terça-feira, 10 de março de 2009

Esse universo que teima em me contradizer

Uma das minhas qualidades mais incríveis como espectador futebolístico é dizer uma coisa e, dois minutos depois, ser desmentido pela realidade. Se o Andrezinho é ruim, ele vai lá e faz gol. Se o Léo não está jogando nada, ele desarma sem falta em todos os lances seguintes. Se na abertura da Segundona Gaúcha de 2004 o São Luiz foi derrotado em casa pelo Riograndense de Santa Maria por 0 a 1 e eu disse “perdendo pra esse timinho, não ganhamos mais de ninguém”, nas CATORZE rodadas seguintes o time ficou invicto, inclusive com recorde de 527 minutos sem levar gol. Foi nesse jogo contra o Riograndense que todos esses desmentidos das minhas afirmações começaram. Domingo, voltei a ver o Periquito de Santa Maria.

Com o novo gramado decentemente crescido, mas ainda com a feiúra da imperfeição, toda a onda feita para saber onde seria a estreia do rubro-verde resultou desnecessária. No 8 de março em que iniciava mais uma temporada na MAIOR PELEIA DA TERRA, o time jogou mesmo nos Eucaliptos, diante de um público que, segundo o Iuri e sua visão tendenciosa, “o São Luiz não bota nem na primeira divisão”. O estádio dos Eucaliptos de SM, registre-se, é das coisas mais pitorescas que há, tendo sido sua construção encomendada pelo faraó Tutancâmon e encerrada nos tempos em que o América carioca podia ser chamado de grande.

É velho, mas é bonito. Sério. Só não descobri para que servem aquelas janelinhas vermelhas no alto do pavilhão. Quiçá um depósito secreto de pólvora utilizado durante a Guerra do Paraguai. Ela, a pólvora, teria sido útil para dar mais poder aos ataques do time visitante, o Três Passos da intrigante sigla TAC (adotada em detrimento da menos sonora TPAC, que seria correta). Apesar de tocar bem a bola, o aurinegro, outro amarelo e preto em segundo escalão nesses tempos sombrios para equipes com essa configuração de cores, não deu mais que um chute torto no primeiro tempo, sem ameaçar o goleiro-reserva-convertido-em-titular-e-de-reputação-destruída-por-boatos-obscuros Mainardi.
Na outra ponta, o Riograndense levava mais perigo. Empurrado por uma torcida que cantava o canto que a Geral do Grêmio roubou dos argentinos, “queremos a copa”, mas, ao contrário da Geral, pronunciando cópa e não côpa, o time da casa foi criando. Bonaldi, famoso no interior por suas cobranças de falta a oitocentos quilômetros do gol, sempre precisas (ele não chuta para fora, ainda que o goleiro geralmente consiga espalmar), proporcionou alguns dos melhores momentos da parte inicial, nos dois lados - a certa altura escorregou no campo de defesa e quase entregou um gol de bandeja pro TAC. Mas foi de bola rolando o único gol da tarde. Aos 35 minutos, uma boa jogada de linha de fundo pela esquerda ofensiva do Riograndense gerou cruzamento para Alfinete chegar batendo prensado com o zagueiro taquense Neuri, na pequena área, matando o goleiro visitante.

Critiquei a passividade dos de Três Passos no intervalo e, como de costume, os fatos trataram de me fazer parecer um alienado. No segundo tempo o que era só troca de passes virou ímpeto, pelo mesmo motivo que fez os quarenta e cinco minutos iniciais serem de marasmo: o TAC estava lá para empatar e, agora, era isso o necessário para empatar. Chances da equipe de fora apareceram aos montes, e as ações relevantes do Riograndense resumiram-se a um pelotaço acertado na trave, ali pelo minuto 60, e oportunidades pouco interessantes se comparadas a algumas da primeira metade. Ainda assim, os CAMPEÕES MUNDIAIS DE 1825 (segundo a sempre confiável Wikipedia) só apertaram o suficiente para arrancar “uuuuuuhs” da torcida local.

Venceu razoavelmente o Riograndense na abertura da Segundona, o que pode significar muito mas normalmente não significa nada. Em 2004 eles venceram o São Luiz na abertura, não venceram? E quem passou catorze rodadas invicto foi o time de Ijuí, e quem ficou sem passar de fase foram os de Santa Maria. Mas como sou eu que estou falando isso, talvez os resultados me contradigam e o rubro-verde acabe campeão dessa joça. Aí o Iuri verá um time da cidade dele substituindo o outro na elite, pois dificilmente o Interzinho se safa do rebaixamento. Ele, que deveria escrever o texto sobre esse jogo mas no momento está recebendo um diagnóstico médico que o afastará do futebol para sempre (ou não), me disse, no final da partida de anteontem:

– Hoje tu não foi pé-frio.

Mas ninguém disse que eu não estava torcendo pelo TAC...

5 comentários:

Rodrigo Bender disse...

Inter-SM, 2010 na primeira gaucha e classificado para a 4a divisão

2011 Campeão gaúcho, sobe da quarta para a terceira, Josiel é contratado enquanto Celso Roth assume a seleção após um fracasso de Luxinha, o tecnico pos-copa

2012 ainda na terceira

2013 CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL e ascesso à segunda divisão nacional. Bicampeão do Estado

2014 Base da seleção no ano da copa no brasil, ganha a Libertadores, o Mundial, sobe à primeira divisão nacional e transforma o são luiz no Inter-SM B!

Rodrigo Bender disse...

E o riogrnadense vira o Inter-SM C. Brincadeiras à parte, de fato, o estádio dos eucaliptos é um dos últimos com o estilo bem antigão. É uma pena que eles queiram fazer uma reforma radical pro centenário do time, ddaqui uns tres ou quatro anos!

Maurício Brum disse...

2015 Descoberta fraude bilionária nas contas do Interzinho. O clube é liquidado, os jogadores têm passe livre e a Baixada Melancólica é vendida ao Wal Mart.

(fechando a tag "maldade")

Anônimo disse...

Gostei do texto Maurício. Como sempre, aprendi alguns fatos interessantes. Continue...
Abraços,
ALB

Anônimo disse...

muuuito bom, o texto.!

as vezes eu penso em pedir pra tu não torcer mais pro mesmo time que eu, seu pé frio! [:P]

=*