Os torcedores mais desprevenidos precisavam recorrer às mercearias nos arredores da Baixada Melancólica. Um brinquedo ou um quilo de alimento não perecível, este era o preço para ingressar nas dependências do estádio do Interzinho e VISLUMBRAR a última rodada do grupo de Santa Maria na primeira fase do Brasileirão Sub-20. Para começar, Avaí e Santos. A seguir, embate entre os Atléticos do Paraná e de Minas. Com o Grêmio folgando e garantido em primeiro lug
ar, todos os outros chegaram ao fim com chances de ocupar o segundo posto.

Sem querer entrar em campo como membros da IMPRENSA, tentamos oferecer dinheiro para subir às cadeiras do Presidente Vargas – “vocês podem comprar os alimentos com cinco reais” –, mas não deu muito certo. Perdidos por aquelas bandas, ouvimos de um cidadão que carregava um SALAME que o mercadinho tal vendia coisas na esquina de cima, e por menos do que os cinco reais inicialmente oferecidos retornamos com dois sacos de arroz. A comida foi saudada pelos fiscais da entrada com o mesmo entusiasmo com que a partida transcorria até ali: “joga aí num canto e entra no setor que quiser”.
Em cima do gramado seco e repleto de buracos preenchidos por areia, desenrolava-se um zero a zero irritante como as moças que não são satisfeitas no leito. A cancha quase vazia, com as gerais fechadas por conta da falta de COMOÇÃO pública pela partida, soltava bocejos intermi
tentes. O desértico dos degraus das arquibancadas era o desértico da qualidade apresentada. Beirava o inexplicável que o Avaí tivesse somado quatro pontos antes daquilo. E que o Santos, mesmo jogando melhor, tivesse chegado à rodada final atrás dos catarinenses, com um ponto a menos.

A superioridade desvaneceu os litorâneos paulistas e fez com que todos se esquecessem que o Peixe havia feito campanha de lanterna nos três confrontos anteriores. Já além da meia hora do primeiro tempo, o gol marcado pelo Santos foi encarado como normal. Um bom chute cruzado e uma comemoração pouquíssimo acalorada, de quem não faz mais que a obrigação. O tento não modificou o TRANSE no qual estavam imersos os vinte e dois atletas. Todos os minutos seguintes do primeiro tempo, e os iniciais do segundo, foram como os minutos que vêm logo que o ETANOL começa a diluir o sangue nas veias. Lerdos e amolecidos, assim permaneceram os dois times.
É certo que nasceu de alguma mente mais espirituosa aquela entrada de TRÊS cuscos ao mesmo tempo no terreno de jogo. Não só entraram e seguiram caminhando juntos como ainda proporcionaram uma briga entre si, de dar inveja a qualquer desentendimento desses que têm sido COMUNS ao final das partidas do Brasileirão Sub-20. Mordiam-se e arranhavam-se, os cães. Ganharam os mais eloquentes festejos do pavilhão, e evidenciaram o completo estado de alienação dos at
letas em campo. Enquanto a partida esteve interrompida para esperar que os cachorros deixassem o gramado voluntariamente – e o termo é esse, porque ninguém se dignou a retirá-los –, os jogadores ficaram estáticos, indiferentes e com os olhos vidrados em qualquer coisa menos o que estivesse em campo.

Para o Avaí, que precisava recuperar o escore e conquistar uma virada para permanecer ilusionando a passagem de fase, tudo se punha assustadoramente mais complicado pela ausência de um matador. O centroavante Cristian, um camisa 9 sem jeito para o número, avançava aos TROPICÕES e alguma vez atingiu o extremo de pisar na bola e cair sozinho – dentro da grande área santista. Como o futebol é um esporte para quebrar os especialistas, o gol de empate veio com o homem que só errava. Aos 78 minutos, teria sido de Cristian o pelotaço que assinalou o 1 a 1. Ou o sujeito que estava sentado ao nosso lado nos sacaneou após ouvir tantas críticas ao futebol do guri. Porque o gol, o lance e a conclusão, não vimos.
Estávamos distraídos observando a chegada dos atleticanos no estádio, para a segunda partida da rodada dupla. O Atlético Mineiro veio primeiro, e começou o seu aquecimento ao lado da goleira à esquerda das cabines da imprensa, onde a meta catarinense era defendida no segundo tempo. Os paranaenses chegaram depois e fizeram os trabalhos do outro lado. Para ambos, o empate entre Santos e Avaí tinha a DOÇURA de umas
TANGERINAS, matando os paulistas e catarinenses abraçados e decretando que o vencedor dos atléticos passaria às quartas-de-final. Com a absoluta falta de raça que só chegou a um gol pela ausência de futebol avaiano no primeiro tempo, o Santos mostrou-se incapaz de buscar um novo balanço das redes.

Os oponentes, ao contrário, se vieram. Se antes a metafórica bebedeira impedia gestos mais BRUSCOS, agora eram os minutos posteriores àqueles em que o álcool desce, quando começam os devaneios etílicos e o cidadão é capaz de realizar mais do que nos momentos de SANIDADE. A parte decisiva do encontro transcorreu sob um vento de tormenta que contorcia as trajetórias dos chutes e fazia todas as pelotas lançadas ao ar retornarem contra a meta do Avaí. Contra o vento, o Santos, o juiz e com CINCO em campo, os avaianos foram lá e viraram. Tá, a parte do juiz e dos cinco em campo não chegou a se concretizar, mas eles contarão para os netos desse jeito. Nem o paredão de AR trancou as investidas do time de Florianópolis, que cercou o gol inimigo de forma tão preocupante que a bola não mais passou do meio de campo.
Aos quarenta e oito e meio do segundo tempo, uma dessas cruzadas à área do Santos encontrou uma cabeça – ou um OMBRO – e fez pouco dos sopros atmosféricos que insistiam em ir para a outra direção. Com míseros trinta segundos de resquício de tempo para a batalha, Jean ombrou a bola e virou a pa
rtida para os catarinenses. 2 a 1. Entrevistado por uma rádio como “torcedor neutro” (embora vestisse uma camisa da Chapecoense, num claro desagravo ao São Luiz, que os enfrentaria naquela noite), o Iuri disse torcer para o Avaí por se tratar de um time que não fazia mal a ninguém. Fez ao Santos. E ao Atlético Paranaense.

A remontada do Avaí, além de colocá-lo fortíssimo na disputa pela segunda vaga do grupo e eliminar o Santos, ainda acabava por tabela com as chances do Furacão: os avaianos escalavam até o sétimo ponto, e os paranaenses só podiam subir a seis, caso vencessem. O único que poderia superar os azuis e brancos da Ressacada era o Galo, e para isso precisava triunfar. Os jogadores do quadro curitibano estavam ao lado daquelas traves, observando de muito perto como suas esperanças viraram FARELO. Todo o aquecimento que ainda faziam virava subitamente uma formalidade para um duelo inútil. Só de raiva (?), perderam o jogo seguinte por 2 a 0 e eliminaram de volta o Avaí.
Fotos minhas e do Iuri Müller.
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