domingo, 19 de julho de 2009

Assim caminham os “simpáticos”

PORTO ALEGRE – O futebol profissional PEQUENO da capital gaúcha é defendido por três PENDÕES. O mais recente é o Porto Alegre do Lami. Que virou centro de investimento para o EMPRESARIADO esportivo e DINAMITOU as chances de se popularizar. O mais glorioso é o Cruzeiro. O time do Estrelão já foi até campeão estadual, o único dos capitalinos chicos remanescentes a exibir tal COROA, mas milita há mais de trinta anos na Segundona, e ainda sorri CONSOLADO ao lembrar de feitos que o tempo afasta inapelavelmente. O mais constante é o São José.

Alguém que acompanhasse os Campeonatos Citadinos de Porto Alegre na primeira metade do século passado duvidaria que o tal Zequinha sobrasse nessas condições. O São José jamais ganhou o torneio da cidade, foi vice-campeão só duas vezes (com intervalo de ONZE anos entre elas – 1937 e 1948), e tinha o pouco alentador HÁBITO de sofrer CONTUNDENTES goleadas da dupla Gre-Nal. Ocorre que, desde 1998, o time não saiu mais da primeira divisão do Estado. Suas doze temporadas consecutivas na elite, treze se considerarmos a disputa de 2010, na qual o clube está garantido, perfazem a maior série de aparições de um quadro pequeno de Porto Alegre em todos os tempos.

Seguindo o hino rio-grandense para mostrar valor e constância na ímpia e injusta guerra contra os dois primos mais ricos da cidade, o São José dos resultados SATISFATÓRIOS conquistou os investimentos da empresa do presidente da FGF. Passou a trazer jogadores renomados do cenário local, a exemplo de Sotilli no Gauchão deste ano, e o acanhado Estádio Passo d’Areia se ajeitou como PEITOS CAÍDOS que recebem implantes de SÍLICA. Apesar de as campanhas no estadual não serem maravilhosas e as goleadas sofridas diante de Gre e de Nal continuarem como nos velhos tempos, o Zequinha de agora se apresenta até em torneios nacionais. Em 2009, joga a Série D, onde vinha com duas vitórias nas duas primeiras rodadas, antes de ontem.

O mundo FELIZ do São José só não existe quando se fala do slogan que o clube martela EM VÃO nas nossas mentes – “o mais simpático do Rio Grande do Sul”. Quiçá seja o mais simpático em seu QUINTAL, essa Porto Alegre que matou a maioria dos seus times pequenos históricos, mas no resto do Rio Grande o que há em relação ao Zequinha é bem distante da SIMPATIA. Nas arquibancadas interioranas, fala-se do time sem torcida da capital, que rouba vaga de alguém que lotaria seus estádios longe de Porto Alegre. Não estão o Pelotas, o Farroupilha, o Bagé, o Guarany, e mais tantos outros CONFINADOS na Segundona? Entonces. Se caísse, o time do Passo d’Areia não feriria corações, não derramaria lágrimas e nem lançaria cogitações de suicídio. Enfim, não faria falta, porque no fim das contas o futebol é de ninguém além do torcedor.

E o Zequinha CAÇA torcedores. Tirando os antigos, algum que outro morador do bairro que se identifique acima da média com o clube, o que há são os ESPORÁDICOS. Existem iniciativas de MINORIAS, como uma barra – é fenomenal como esse estilo deu CRIAS pelo Estado –, e INAUSENTÁVEIS faixas pregando “Anti Grenal”, outra moda que se proliferou pelo Rio Grande. Mas o maior pedaço das cadeiras é ocupado por empresários, por parentes de jogadores. E com eles dá para se chegar, com algum afinco, a uma centena de pessoas no estádio, nas partidas normais. Era mais ou menos isso que havia ontem nos degraus do Passo d’Areia, quando o São José SALTOU a campo para enfrentar a melhor ENCARNAÇÃO brasileira do futebol levado como máquina de movimentar dinheiro: o ex-Malutrom, ex-J. Malucelli e atual Corinthians Paranaense, por uma parceria com o homônimo paulista.

Ou simplesmente, na frase de um PRESENTE ao jogo (“torcedor” pode ser exagerado), o time que “não tinha camisa e teve que roubar do Corinthians de São Paulo pra entrar no campeonato”. De qualquer forma, os vice-campeões do Paraná em 2009. E um choque de líderes. Antes do sábado, o São José ponteava o Grupo 10 da Série D com seus 6 pontos, sendo o Corinthians segundo colocado com 4. Atrás deles, um Pelotas que só pensa na Segundona Gaúcha, dono de 1 ponto, e o fraquíssimo Brusque, que não pontuou nem marcou gols. Uma vitória praticamente botaria o Zequinha na próxima fase.

A próxima fase, parte do ESPETÁCULO de formulismo dado pela CBF: dos 40 clubes que começaram na Série D, 20 passarão de fase (são dez grupos de quatro equipes, passando os dois melhores – uma chave na verdade tem apenas três times, por conta da desistência de TODOS os clubes acreanos habilitados a entrar na Série D). A partir daí será mata-mata. Os 20 virarão 10, que virarão 5 e, como eliminatórias não fecham com números ímpares, quando tivermos esses 5 finalistas encararemos um REVIVAL dos emaranhados campeonatos de décadas passadas. A eles, JUNTAR-SE-ÃO os três eliminados com melhor campanha até ali, para fechar as quartas-de-final. Só o SAUDOSISMO pelas antigas fórmulas enroladas feito ROCAMBOLE justifica isso num campeonato em que o número de participantes permitia que se armassem oito pentagonais, classificando 16 times à etapa seguinte.

SUBMETIDOS ao sistema, os clubes golpeiam-se uns aos outros ainda meio perdidos em relação ao seu futuro. O TRANSTORNO dos atletas do Corinthians Paranaense, fortalecido pela viagem de ônibus que o time fez para chegar a Porto Alegre, restou claro quando o capitão da equipe adentrou o gramado do Passo d’Areia carregando uma CAIXA DE BOMBONS (?) para presentear ao líder do Zequinha. Fontes obscuras afirmam que o clima nascido no círculo central na hora de lançar a moedinha incluiu troca de telefones. Não confiamos nelas. Ao jogo, ao jogo. No momento em que o primeiro pontapé foi desferido, até as pessoas que estavam nas quadras cobertas localizadas atrás de uma das goleiras (pertencentes à “Zequinha Sports”) deram uma parada para observar o que acontecia. Logo concluíram que valia mais a pena voltar ao SEU jogo.

São José e Corinthians tardaram a pensar em coisas SÉRIAS. Gastaram o primeiro tempo DISCUTINDO A RELAÇÃO com os gols, e desperdiçaram algumas poucas chances que não prometiam. Sem que isso significasse vitória iminente, o São José criou mais do início ao fim. Aos 64 minutos, numa bola que escapou pela direita, Jéferson deu um corte na marcação e EMBUCHOU o gol porto-alegrense. Da vantagem gaúcha nasceram os maiores perigos na tarde. Doze minutos após o gol, um corintiano-paranaense empurrou o goleiro do São José com bola e tudo para dentro do gol. Uma falta evidente e assinalada pelo juiz, o que não impediu que o jogador da equipe visitante saísse comemorando CÉTICO, para então constatar a anulação do tento e reclamar com a mais convicta das indignações. Nos acréscimos, um milagre do arqueiro do Zequinha, em desvio do ataque visitante na entrada da pequena área, assegurou o 1 a 0.

A vitória mantém os 100% de aproveitamento do São José, com 9 pontos em três rodadas. Encerrado o primeiro turno, o time lidera com cinco unidades a mais que o concorrente mais próximo, e só será eliminado se perder meio elenco numa QUARENTENA por GRIPE A. Do contrário, a saga do pequeno time de Porto Alegre na Série D continuará nos BEÓCIOS mata-matas de vinte equipes. Viesse de um interiorano, seria de provocar SENSAÇÕES. Mas é de um capitalino sem APELO POPULAR. E hoje é dia de Gre-Nal. Na capital, depois do jogo no Olímpico, nem a poeira das ruas vai querer saber da caminhada dos “simpáticos” do Passo d’Areia.

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