quinta-feira, 2 de abril de 2009

O dia em que ignoramos Douglas Costa

Terça-feira, 31 de março, três horas e quarenta e seis da madrugada. É contra os meus princípios acordar de madrugada. Nessa hora, provam alguns posts aqui no blog mesmo, eu costumo estar acordado, e só vou dormir bem depois. Em dias de semana, bom, acordar às três e quarenta e seis é sinônimo de ver o relógio, pensar como é bom ter mais várias horas de sono, e virar para o lado e voltar a fechar os olhos. Mas nesta terça-feira eu tinha que acordar às três e quarenta e seis. Às quatro, que fosse, mas que diferença fazem catorze minutos?

Acordei. Por uma causa decente. Dali a pouco sairia o ônibus que levaria os estudantes santa-marienses de jornalismo para a pouquíssimo-divulgada-mas-nem-por-isso-inexistente manifestação em favor da obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão. Desregulamentação e tal, quem leu os principais jornais (não) deve ter visto (muito). Na quarta-feira o STF julgaria isso e precisávamos fazer algum barulho. Os de Santa Maria, acordados de madrugada e enlatados por quatro intermináveis horas no ônibus, fomos os mais mobilizados para a passeata de Porto Alegre.

Que talvez tenha adiantado alguma coisa, talvez tenha sido irrelevante, mas no dia seguinte decidiram adiar mais uma vez a definição. O que nos obrigará a fazer algo semelhante em breve. Ou não. Enfim, ao meio-dia de 31 de março já estava tudo encerrado, e a massa dissolvia-se no velho cada-um-por-si-e-o-monstro-de-espaguete-voador-por-todos. Almoço, tarde livre, saída às dezesseis. O que fazer? O que fazem uns amantes do futebol em Porto Alegre na tarde da véspera do jogo da Seleção Brasileira, que por aquela hora deveria estar treinando no Beira-Rio? Vão para o Olímpico, porque não estão nem aí para a Seleção.

Nós, que estávamos em cinco, fomos ao Olímpico, pois. Passaram-se doze anos desde a primeira vez em que pisei no estádio do Grêmio, mas só na terça-feira tive a oportunidade de visualizar o panorama do campo desde o anel inferior, aberto para os visitantes. O resto foi o que inclui uma visita ao templo de Azenha: campo suplementar, memorial, troféus, fotos, troféus, vídeos, troféus, circulada, troféus (na foto, o inolvidável Troféu MARRETA, de 2006). Nisso, apareceu o Douglas Costa. Ou alguém muito parecido com ele. Conversava com dois ou três fulanos ali na frente, o Douglas Costa, e ficamos uns dois minutos discutindo se era mesmo ele ou algum desconhecido da base querendo aparecer.

Era ele.E ia e voltava e só faltava mostrar uma caneta para dizer que queria dar autógrafos. Agora eu conto para as pessoas e elas perguntam como diabos não fomos assediar o pretenso craque tricolor que a qualquer momento (“a qualquer momento” substitui “não temos a menor ideia de quando”) poderá ser contratado pelo Villarreal e nunca, nunca mais vestir a camisa azul, preta e branca. Mas ninguém moveu uma palha para pedir fotos ou lembranças. Os motivos permanecem misteriosos. Da minha parte, porque realmente não me interessava ter o autógrafo de um jogador que fez pouco mais que nada no futebol profissional – preferiria uma assinatura do Ronaldo Capixaba na minha camisa VERMELHA do São Luiz. Então não fomos. Escolhemos o memorial (ao lado, o troféu carinhosamente apelidado de CORNÃO, de 1906).

Certo que fomos nós que deixamos o Douglas amargurado, frustrado, com as pernas bambas e o chute enfraquecido por um desejo de vingança que tomou conta dos pensamentos. Vai chegar o dia em que ele lembrará, em alguma entrevista, dos cinco que o ignoraram solenemente no pátio do Olímpico. Demos um motivo a mais para ele se bandear pela Espanha, quem sabe. Para quem duvida, o noticiário está aí e diz que Douglas treinou tão mal no dia seguinte que foi cobrado duramente pelo Roth, gerando uma polêmica desproporcional que retratou bem a FRESCURA que toma conta do futebol – mas que não prevalecerá enquanto tivermos Segundonas Gaúchas e outras peleias.

Terminamos a tarde observando os carros dos jogadores gremistas chegando para o treino vespertino no Olímpico. Passaram o Thiego, o Marcelo Grohe, o obscuro terceiro goleiro Alessandro, este trovando menininhas. Antes deles, atravessou o pórtico o mito ÓRTEMAN, que não fez uma partida boa desde que vestiu a camisa do Grêmio, mas por toda uma espécie de coisas permanece folclórico. Órteman chegou a Porto Alegre dizendo-se fã de AC/DC, Stones, Metallica e Nirvana, conquistou alguns torcedores com isso, mas na nossa frente passou escutando um hip hop quase guei. Mente, o uruguaio, e não só no que diz respeito ao seu futebol.

Hoje, sem o enganador Órteman mas com o desprezado Douglas Costa, o Grêmio foi surrado impiedosamente pelo fraco time do Caxias, caindo por 4 a 0 na Serra. Pode ter custado as chances do título estadual – no domingo, será obrigado a enfrentar, possivelmente com reservas, o rival Inter fora de casa e, se for eliminado, acabou-se o campeonato nas quartas-de-final do returno. A goleada foi outra das incoerências futebolísticas de uma semana que teve a Bolívia metendo antológicos 6 a 1 na Argentina (para desespero da tevê de La Paz que prometeu aos jogadores locais 11 mil dólares por gol marcado), o rebaixado Brasil de Pelotas fazendo 1 a 0 no Novo Hamburgo e vencendo pela única vez no Gauchão, e o sem-ter-o-que-fazer-no-campeonato São Luiz sendo melancolicamente superado em casa pelo outro rebaixado de 2009, o Sapucaiense, que fez 1 a 2 numa partida que VALIA TANGERINAS.

E agora me dizem que o Brasil vai virar CREDOR do FMI. Só falta o Aurora ganhar uma na Libertadores para completar a festa das improbabilidades realizadas.

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