segunda-feira, 20 de julho de 2009

Começa o século II

PORTO ALEGRE – Kallfelz, Deppermann, Becker, Carls, Black, Mostardeiro, Brochado, Moreira, Booth, Schröder e Grunewald. Em 18 de julho de 1909, esse monte de alemães e alguns METIDOS de outras procedências entraram em campo para fazer um MATCH EXTERNO pelo Grêmio. Sem a menor noção das CONSEQUÊNCIAS daquilo, os inocentes meteram logo 10 a 0 no adversário recém-fundado que, TRAQUINAS, quis estrear logo contra o clube que então era o mais importante da cidade. O Internacional, derrotado naquele domingo, podia ser mais um dos times pequenos de Porto Alegre, muitos dos quais já sumiram. Não era.

O Inter sobreviveu ao BAQUE inicial, cresceu, venceu e conquistou copas dentro e fora da QUERÊNCIA. Como o Grêmio. Mas muito antes de os grandes títulos virem os dois já eram os principais times da capital gaúcha. Rivais. Que puxavam o outro para cima quanto mais tentavam empurrá-lo para baixo. Fizeram-no com taças, com construções de estádios, com contratações de jogadores e provocações na mídia. Fizeram-no em enfrentamentos diretos. Antes de ontem, 376 eram os jogos entre Grêmio e Internacional. Em 19 de julho de 2009, Kallfelz, Deppermann, Becker, Carls, Black, Mostardeiro, Brochado, Moreira, Booth, Schröder e Grunewald, todos já CONSUMIDOS pela terra, eram nomes numa faixa sobre a Geral do Grêmio. No primeiro dia depois de se fechar um exato século de Gre-Nais, abriu-se o segundo CENTÊNIO da existência do Clássico... com um Gre-Nal.

Quarenta mil pessoas CONVERGIRAM ao Estádio Olímpico para presenciar a EFEMÉRIDE. Traziam nas mãos encartes especiais dos jornais gaúchos, relembrando a história do duelo, e nos corações a expectativa de deixar o confronto triunfantes. Um Gre-Nal tem importâncias variáveis. Conforme os anos foram passando, outras PRIORIDADES surgiram para diminuir a disputa provinciana. Os confrontos se perderam em datas soltas, por vezes em meio a competições mais interessantes, e reservas se acostumaram a entrar nesses jogos desprezados. Mas uma vitória no Clássico permanece como a coisa mais FESTEJÁVEL pelos torcedores gaúchos, abaixo apenas dos grandes títulos – nem que seja por um único dia, antes de a preocupação com a próxima rodada tomar conta.

É por isso que o Gauchão, que para Grêmio e Inter não é mais um grande título, só lhes tem SABOR quando conquistado em Gre-Nal. O Gre-Nal em final de Gauchão, valendo uma taça oficial, é a forma de dar CONCRETUDE a esse sentimento de orgulho que toma a metade azul ou a metade vermelha quando elas vencem um Clássico. Por menor que seja, o título do Estado garante que os gritos ORIUNDOS da vitória sobre o grande rival foram mais que um número nas estatísticas e resultaram em algo. Em 2009 o Gauchão não teve exatamente uma finalíssima em Gre-Nal, mas se pode dizer que foi decidido com o Clássico – três vitórias do Inter, cada uma delas por 2 a 1, afirmam o quanto o confronto direto DETERMINOU o rumo do troféu. Três vitórias do Inter neste ano, mais uma por 4 a 1 no ano passado, e mais três empates antes de tudo, fechavam sete partidas seguidas do Colorado sem derrota para o Grêmio. Era isso que fazia as cabeças dos alvirrubros que esgotaram os três mil ingressos de visitantes colocados à venda para o jogo de ontem.E que despertava nos tricolores os mais PRIMITIVOS desejos de vingança. Para eles, já bastava dessa bobagem de perder. Se era verdade que o Gre-Nal não tivera vitórias gremistas desde 2007, também era que, dentro do Olímpico, o Inter não triunfara desde 2006. Retrospecto negativo por retrospecto negativo, o Clássico de ontem era no Olímpico. Essa fé do lado azul foi ENTUMECIDA pelo bom começo de jogo do Grêmio. Mantendo o Inter sob controle, o tricolor do Clássico do Centenário buscava sair ao ataque e, nos primeiros quinze minutos, comandou a partida. Estava, porém, enfraquecido em relação ao meio de campo vermelho. À medida que o CAJADO do PASTOR Tite batia no lombo dos seus liderados, o Inter fazia valer essa superioridade central para conter o Grêmio.

Logo, o ataque tricolor se resumiu a dois argentinos ESQUECIDOS, separados do resto da equipe por um imenso mar vermelho, vazio de gremistas. Em 1909 os dois times estrearam em Gre-Nais usando o então GENIAL esquema 2-3-5. Ontem, naquela altura do jogo, o 4-4-2 do Grêmio, com Maxi López e Herrera distantes dos companheiros, era um 4-4-0-0-0-0-0...-2. A bola atingia aquela dupla localizada numa região REMOTA do campo em momentos de DESCUIDO colorado. Saber MATAR os oponentes não fez o Inter levar mais perigo. Os alvirrubros chegaram algumas vezes, mas não em número acima do que o próprio Grêmio fazia, apesar de todas as amarrações a que estava submetido. Por isso, um gol de contra-ataque. Como no lance que definiu o Gre-Nal de Erechim, no começo do ano, uma bola parada perto da área do Inter resultou em sobra para o time vermelho ir para cima diante de uma defesa pouco arrumada. Aos 24 minutos, eram quatro colorados correndo para cima de quatro tricolores, e um Nilmar atropelando um Souza que não quis dar chutão quando só podia fazer isso. Veloz, o goleador do Inter livrou-se do meia gremista, ficou SOLITO na área e meteu um tiro alto na saída de Victor.

Em algum canto da cobertura do Olímpico, escondido atrás de uma placa de publicidade da PANVEL, o fantasma de Vinholes, autor do primeiro gol colorado em Gre-Nal, deve ter sorrido. Se é que fantasmas têm mesmo dentes, ele os escondeu onze minutos mais tarde, quando Souza, o mesmo que se recusou a simplificar na frente da área e não impediu o gol colorado, empatou o jogo. Do outro lado do campo, diante da área oposta, com a mesma bola, agora sim ele tinha a possibilidade de ESCOLHER o que fazer. Esférico parado, cobrança de falta. Souza optou pelo lindo. Mandou um pelotaço no ângulo direito de Lauro, cujo bom salto na direção da bola só serviu para ter certeza de que o chute era mesmo indefensável. Aos 35, 1 a 1. Ainda pouco para sinalizar vitória aos tricolores. Desses sete últimos Gre-Nais de invencibilidade vermelha, seis viram o Grêmio buscar empates depois de sair perdendo. Nenhum foi além disso.

O deste domingo, contudo, era diferente. Assim como em cem anos o esquema muda do 2-3-5 para o 4-4-2, em três meses a situação de um clube e de outro pode se inverter. No último Clássico, em abril, os colorados gritaram “fica Celso Roth”, pedindo a não-saída do treinador gremista, cuja impopularidade subia assustadoramente nas rodas tricolores. Domingo, ao final do segundo tempo, eram os gremistas a entoar “fica Tite”, clamando pela permanência do treinador do Inter, que se espanta com a forma como tem decaído a equipe que se mostrava quase perfeita no início da temporada. Roth caiu. Tite ainda se segura. Chegou-se a esse ponto graças a um segundo tempo em que o Grêmio LOTEOU o gramado. E no qual o futebol de Mário Fernandes foi apresentado - tímido na primeira etapa, o zagueiro-improvisado-na-lateral de 18 anos retornou ao terreno de jogo para desempenhar uma atuação que fez alguns torcedores já temerem novas FUGAS suas. Agora há o que perder se Mário quiser sumir novamente. Mas quem sumia, por ora, era o Inter. Nos três quartos de hora finais, o Colorado desferiu apenas um chute na direção do gol, uma bola aos 58 minutos que atingiu as redes de Victor pelo lado de fora, sem grande perigo. O resto do tempo teve o Grêmio atacando, o Grêmio segurando a bola, o Grêmio trocando passes no ataque e o Inter se defendendo como podia.

Até os 69 minutos. Aí Maxi López fez o gol da remontada. Guiñazu, AMALDIÇOADO na jornada de ontem, já meio frustrado por ter cometido a falta que originou o primeiro gol do Grêmio, deu aos tricolores o escanteio por meio do qual nasceu a virada. Da cobrança, a bola sobrou para Réver, que bateu. Guiña salvou, tirando com o peito a pelota com o rumo certo das redes. No entanto, sua intervenção serviu, acidentalmente, como assistência para Maxi cabecear no canto que Lauro deixara aberto. Depois de levar o 2 a 1, ao contrário do que normalmente acontece em jogos do tipo, o Inter não equilibrou os ATOS. A disposição do Grêmio, que não abdicou do ataque apesar de ter o resultado ao seu lado, contribuiu. Sem se apiedar dos adversários e conceder-lhes um misericordioso chutinho final, o time da casa ainda criou a melhor chance do pós-segundo-gol, quando Maxi passou para Herrera chutar e acertar a trave.

Sentia-se, pelo modo como as equipes se portavam, que sem o IMPONDERÁVEL não haveria mudança de resultado. O Olímpico cantou mais alto do que em qualquer outra jornada do ano, talvez dos últimos dois anos – que foram anos sem troféus e sem Gre-Nais triunfantes –, e o som do apito final de Gaciba se misturou com a vibração gremista. Sob a bênção de Kallfelz, Deppermann, Becker, Carls, Black, Mostardeiro, Brochado, Moreira, Booth, Schröder e Grunewald, presentes na faixa da Geral e cujos ESPECTROS deviam estar disputando lugar nas MARQUISES com o Vinholes, o novo século do Gre-Nal se iniciou como o primeiro – com vitória do Grêmio.

2 comentários:

Rodrigo Bender disse...

Maxi López sabe usar muito bem o corpo, e foi o desaue tricolor, que diminuiu ainda mais a atuação de INdio. Mário Fernandes será um Sérgio Ramos dos Pampas? Para mim, melhor que William T. O Internacional, já há uns dois anos, não sabe o que é pressionar um adversario. Sandro Raineri e Sorondo foram os que se salvaram dos vermelhos. Tite substiui Bolívar por Danilo, nossa!

Ah, e nos colorados deveriamos fazer uma faixa para os onze nossos do 1o grenal. Afinal,é corajem um bando de moleques querer estrear contra um time já bem formado.

Paulo disse...

BOM.... O FANTASMA VINHOLES citado na materia acima era meu BisavÔ Benjamin Vinholes ...