa data tragica.
Justice for the 96!
You'll Never Walk Alone
bah, esse texto é uma relíquia, foi o primeiro que eu postei aqui no blog depois de uma pesquisa mais extensa. Realmente, a minha abordagem sobre o ocorrido em Heysel foi falha. Nessa época o blog ainda era uma torre de babel e eu quis deixar o texto com a menor extensão possível... acabei pecando pela simplificação.
Ontem fez 20 anos desta data trágica. As famílias e amigos ainda buscam por justiça.
Rest in Peace
JUSTICE FOR THE 96
YOU'LL NEVER WALK ALONE
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